"O PSDB desses caras não é o meu PSDB", diz Tasso

Senador foi destituído por Aécio do comando do partido

9 nov 2017 - 20h27
(atualizado em 10/11/2017 às 08h03)

Horas após ter sido destituído do comando interino do PSDB por Aécio Neves (MG), o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou nesta quinta-feira que a decisão do colega tucano "fortifica" sua candidatura ao comando do partido.

Senador Tasso Jereissati fala com governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, durante reunião do PSDB em Brasília 
12/6/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino
Senador Tasso Jereissati fala com governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, durante reunião do PSDB em Brasília 12/6/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

"O PSDB desses caras não é o meu PSDB", disse Tasso em entrevista coletiva, repetindo o mantra do discurso dos últimos dias para marcar o que chama de "diferenças profundas" em relação a Aécio.

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O senador pelo Ceará fez um relato da conversa que teve mais cedo com Aécio que determinou sua saída do comando da legenda. Segundo Tasso, o colega foi ao seu gabinete para defender que ele entregasse a presidência do partido por considerar que era preciso haver "equidade" na disputa pelo comando do PSDB.

Na véspera, Tasso, lançou-se candidato a presidente do partido e terá, ao menos até agora, a concorrência do governador de Goiás, Marconi Perillo, que, apoiado por Aécio, colocou seu nome na disputa. A eleição está marcada para o dia 9 de dezembro.

Aécio alegou, segundo Tasso, que não seria justo ele concorrer ao posto dirigindo interinamente a legenda. Ele alegou também, conforme o relato, que estava sendo "muito pressionado" a tomar essa decisão.

Tasso afirmou que Aécio não estava sendo sincero ao usar esses argumentos e disse-lhe que preferiria que ele o afastasse do cargo a fim de as diferenças ficarem "bem nítidas".

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Em seguida, segundo Tasso, o colega foi embora do seu gabinete, enviando depois um ofício comunicando que havia assumido o partido novamente e decidido nomear Alberto Goldman, o mais velho dos oito vice-presidentes da legenda, para comandar o processo de sucessão da legenda.

Tasso disse ter recebido telefonemas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mostrando-se surpresos com a decisão de Aécio.

"Ele (Aécio) não está pensando no coletivo do partido há muito tempo, desde que está agarrado na presidência", disse Tasso, que assumiu o cargo em maio, após vir à tona o envolvimento de Aécio com a delação da J&F. "Se tivesse pensado no coletivo, isso não teria acontecido hoje", protestou, ao suspeitar que houve interferência do governo Michel Temer nessa decisão.

Alckmin, que busca ser o candidato do PSDB à Presidência da República em 2018, foi econômico nas palavras, mas criticou a mudança determinada por Aécio. "Eu não fui consultado e se fosse teria sido contra, porque não contribui para a união do partido", disse o governador paulista.

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Decisão necessária

Em rápido pronunciamento à imprensa no Senado, Aécio Neves defendeu sua decisão, classificando-a de "legítima e necessária". Para ele, a iniciativa vai garantir a "isonomia" da disputa. "Portanto essa decisão é absolutamente normal, com absoluta serenidade e ouvido os setores do partido", afirmou.

Aécio disse estar preocupado com o fato de o PSDB sair da agenda de "vanguarda" para se limitar a uma disputa interna. Ele não quis responder a questionamentos da imprensa sobre as afirmações de Tasso.

Em Brasília, o novo presidente interino do partido, Alberto Goldman, afirmou que não cabe a ele "opinar" sobre a decisão de Aécio. Ele disse que na véspera foi chamado pelo senador mineiro para ir à capital do país e ele "intuiu" que pudesse ser tomado nesse sentido.

"A mim cabe apenas ler o que está escrito e responder o que está escrito e o papel meu será exatamente esse, nesses 30 dias que têm pela frente, o equilíbrio na disputa, se ela se concretizar", disse Goldman. Ele também não quis falar sobre um eventual desembarque do PSDB do governo --quando da eclosão do escândalo da J&F chegou a pedir a saída imediata de Temer.

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O presidente do PSDB de Minas, deputado federal Domingos Sávio, ligado a Aécio, defendeu a destituição determinada pelo senador mineiro, em conversa com a Reuters. Para ele, embora não acreditasse que Tasso iria usar o cargo para favorecer a sua candidatura, o fato do senado do Ceará se manter no comando do partido até a disputa criaria um "mal estar".

"É bom para o próprio Tasso, para o Marconi e para o partido", avaliou. "É importante se ter um nome fora da eleição para que, ao final da disputa, não saia dois partidos", completou ele, que estava no Palácio do Planalto e disse não ter sido avisado previamente da decisão do aliado.

O deputado Daniel Coelho (PSDB-PE) criticou duramente a decisão de Aécio. "A atitude dessa intervenção ela, além de ser imoral, ela falta ao respeito e à dignidade", protestou ele, em pronunciamento no plenário da Câmara. Ele disse que ser informado da destituição de Tasso pela imprensa passa de "todos os limites".

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