A presidente Dilma Rousseff (PT) evitou temas polêmicos em sua primeira agenda em São Paulo após a reeleição, nesta quarta-feira, e agradeceu “a cada um que lutou e se dedicou” pelo resultado que deu a seu partido mais quatro anos de governo. Dilma e cinco ministros de sua equipe se reuniram com representantes de moradores em situação de rua e de catadores de lixo reciclável na Expocatadores, no Centro de Convenções do Anhembi, na zona norte da cidade. A feira termina hoje e foi aberta na última segunda-feira com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na condição de “convidado especial”.
Mais cedo, no Congresso, houve confusão quando manifestantes foram impedidos de entrar para acompanhar a sessão sobre a mudança da meta de superávit do governo. No perfil oficial de Dilma no Facebook, um vídeo publicado hoje criticou a manifestação.
Apesar do agradecimento pela reeleição, Dilma registrou entre o eleitorado paulista a maior desvantagem numérica em relação ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno: o tucano obteve cerca de 7 milhões de votos a mais que a petista (15.296.289 votos contra 8.488.383) e venceu também na capital, com 63,8% contra 36,2% dos votos válidos.
No evento, Dilma oficializou o repasse de R$ 42 milhões à Prefeitura de São Paulo, via BNDES, para aprimoramento das centrais manuais de reciclagem. De acordo com o prefeito Fernando Haddad (PT), a medida deve ajudar na meta de reciclar até 2016 ao menos 10% de todo o lixo produzido na cidade.
“Temos cada vez mais que transformar as prefeituras em parceiras, temos que agradecer, elas fazem a diferença. Imaginem vocês a diferença que faz uma prefeitura de São Paulo, maior cidade da América Latina? O que dermos certo aqui, podemos levar para o mundo”, declarou a presidente, que afirmou estar na cidade para a feira, da qual participou em edições passadas, e para agradecer o resultado das eleições. “Não venho aqui para cumprir um compromisso qualquer, mas com um povo que sempre foi a parcela mais marginalizada do nosso País. E também para demonstrar que essa é uma página que todos nós juntos devemos virar – governo federal e a organização de prefeitos com tantos outros que têm (adiante) a construção de um caminho para que a população de rua e os catadores tenham uma vida cada vez mais digna”.
O evento serviu ainda para assinatura de um convênio entre o Ministério da Justiça e a Defensoria Pública para melhorar as condições de atendimento itinerante ao morador de rua – considerado público vulnerável, por exemplo, a atos de violência. O convênio, conforme a presidente, possibilitará que famílias em situação de rua sejam inscritas em um cadastro único que balizará programas assistenciais do governo.
Além de prefeitos de cidades que se destacam no País pela política de reciclagem, Dilma também homenageou os catadores ao classificar como “caminho exemplar” a trajetória da catadora Matilde Ramos, de Ourinhos (interior de SP), que, em 2006, participou na Baixada do Glicério, no centro de São Paulo, da primeira feira do setor ainda com o então presidente Lula. Matilde hoje coordena uma associação de recicladores local.
“Vocês são parte de uma proposta que, eu diria, é a proposta-mãe do governo: crescer garantindo inclusão, renda e também sustentabilidade. Para isso eu fui eleita”, discursou, após entregar diplomas a 11 catadores formados pelo Pronatec Pop Rua, uma das vertentes do programa federal de profissionalização da mão-de-obra.
Presidente lê cartazes e dá "bronca" por cobrança
Em seguida, a presidente deu uma espécie de bronca ao ler um cartaz de catadores com a mensagem “Ajude a Granja Julieta” (zona sul de SP). “Vocês têm que ajudar a Grande Julieta, não é só o governo. É fácil chegar aqui para mim e falar ‘presidente, resolve’, né? Vamos todo mundo pegar junto que fica mais fácil”, disse, olhando para as pessoas que seguravam os cartazes e para a área onde estava sentado Haddad.