Silveira gravou conversas com Bolsonaro, diz deputado do PSL

Deputado Felício Laterça, do PSL-RJ, diz que deputado preso por ordem do STF o teria procurado para 'ganhar dinheiro' em atos de corrupção

23 fev 2021 - 04h11
(atualizado às 07h30)

BRASÍLIA - O deputado Felício Laterça (PSL-RJ) afirmou que seu colega Daniel Silveira (PSL-RJ) gravou clandestinamente conversas reservadas com autoridades, como o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ). "Ele era um gravador ambulante", disse Laterça ao Estadão nesta segunda-feira, 22. Segundo o parlamentar, Silveira também o procurou para "facilitar a vida de empresas" e "ganhar dinheiro na boa", em atos de corrupção.

 Imagens de arquivo do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que foi preso na terça-feira (16), no Rio de Janeiro (RJ) após divulgar vídeo atacando ministros do STF. O deputado foi preso em sua casa em Petrópolis (RJ), após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Os plenários do Supremo Tribunal Federal (STF), e da Câmara dos Deputados julgarão nesta quarta-feira (17), a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Fotografia produzida em 11/09/2020.
Imagens de arquivo do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que foi preso na terça-feira (16), no Rio de Janeiro (RJ) após divulgar vídeo atacando ministros do STF. O deputado foi preso em sua casa em Petrópolis (RJ), após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Os plenários do Supremo Tribunal Federal (STF), e da Câmara dos Deputados julgarão nesta quarta-feira (17), a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Fotografia produzida em 11/09/2020.
Foto: Saulo Angelo / Futura Press

Na madrugada deste domingo, dia 21, Laterça divulgou um vídeo em suas redes sociais em que faz acusações contra Silveira. Ele afirma que o próprio colega de partido revelou, numa conversa a sós, que tinha o costume de gravar pessoas secretamente, inclusive o presidente, num ato considerado "intolerável" no meio político de Brasília.

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"Ele me revelou que tinha feito algumas gravações, ele tinha esse mau hábito. Ele acabou gravando conversa de parlamentares dentro do ambiente da Câmara, se valendo disso para se autopromover. Ele disse para mim que também havia gravado o presidente da República", relatou Laterça, que é delegado licenciado da Polícia Federal (PF).

Laterça disse que as gravações secretas e a "proposta" de Silveira ocorreram em 2019. O deputado disse não saber detalhes como em que local Silveira gravou Bolsonaro. Afirmou, ainda,que não chegou a ouvir os áudios. Segundo Laterça, Silveira justificou que era uma forma de manter registro das conversas.

"Pelo jeito de ele agir, ele gravava os deputados. Disse que gravou conversa com o deputado Rodrigo Maia e outros deputados da base. Ele gravava as pessoas com as quais tinha divergência, começava a puxar assunto para ter algo em troca, acredito eu", observou.

Laterça disse que Silveira sugeriu que procurassem empresas em busca de vantagens e que usassem emendas parlamentares para "devolver grana".

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"Quando ele me fez a oferta, de repente estava me gravando para saber qual era a minha posição. Ele veio (dizendo) 'Rapaz, isso aqui tem como a gente ganhar dinheiro, mas ganhar dinheiro na boa'. Eu falei 'Como ganhar dinheiro na boa?'. (Ele disse) 'Não, procurar umas empresas…'", contou o parlamentar. "Eu apelidei isso de troco na troca. Deputados que colocam emenda em determinados lugares para que o gestor por meio da corrupção devolve parte do recurso público e ele também se enriquece indevidamente. Ele fez esse tipo de proposta. Não sei se estava me gravando para ter algo contra mim."

Laterça afirmou ter rechaçado as abordagens de Daniel Silveira. De acordo com ele, o colega estava procurando facilidades para empresas, mas não chegou a citar quais. "A minha resposta foi contundente: 'Eu não vou sujar minha história de vida, minha carreira'. Ele travou e não falou mais", disse.

O deputado diz que não tinha mais convivência com Silveira desde o fim daquele ano, quando a bancada eleita na onda Bolsonaro rachou. Os deputados fazem parte de alas divergentes no PSL desde então. Silveira é da bancada mais bolsonarista, enquanto Laterça possui trânsito na cúpula da legenda, com o presidente Luciano Bivar (PSL-PE). Ele é integrante da Executiva Nacional.

Em outubro de 2019, Silveira gravou e vazou áudios de uma reunião com bate-boca na bancada. Ele admitiu ter divulgado as gravações. Na ocasião, o então líder, Delegado Waldir (PSL-GO), ameaçou "implodir" o presidente Bolsonaro e o chamou de "vagabundo". Silveira disse ter agido para blindar o governo.

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Laterça disse que decidiu vir a público depois que a Câmara manteve Silveira preso para mostrar que ele não é "coitadinho" e para revelar o "caráter" dele. O parlamentar defende que o Conselho de Ética da Câmara, a ser reativado nesta terça-feira, 23, casse o mandato do colega de partido. "Ele não tem nada de coitadinho, muito pelo contrário. Além de tudo é mau caráter", disse Laterça. "Esse deputado não merece estar entre nós. Estamos tirando um bandido de circulação."

Segundo Laterça, Silveira usava celulares para fazer as gravações sigilosamente. Na última quinta-feira, dia 18, agentes apreenderam dois telefones encontrados na cela ocupada por Silveira na Superintendência da PF no Rio. Os aparelhos serão periciados por ordem do Supremo e podem conter os áudios.

De acordo com ele, Silveira já havia ameaçado "explodir" e "revelar" conversas reservadas, como a que teve com Maia. E que também registrava as noitadas dos deputados em boates.

Silveira é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF): o dos atos antidemocráticos e o das fake news. Na última terça-feira, dia 16, ele foi preso em flagrante por crime inafiançável, em Petrópolis (RJ), horas depois de veicular um vídeo com ameaças e xingamentos a ministros da Corte, além de apologia à ditadura militar. Os 11 ministros do Supremo concordaram com a ordem cautelar. Na sexta-feira, dia 19, a maioria da Câmara referendou a prisão: num placar de 364 votos favoráveis à prisão a 130 votos pela libertação.

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Silveira se disse arrependido, mas não convenceu os parlamentares. Ele segue preso no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, em Niterói (RJ). Daniel Silveira é ex-cabo da PM.

A assessoria de Silveira disse ao Estadão que a defesa só deve conseguir contato com o deputado nesta terça-feira, dia 23. O advogado de Silveira deve responder às acusações nesta terça-feira por meio de nota.

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