Depois de acenar a ele na semana passada com a exoneração de adversários internos, o governador do Rio, Wilson Witzel, demitiu nesta quarta-feira, 3, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão. Tido como braço direito do mandatário no governo, o assessor era criticado por integrantes da própria administração e por deputados da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Tristão também é peça central na investigação do Ministério Público que apura um suposto esquema de corrupção na Saúde em meio à pandemia da covid-19.
A exoneração, publicada em edição extra do Diário Oficial nesta manhã, é uma forma de se aproximar dos deputados que pedem em massa o impeachment do governador. O presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), vem dando sinais de que dará abertura ao processo. O principal desgaste se deu na semana passada, quando Witzel exonerou o secretário de Casa Civil, André Moura, responsável pela interlocução com a Alerj e adversário interno de Tristão no governo.
Na sessão desta terça-feira, deputados de diferentes ideologias, incluindo o presidente, criticaram abertamente o governador e o agora ex-secretário - Tristão chegou a ser chamado de "governador em exercício" por Thiago Pampolha (PDT).
Também foi criticada a tentativa de oferecer diversas secretarias do Executivo a deputados, no que foi considerado por Ceciliano um desrespeito ao parlamento. Pragmático, o petista já chegou a ser considerado aliado de Witzel, mas tem cada vez mais manifestado insatisfação com o mandatário.
Os deputados estaduais listaram os problemas pelos quais a gestão Witzel vem passando, como a investigação do Ministério Público sobre corrupção na Saúde e a reprovação das contas do governo pelo Tribunal de Contas. Em meio a isso, há ainda a instauração de uma comissão especial para analisar os contratos emergenciais firmados durante a pandemia.
Neste cenário, a exoneração de Tristão foi o mais claro aceno de Witzel aos deputados na tentativa de se manter no cargo. Nesta manhã, o governador também decretou intervenção na organização Iabas, responsável por gerir sete hospitais de campanha anunciados para o combate ao coronavírus - só um deles foi entregue, e de modo parcial. Os contratos emergenciais com a empresa estão no foco das acusações do MP sobre o esquema de corrupção na Saúde.
Clima na Alerj ainda é de insatisfação
Mesmo com a saída de Tristão, o clima ainda é de insatisfação na Alerj, por haver um cenário em que o governo é jogado nas cordas por diferentes fatores. "Exonerar Lucas Tristão é o mínimo, mas não afasta os crimes de responsabilidade cometidos. O que está feito, está feito. Os atos de improbidade foram praticados pelo governador. O impeachment deve continuar. O povo do Rio não aceitará que acabe em pizza", afirmou o deputado Chicão Bulhões (Novo), cujo pedido de impeachment incluía o nome de Tristão.
No início desta tarde, o governador divulgou um vídeo à imprensa em que diz ter descoberto que 500 aparelhos comprados pela organização social não são respiradores, mas "carrinhos de anestesia", que não poderiam ser utilizados nos hospitais.
"Não podemos continuar com erros, eles precisam ser corrigidos. A Fundação Estadual de Saúde assume para concluir as obras, operar o sistema e deixar um legado. Esses hospitais de campanha serão muito importantes para a reabertura da economia, para gerar empregos e, principalmente, para ajudar no futuro com cirurgias eletivas", disse.
A briga entre governo e Iabas será judicializada. Witzel afirmou que está colaborando com as investigações. Na semana passada, ele teve três celulares e três computadores apreendidos pela Polícia Federal. O governador disse ainda que deve anunciar a reabertura econômica do Estado no próximo fim de semana, mesmo com o Rio tendo registrado ontem 224 mortes pela covid-19 em 24 horas.