Tanques nas ruas aumentam racha na base governista

Após desfile bélico, partidos se reúnem e Centrão apresenta maior divisão interna sobre PEC do voto impresso

10 ago 2021 - 15h21
(atualizado às 15h44)
Desfile de tanques e blindados da Marinha pela Esplanada dos Ministérios na parte da manhã desta terça-feira
Desfile de tanques e blindados da Marinha pela Esplanada dos Ministérios na parte da manhã desta terça-feira
Foto: Matheus W Alves / Futura Press

O desfile bélico na Praça dos Três Poderes, na manhã desta terça-feira, 10, serviu para aumentar o racha no Centrão sobre a proposta de emenda constitucional que institui o voto impresso nas eleições de 2022. Se na comissão especial da Câmara que derrubou a proposta, há cinco dias, já se podia verificar a divisão da base governista, depois que tanques se exibiram nos arredores do Congresso o quadro só piorou. A tendência é que o Palácio do Planalto sofra agora uma derrota maiúscula no plenário da Câmara.

Até mesmo o Progressistas, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL) e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, apresentava divisões. Antes da votação, vários deputados de partidos da esquerda à direita se reuniram e discutiram a importância de dar uma resposta "à altura" ao que classificaram como uma afronta ao Congresso.

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Lira também promoveu um encontro com líderes de bancadas na residência oficial da Câmara. Disse que o presidente Jair Bolsonaro havia lhe garantido que aqueles exercícios militares não tinham qualquer relação com a análise do voto impresso. Admitiu, no entanto que, com o clima polarizado, o ato acirrou os ânimos e jogou mais combustível na crise. "Mas o que é preciso, neste momento, é que não haja nem vencidos nem vencedores", afirmou Lira.

A ordem política para a Marinha desviar seus tanques e lançadores de mísseis para a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios, porém, partiu do próprio Bolsonaro e do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, como mostrou a colunista Eliane Cantanhêde.

No Congresso, antes mesmo da votação desta terça-feira, não eram poucos os que diziam ser necessário "deter" Bolsonaro, mesmo no Salão Azul, onde a bandeira do voto impresso ainda não chegou. "Não haverá voto impresso. Não haverá golpe contra a nossa democracia. Instituições, Congresso à frente, não permitiriam", disse o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM).

O Estadão apurou que o ministro Ciro Nogueira pediu a Bolsonaro para não esticar a corda, caso a proposta seja derrotada na Câmara, como tudo indica. Ciro defendeu a pacificação até mesmo para construir apoio a outras propostas de interesse do governo, como a reforma tributária.

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Jair Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa
Foto: Marcos Corrêa / PR

Quem conhece o chefe do Executivo, no entanto, assegura que ele não vai se calar, até mesmo porque, até 2022, há muito tempo para renovar as ameaças golpistas. E, além disso, o Planalto avalia que, mesmo sofrendo mais um revés, ganhou o discurso nas redes sociais e, de quebra, semeou uma dúvida na cabeça de eleitoreso sobre a idoneidade das urnas eletrônicas.

Nos últimos dias, Bolsonaro xingou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Roberto Barroso, de "filho da p..." por sua posição contrária ao voto impresso; acusou fraudes nas urnas eletrônicas sem apresentar quaisquer provas; afirmou que a "hora" do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) ia chegar e disse haver um "complô" para eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje líder nas pesquisas de intenção de voto, em 2022.

"Vamos votar contra o voto impresso, tirar isso da frente e cuidar do que é importante para o Brasil. E o que é importante para o Brasil é vacina, emprego, comida, combate à inflação e retomada da indústria", insistiu o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), em campanha pela derrota do governo na votação desta terça-feira.

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