O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou nesta segunda-feira, 12, que a primeira-dama Michelle Bolsonaro não será convocada para prestar esclarecimento à comissão. A mulher do presidente Jair Bolsonaro foi citada pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti em mensagens que tratam de uma negociação por doses da vacina da Astrazeneca contra o coronavírus.
"Não, não vamos convocar. Tem muita gente que tira proveito para mostrar intimidade com poder. Tem que ter muito cuidado com isso", disse Aziz ao Estadão. "Até porque, se não, a gente entra no joguinho do Bolsonaro (do tipo) 'Estão mexendo com minha família, minha esposa é uma santa'. A gente se antecipa logo para não misturar as coisas e ser diferente dele", completou o presidente da CPI.
A existência de um diálogo citando o nome de Michelle foi revelada pela revista Veja e confirmada pelo Estadão. "Michele (sic) está no circuito agora. Junto ao reverendo (Amilton). Misericórdia", disse Dominguetti no dia 3 de março a um interlocutor identificado como Rafael. "Quem é? Michele Bolsonaro?", pergunta Rafael. Ao que o PM de Minas respondeu: "Esposa sim".
Para Aziz é necessário cautela. "É preciso responsabilidade para se chegar à verdade e não se precipitar em apontar o dedo antes de se ter provas do envolvimento de qualquer pessoa nos crimes que afloram nas investigações", escreveu ele no Twitter.
O reverendo citado no diálogo de Dominghetti é Amilton Gomes de Paula, fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), organização não governamental que negociou, em nome da AstraZeneca, vacinas contra a covid com o governo federal. A AstraZeneca nega que tenha intermediários e diz que negocia diretamente com o governo brasileiro por meio do laboratório da Fiocruz. O Rafael que aparece na mensagem é Rafael Alves, representante da Davati Medical Supply.
Amilton tem depoimento à CPI agendado para quarta-feira, 14, mas apresentou um atestado médico e pediu adiamento.
O nome do reverendo apareceu pela primeira vez na CPI durante o depoimento de Dominghetti, que também se apresentou como representante da Davati e disse ter participado de reuniões agendadas no Ministério da Saúde por intermédio de Amilton. O PM afirmou que se encontrou com o coronel Élcio Franco, então secretário-executivo do ministério, e Lauricio Monteiro Cruz, então diretor de imunização da pasta, por intervenção do reverendo.
O deputado Luís Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, o servidor Luis Ricardo, haviam dito à CPI que o então diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, fazia pressão para que a compra da vacina indiana Covaxin fosse acelerada. O negócio previa uma antecipação de pagamento de US$ 45 milhões para uma offshore. Dias foi demitido depois, acusado por Dominghetti de pedir propina para fechar negócio com vacinas da AstraZeneca.
A um interlocutor identificado como "Rafael Compra Vacinas" - depois identificado como Rafael Silva, da Davati - Dominghetti também citou, no dia 16 de março, o presidente Bolsonaro e o reverendo Amilton ao falar da negociação de vacinas com o governo. "Ontem, o Amilton falou com Bolsonaro, ele falou que vai comprar tudo", disse o policial em mensagens reveladas depois que ele entregou o celular para perícia técnica.