Salles: Pandemia é "oportunidade" de mudar leis ambientais

22 mai 2020 - 18h50
(atualizado às 18h56)

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que a epidemia do novo coronavírus representa uma oportunidade para mudar pontos da legislação no país sem chamar a atenção e facilitar a exploração de terras hoje restritas pelas leis ambientais.

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente 
30/01/2020
REUTERS/Adriano Machado
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente 30/01/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

No vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, liberado para divulgação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello nesta sexta-feira, Salles diz que era preciso aproveitar "momento de tranquilidade", com a atenção da imprensa concentrada na Covid-19, para "ir passando a boiada".

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"Então para isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas", disse o ministro.

Salles citou mudanças de legislação relacionadas ao Patrimônio Histórico, dos ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente e outros. "Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação", acrescentou, pedindo que a Advocacia-Geral da União fique preparada para responder a possíveis ações judiciais.

Salles citou como exemplo uma mudança que fez na legislação que permitiu o uso do Código Florestal para compensação de desmatamentos, em vez da Lei da Mata Atlântica, de 1993. A mudança permitiria que desmatamentos feito até 2008 sejam anistiados e que áreas desmatadas até esse ano sejam consideradas como consolidadas, quando a legislação anterior usou o ano de sua publicação, 1993, como limite para o desmatamento e consolidação.

"Essa semana mesmo nós assinamos uma medida a pedido do ministério da Agricultura, que foi a simplificação da lei da Mata Atlântica, pra usar o Código Florestal. Hoje já está nos jornais dizendo que vão entrar com ações judiciais e ação civil pública no Brasil inteiro contra a medida. Então para isso nós temos que estar com a artilharia da AGU preparada pra cada linha que a gente avança", defendeu Salles.

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O ministro completa dizendo que não tem como fazer mudanças que precisam do Congresso em meio ao "fuzuê que está aí", mas é possível fazer outras mudanças.

"Agora tem um monte de coisa que é só parecer, caneta, parecer, caneta. Sem parecer também não tem caneta, porque dar uma canetada sem parecer é cana. Então... isso aí vale muito a pena. A gente tem um espaço enorme pra fazer", avaliou.

O Ministério do Meio Ambiente tem de fato feito alterações na legislação, incluindo a publicação de mudanças na estrutura do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, que reduziu as gerências regionais e retirou funcionários de carreira dos postos de chefia.

A porta-voz de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, Luiza Lima, disse em nota que a fala de Salles deixa claro o projeto do governo Bolsonaro de desmantelamento das condições de proteção ambiental do país.

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"Salles acredita que as pessoas morrendo na fila dos hospitais seja uma boa oportunidade de avançar em seu projeto antiambiental. Acredita que a ausência dos holofotes da mídia, devidamente direcionados para a pandemia, seria o suficiente para fazer o que bem entende. Mas não há espaço para ele "passar sua boiada", disse.

O Ministério do Meio Ambiente se recusou a comentar a declaração do ministro.

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