Segurança Institucional deve ter general no comando e manter controle da Abin

A ideia é evitar desgaste com as Forças Armadas, uma área sensível para o PT

3 dez 2022 - 07h06
(atualizado às 14h49)
O gabinete da transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez nomeações nesta sexta, 2
O gabinete da transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez nomeações nesta sexta, 2
Foto: Estadão Conteúdo/Mateus Bonomi

O gabinete da transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva nomeou nesta sexta, 2, cinco policiais federais e servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para o grupo de trabalho da área. O petista deve ainda manter o órgão sob o controle do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para o qual pretende indicar o general de divisão da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, o G. Dias, que coordenou a segurança de Lula na campanha. A ideia é evitar desgaste com as Forças Armadas, uma área sensível para o PT.

O grupo de inteligência da transição foi o último a ser formado. São dois nomes ostensivos - o delegado da Polícia Federal Andrei Augusto Passos Rodrigues e o agente da mesma corporação e pesquisador Vladimir de Paula Brito - e três de agentes da Abin indicados de forma sigilosa. O Estadão identificou todos eles.

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Rodrigues é o mais cotado para assumir a agência. Ele cuidou da equipe de agentes federais que fez a segurança do petista na eleição depois de ter desempenhado a mesma função na campanha de Dilma Rousseff (PT), em 2010.

As nomeações e estrutura discutidas, no entanto, desagradam aos funcionários da Abin, que desejavam que o órgão fosse dirigido por um agente de carreira, já que no governo Jair Bolsonaro a Abin esteve sob o comando de delegados da PF, entre eles Alexandre Ramagem, amigo da família do presidente e recém-eleito deputado federal pelo Rio. Também queriam a volta da agência para a Secretaria de Governo, onde esteve durante o governo Dilma.

Entre as nomeações sigilosas está a de Saulo Moura da Cunha, que foi adido no Japão e pode assumir a Abin caso Lula se decida por um funcionário de carreira. Os outros nomeados para a transição são os agentes Bruno Marques e Rinaldo Sandro Teixeira. Este último era coordenador da agência em Minas e seria próximo de Rodrigues. Já Marques foi coordenador-geral da Abin nos governos Michel Temer (MDB) e Bolsonaro, até 2020.

Quando deixou o cargo para disputar uma aditância, Marques teve a indicação barrada por razões políticas. É que na chamada "despetização" promovida por Bolsonaro o nome de Marques foi rejeitado, porque encontraram uma doação dele para um candidato do PT, em 2018. Na época, outros dois agentes foram barrados porque foram filiados ao PT e ao PCO antes de entrarem na Abin. Os três disputavam os cargos de adido policial em Nova Déli, Pequim e Berlim.

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Já o policial federal Brito é especializado em banco de dados e em inteligência de Estado e segurança. Fez mestrado sobre "o papel informacional dos serviços secretos" e tem doutorado em Ciência da Informação na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre desinformação, decepção e operações psicológicas no contexto das ações dos serviços de inteligência estatais.

Reunião

Agentes da Abin relataram ao Estadão que antes da formação do grupo de trabalho, a Intelis (associação de servidores da Abin) procurou integrantes do GT de Justiça para conversar, mas nenhum quis se pronunciar por não ter uma comissão formada sobre o tema. Conseguiram então uma conversa informal em Brasília há duas semanas com Rodrigues.

Na ocasião, pediram ao delegado que levasse ao gabinete da transição questões tidas por eles como essenciais, como a separação da Abin do GSI. Na opinião dos agentes, a inteligência brasileira não podia servir a interesses de militares e devia ser uma "inteligência civil". Eles temem que o bolsonarismo volte a contaminar a Abin se ela continuar em uma pasta comandada por militares. Também disseram que não queriam delegados da PF no comando.

Internamente, servidores da agência atribuem à cúpula bolsonarista, formada por Ramagem e delegados que fizeram a segurança de Bolsonaro em 2018, a criação da chamada "Abin paralela". Dizem também que o grupo fez pedidos de interesse de governo, não de Estado, como a produção de relatórios sobre malfeitos de prefeitos e governadores quando Bolsonaro enfrentava a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado. A Abin sempre negou a existência dessa cadeia de comando paralela no órgão.

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Clima de velório

Em resposta às demandas, Rodrigues, segundo os agentes, disse que a Abin continuaria no GSI e não há por que criar indisposição com militares neste momento. Os agentes deixaram a reunião em "clima de velório".

O Estadão procurou Aloizio Mercadante, um dos coordenadores da transição. Ele afirmou que, por enquanto, não se manifestaria sobre o grupo de inteligência. "Não tivemos nenhuma reunião formal da coordenação do grupo de transição com os profissionais da Abin, o que será feito mais adiante. Não há nenhuma definição, estamos iniciando um processo de diagnóstico dos ministérios, órgãos e autarquias", disse. A reportagem procurou também Rodrigues, que não quis se manifestar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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