O presidente Jair Bolsonaro começou um movimento de reatar conversas com lideranças de partidos do centrão no momento em que o governo atravessa uma fase crítica com a cúpula do Congresso em meio ao avanço da pandemia do novo coronavírus no país.
Na terça-feira, Bolsonaro conversou com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e na quarta com o presidente do PRB e primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcos Pereira (SP). O primeiro encontro constou da agenda oficial do presidente e o segundo foi confirmado por uma fonte.
Em reunião que constou da agenda oficial, o presidente ainda se reuniu na quarta com os líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB), e no Senado, Jorginho Mello (SC) - esse último fez parte da comitiva presidencial que no início de março foi aos Estados Unidos. Ele fez teste para covid-19, mas o resultado foi negativo.
A movimentação do presidente ocorre no momento em que a relação dele com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (AP), ambos do DEM, está esgarçada diante de ações do governo no combate ao coronavírus, em especial embates de Bolsonaro com o correligionário deles, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Não bastasse isso, o governo também tem uma série de medidas relacionadas ao enfrentamento do vírus que precisam de aval de deputados e senadores. Sem uma base parlamentar fechada, a atuação do presidente se concentrou até o momento no centrão, grupo de partidos que se tornou o principal eixo de poder no Legislativo.
Ainda assim, há quem desconfie desse movimento de Bolsonaro --pelo seu histórico de tenso relacionamento com o Congresso durante seus um ano e três meses de mandato.
Uma das lideranças que esteve com Bolsonaro confirmou à Reuters que há uma tentativa de aproximação do presidente com o Parlamento, embora não tenha dado detalhes do encontro que teve. Disse que o presidente vai chamar outras lideranças também.
O líder do PL no Senado disse, em sua conta no Twitter, que o encontro com o presidente teve como assunto a situação de Santa Catarina. "O presidente demonstrou estar atento à situação do nosso Estado em meio à pandemia. Nosso trabalho continua", afirmou.
Consultadas, lideranças do DEM e do MDB disseram reservadamente que ainda não tinham sido chamadas pelo presidente para conversar.
Uma delas afirmou que o movimento de Bolsonaro vem com um atraso de pelo menos três semanas, quando ficou claro para o país, segundo essa fonte, que o vírus é o "inimigo comum". Segundo esse interlocutor, ainda assim é importante que o presidente busque essa construção, porque o Brasil passa ao mesmo tempo por crises sanitária e econômica.
"Se pudermos evitar também uma crise política, uma tempestade perfeita, seria importante", disse. Para essa fonte, o presidente comprou "brigas erradas", ao trombar com o ministro da Saúde, os governadores e com o Congresso. "A hora é de união", ressaltou.