Tucano bolsonarista, governador eleito em MS diz que aceita trabalhar com Lula

'Nós temos que despersonalizar um pouquinho as questões políticas e focar nos resultados', afirma Eduardo Riedel

28 nov 2022 - 17h10

Escolhido pela população do Mato Grosso do Sul em um segundo turno apertado entre dois bolsonaristas, o governador eleito Eduardo Riedel (PSDB) acredita que a polarização política pode arrefecer em 2023. Passada a disputa, o tucano afirma que aceita trabalhar com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em busca de uma agenda de desenvolvimento do País clara e compartilhada com os Estados, dentro de critérios de responsabilidade fiscal.

CAMPO GRANDE MS NACIONAL ELEICOES 20220 EDUARDO RIDEL Eduardo Riedel votou ao lado da famíla FOTO EDUARDO RIEDEL TWITTER
CAMPO GRANDE MS NACIONAL ELEICOES 20220 EDUARDO RIDEL Eduardo Riedel votou ao lado da famíla FOTO EDUARDO RIEDEL TWITTER
Foto: Reprodução Twitter/Eduardo Riedel / Estadão

Representante do agronegócio, Riedel afirma que inclui nesse cardápio políticas de preservação dos biomas, com redução do desmatamento e balanço de carbono. "Não vejo essas questões como antagônicas", afirmou.

Em entrevista exclusiva ao Estadão, o pecuarista Riedel diz que uma parte do agronegócio falha em sua forma de se comunicar e que é preciso ajustar o discurso tendo em vista a confluência de mesmos objetivos. "Resguardar a integridade dos biomas para biodiversidade e fazer o balanço de carbono são as grandes agendas do mundo globalizado e o Mato Grosso do Sul tem já uma agenda muito clara que envolve a energia renovável, boas práticas na agropecuária e programas de incentivo fiscal vinculados à eficiência de emissão de carbono", disse.

A expectativa, de acordo com o governador eleito, é a de trabalhar com Lula dentro de uma relação de respeito e baseada em uma agenda que ele entende ser a necessária para o Mato Grosso do Sul. "Sob esse ponto de vista, ele (Lula) terá o meu apoio e também a minha cobrança. Nós temos que despersonalizar um pouquinho as questões políticas e focar nos resultados."

Integrante de uma ala menos radical do bolsonarismo, Riedel diz acreditar que a polarização não foi e não é boa para o País. Segundo o tucano, ela pode arrefecer a partir de 2023, caso Lula estabeleça um governo com propostas claras e de responsabilidade fiscal.

"Em cima disso vamos ter discussões políticas e ideológicas. Para mim, por exemplo, o ajuste fiscal do Estado é muito importante. Você pode debater, numa emergência, deixar o social fora do teto de gastos por um ano. É uma decisão do Congresso Nacional, mas não concordo em dar um salvo conduto de quatro anos para o governo colocar o Bolsa Família e outras dobrinhas orçamentárias fora do teto."

Com ou sem teto, Riedel não defende que o PSDB se posicione neste momento sobre o governo Lula. "Defendo cautela. Seremos parceiros nas agendas que forem importantes para o País. Mas entendo que a gente não deve nos assumir como base. Essa é a minha opinião pessoal."

Sobre o PSDB, o governador eleito diz que o partido não alcançou uma boa expressão no Congresso e que, por isso, deve pensar em uma nova junção, seja por meio de uma confederação, seja a partir de uma fusão. No seu caso, porém, o partido foi essencial, diz Riedel.

"(O PSDB) Me ajudou muito, até pela musculatura que temos no Estado que já governamos. Dos 79 municípios, temos quase 40 prefeitos e outros 17 vice-prefeitos. Conseguimos angariar uma expressão política muito forte, mas o PSDB vive uma crise interna, diante da polarização, e até uma perda de identidade. Então, fui também muito criticado aqui, até por ser do agronegócio."

Lançado pelo atual governador, Reinaldo Azambuja, o então secretário de governo deixou claro desde o início que apoiaria Bolsonaro na eleição presidencial. Foi o único candidato do PSDB a assumir tal postura publicamente, mas nem por isso levou todos os votos do bolsonarismo no Estado. Seu adversário, Capitão Contar (PRTB), chegou a receber uma declaração de apoio do presidente e passou ao segundo turno na primeira colocação.

"Bolsonaro teve 60% dos votos no Estado. Acho que esses outros 40%, que representa a esquerda, entenderam que eu era um candidato de mais fácil diálogo e de um conteúdo programático mais assertivo em relação à agenda que não é de esquerda nem de direita. E o meu adversário não tinha consistência no discurso. Era só o contra tudo e contra todos. Minha agenda trouxe para o debate questões relacionadas ao meio ambiente e à proteção de terras indígena juntamente com o desenvolvimento do agronegócio", afirma.

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Ridel venceu Capitão Contar no segundo turno da disputa mato-grossense
Foto: Reprodução/Facebook / Estadão
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