Saída de Moro embaralha cenário para agenda de Guedes

Fontes da equipe econômica avaliam saída de Sergio Moro e as consequências para a agenda econômica de Paulo Guedes

24 abr 2020 - 16h02
(atualizado às 16h15)

A saída contundente de Sergio Moro do Ministério da Justiça com acusações de interferência política ao presidente Jair Bolsonaro embaralha o cenário para a agenda econômica de Paulo Guedes prosperar, em um momento já delicado por conta das pressões por gastos com o coronavírus, disseram duas fontes da equipe econômica à Reuters.

Ministro da Economia, Paulo Guedes, chega a coletiva de imprensa no Palácio do Planalto com o então ministro da Justiça Sergio Moro
31/03/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
Ministro da Economia, Paulo Guedes, chega a coletiva de imprensa no Palácio do Planalto com o então ministro da Justiça Sergio Moro 31/03/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

"Você enfraquece uma linha argumentativa que era a linha da resistência às velhas fórmulas políticas. Precisa ver se a resistência vai continuar ou se é a aproximação com os líderes do centrão", disse uma das fontes.

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Em meio às conversas com o centrão, o governo já havia aberto espaço para divulgação de um plano para retomada econômica com participação de investimentos públicos, embora Guedes siga integralmente comprometido com o impulso à atividade por meio de reformas e desburocratização para atração de investimentos privados. Nenhum integrante da equipe econômica participou do anúncio.

Os vultosos gastos com o combate à pandemia de covid-19 são vistos como essenciais pelo ministro para minorar o impacto social e econômico do surto, pelo entendimento de que esta é uma situação emergencial que demanda atuação do Estado.

"Agora, usar o momento pra fazer desenvolvimento já foi tentado e não deu certo, deu até impeachment. Então ninguém da equipe arrisca CPF. Ninguém", completou a fonte.

Uma segunda fonte da equipe econômica afirmou ser "muito difícil" avaliar neste momento como fica a perspectiva de curto prazo para a agenda econômica em meio às incertezas ligadas ao xadrez político.

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"Fala do Moro é muito forte. Deve gerar consequências", disse.

Em poucos dias, Guedes já havia enfrentado uma sucessão de reveses, a começar pela aprovação pela Câmara dos Deputados de um projeto de auxílio a Estados e municípios que abriu a porta para compensação integral pela União de perdas com arrecadação por conta da crise, independentemente do tamanho do buraco a ser coberto pelo Tesouro.

O texto teve a benção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o que esgarçou suas relações com Guedes, outrora amistosas por conta das convergências na pauta econômica.

A equipe econômica se empenhou para ajustar o texto no Senado, em articulação com o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ao mesmo tempo em que seguiu elaborando medidas para o enfrentamento à fase mais aguda da crise, algumas das quais ainda seguem em gestação, como o programa de auxílio ao crédito às médias empresas com garantias de fundo do BNDES.

O anúncio do chamado plano Pró-Brasil, apelidado nos bastidores de Plano Marshall, foi então recebido como uma nova bomba fiscal e como uma traição do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que antes de assumir a pasta era peça proeminente do time de Guedes.

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A percepção é que Marinho teria "girado a chave" com propósitos políticos, mirando beneficiar o Nordeste com a promoção de obras públicas. Marinho, que era secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, relatou a reforma trabalhista aprovada no governo do ex-presidente Michel Temer e tentou se reeleger sem sucesso deputado federal pelo PSDB no Rio Grande do Norte, em 2018.

Segundo a primeira fonte, a atuação de Marinho foi vista no alto escalão da equipe econômica como alinhada ao pensamento majoritário do centrão, num contexto de aproximação recente de Bolsonaro com parlamentares como o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), o presidente do PRB e primeiro vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP), e o deputado Arthur Lira (AL), líder do PP na Casa.

Agora, a saída conturbada de Moro adicionou volatilidade aos mercados e passou a alimentar entre economistas preocupações sobre o futuro do ministro da Economia.

A avaliação é que a agenda econômica ortodoxa, que já estava perdendo força em meio à crise da pandemia do coronavírus, tende a ficar ainda mais de lado no governo diante de esforços do presidente para se reposicionar politicamente.

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Antes mesmo da vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, Guedes teve encontros com Moro e foi um dos responsáveis por levá-lo ao governo, sondando-o a respeito da possibilidade de que assumisse a pasta da Justiça.

Enquanto Guedes era visto como o grande fiador de Bolsonaro junto ao mercado, ferrenho defensor de uma agenda econômica liberal, Moro era considerado maior símbolo do compromisso do governo com o combate à corrupção.

Nesta sexta-feira, Guedes cancelou compromissos em sua agenda pública. Procurado, o Ministério da Economia não se manifestou imediatamente.

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