Temer pode não resistir às próximas denúncias de Janot, diz amigo do presidente

Para o consultor político Gaudêncio Torquato, recesso parlamentar colocará deputados em contato com suas bases, que devem pressioná-los pela saída do peemedebista; procurador-geral deve acusar presidente de mais dois crimes.

12 jul 2017 - 13h13
(atualizado às 14h08)
Câmara analisa se denúncia contra Temer pode prosseguir
Câmara analisa se denúncia contra Temer pode prosseguir
Foto: BBC News Brasil

Amigo de Michel Temer há 30 anos, o consultor político Gaudêncio Torquato diz acreditar que o presidente consegue sobreviver à iminente votação na Câmara que pode levar ao seu afastamento, mas tem dúvidas se ele resistirá a novas denúncias.

"O grande teste será enfrentado por ocasião da votação da denúncia na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e no plenário. O governo tende a passar pelo primeiro teste, seja porque ele substituiu alguns dos deputados na comissão, seja porque ainda tem alguma força", afirmou Torquato à BBC Brasil.

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"A minha dúvida, e o meu receio, é que nas próximas (denúncias) talvez os deputados já achem mais difícil não aprovar."

A CCJ da Câmara dos Deputados discute nesta semana a primeira denúncia feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente. Ele é acusado de corrupção passiva sob suspeita de ter recebido propina do empresário Joesley Batista, da JBS, através do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.

Como a abertura de uma ação penal teria como consequência o afastamento de Temer, é preciso que a Câmara autorize a investigação antes de o assunto ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal. Caso ambos autorizem o processo, o peemedebista se tornaria réu e ficaria afastado por até 180 dias para o julgamento.

A expectativa é que Janot apresente mais duas denúncias contra Temer - por obstrução de Justiça e organização criminosa - antes do fim de seu mandato na Procuradoria, em setembro.

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Para Torquato, essas eventuais novas ações seriam mais difíceis para o presidente, já que no recesso os deputados voltam a entrar em contato com suas bases, que devem pressionar pela queda de Temer.

Se a votação da primeira denúncia não for feita antes do recesso, que começa na terça, há o risco de Temer cair até mesmo neste primeiro momento, avalia o consultor político.

"Eles voltarão depois de ter tido esse contato, e como o presidente é impopular junto à base, vai haver uma pressão muito forte para que haja alguma mudança."

Torquato, que havia dito que operações da Polícia Federal não iriam derrubar o governo se a economia estivesse bem, diz que reconsiderou sua opinião. "Ficou mais grave para o governo, mesmo com a economia melhorando."

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Consultor político durante todo o processo que levou Temer ao Palácio do Planalto, ele diz que não tem conversado com o amigo nos últimos meses. "Não quis incomodá-lo, ele está com muita gente aconselhando. Estou observando à distância."

A cúpula

O grupo informal que o consultor e professor da USP havia montado para aconselhar o presidente - com nomes como o historiador Marco Antonio Villa e o cientista político Rubens Figueiredo - desidratou em dezembro passado.

"Não tinha mais clima. Nessa altura, a crise é tão grande que não dá tempo de dar sugestões", diz Torquato.

Rodrigo Rocha Loures é pivô do escândalo que pode derrubar Temer
Foto: BBC News Brasil

E ele não é único amigo que não mais tem estado próximo ao presidente. Outras pessoas de seu círculo pessoal também acabaram afastadas, mas por outros motivos. Rocha Loures e o advogado José Yunes, que chegaram a ser presos recentemente, são exemplo disso.

Já os braços direitos de Temer no Planalto, os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil), aceleraram o passo, se encontrando com o maior número de deputados possível nas últimas semanas para garantir uma votação favorável na Câmara.

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Boa parte do ministério, no entanto, não estaria assim tão preocupada com uma eventual mudança, de acordo com duas pessoas ligadas ao governo - nomes como Mendonça Filho (Educação) e Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) continuariam num eventual governo de Rodrigo Maia (DEM), que assumiria a Presidência interinamente caso Temer seja afastado.

Para alguns partidos da base aliada que ainda mantém ministérios, uma administração Maia seria um desgaste menor - é o caso do PPS, segundo um nome importante do partido.

A legenda ameaçou desembarcar quando o escândalo envolvendo Temer veio à tona. O então ministro da Cultura, Roberto Freire, deixou o cargo, mas Raul Jungmann (Defesa) acabou continuando no posto.

A aprovação da Reforma Trabalhista no Senado, na terça, será apresentada com uma prova de força de Temer - o que teria dado um novo gás aos deputados governistas.

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Para Torquato, o governo está muito mais forte do que a imprensa "faz parecer".

"Quando você lê as coisas, vê que a gravidade é aumentada na mídia. A imprensa derrubou o governo há muito tempo, enquanto na realidade ele continua com força", critica ele.

Na semana passada, Torquato disse no Twitter que o clima pessimista de blogueiros o faziam ter vontade de se desligar das redes sociais.

"Seja qual for o desfecho, a crise política não vai terminar, porque o quadro para 2018 é conturbado", conclui.

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