Antes de ser alvo da abertura de inquérito pelo Supremo Tribunal Federal, o agora ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles traçava planos para se candidatar a uma vaga de deputado estadual em São Paulo. Salles enxergava maior possibilidade de sucesso na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo e de maior protagonismo na política paulista do que numa eventual tentativa para obter uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Na eleição passada, Salles tinha tentado se eleger deputado federal pelo Novo e acabou ficando com a primeira suplência. Acabou se aproximando politicamente do presidente Jair Bolsonaro e entrou em rota de colisão com o Novo. Terminou sendo expulso da legenda.
Agora, se conseguir levar adiante seu plano político, Salles poderá optar por se filiar ao partido que Bolsonaro escolher se filiar. Mas existe grande possibilidade de se filiar ao PP, partido a que já pertenceu e onde mantém ligações políticas.
Em São Paulo, Salles possui fortes laços com o agronegócio e que pode ajudar a impulsionar sua campanha. Antes de entrar no grupo bolsonarista, Salles já fazia parte de movimentos políticos de direita e comandava o Endireita Brasil, de cunho conservador. Mas sempre foi muito próximo politicamente do ex-governador Geraldo Alckmin, de quem foi secretário particular e secretário de Meio Ambiente (na cota partidária do PP).
A demissão do ministério precipita em alguns meses o movimento que Salles calculava fazer apenas em abril, quando pretendia se desincompatibilizar do cargo para poder concorrer a Alesp. A ideia já era emplacar seu amigo e aliado Joaquim Pereira Leite, o Juca, como seu sucessor. Juca Leite, que foi conselheiro por 23 anos da Sociedade Rural Brasileira, também tem perfil ligado ao agronegócio e se tornou um auxiliar muito próximo de Salles. No Ministério, ocupava a Secretaria da Amazônia e de Serviços Ambientais. Mas também era o principal conselheiro de Salles para as questões de mercado de carbono.
Com o avanço das investigações do inquérito que trata do seu suposto envolvimento num esquema de venda ilegal de madeira, Salles acertou com Bolsonaro sua saída imediata. Até ontem, vinha cuidando normalmente de sua agenda, inclusive, mantendo encontros políticos em São Paulo, como aconteceu terça-feira em Ribeirão Preto. A tendência é que o ministro Juca Leite siga a linha de atuação de Salles, mas sem o desgaste político que o antecessor vinha sofrendo.