A renúncia do ex-deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) por conta do suposto envolvimento dele no chamado mensalão tucano ainda causa desconforto aos principais nomes do PSDB em Minas Gerais. O assunto foi o tema principal da entrevista coletiva concedida na manhã desta quinta-feira pelo presidente nacional da sigla, senador Aécio Neves, e o deputado federal Marcus Pestana, presidente estadual da legenda no Estado.
Aécio, Pestana e o governador Antônio Anastasia (PSDB) participaram do lançamento da pré-candidatura ao governo de Minas Gerais do ex-ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, Pimenta da Veiga. O evento aconteceu no ginásio do clube Mackenzie na região centro-sul de Belo Horizonte e teve a participação ainda de outros políticos da legenda e militantes. A convenção que vai confirmar o nome do tucano ao Palácio Tiradentes será em junho.
Perguntado se a renúncia de Azeredo é positiva para o partido, Aécio respondeu que a decisão do também ex-governador mineiro "é de foro íntimo e precisa ser respeitada”. “Eduardo Azeredo é conhecido e reconhecido, inclusive em especial por nós mineiros, como um homem de bem e ele terá a oportunidade de apresentar a sua defesa e esperamos todos nós que ele possa ser absolvidos", avaliou. O senador foi perguntado ainda se Azeredo vai participar da campanha dele à presidência e de Pimenta da Veiga ao governo de Minas Gerais: "Sobre este assunto eu já falei o que tinha de falar. Não sei te dizer," respondeu.
O pré-candidato Pimenta da Veiga negou que a renúncia de Azeredo, apontada pelo PT como uma manobra do ex-deputado para fugir do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), provoque constrangimento ao partido e à campanha dele: "Não temos nenhum constrangimento, até porque o que há por enquanto são acusações. Os tribunais vão decidir sobre o assunto. Nós temos um grande respeito e apreço pelo ex-deputado Eduardo Azeredo e, portanto, nós não temos nenhuma dificuldade em falar e enfrentar o assunto." Questionado pelo fato de Azeredo não ter comparecido ao lançamento da campanha dele, Pimenta afirmou que "ele é permanente convidado, mas, foi uma decisão pessoal.”
Pimenta da Veiga disse ainda que o PSDB está à disposição caso Azeredo procure a legenda: "O que ele nos disse é que ele pretende dedicar todo o seu tempo à defesa da sua honra, portanto, se ele requisitar alguma coisa, vamos examinar.” O deputado Marcus Pestana também afirmou que Azeredo foi convidado para participar do lançamento da chapa Todos por Minas: "todos os deputados foram", disse.
O ex-ministro das Comunicações terá como principal adversário na sucessão de Anastasia o ex-ministro do Desenvolvimento no governo Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Pimentel, que teve a pré-candidatura lançada pelo ex-presidente Lula na semana passada, em um evento na capital mineira. Para o senador Aécio Neves, Pimenta da Veiga foi uma indicação que uniu o PSDB mineiro e que terá como missão também importante ajudá-lo na campanha à presidência da República.
"São duas caminhadas casadas. Pimenta da Veiga é o candidato, a partir de agora, da grande aliança que vem governando com extraordinários resultados Minas Gerais há 11 anos. Ele é o candidato de consenso dessas pessoas que têm demonstrado enorme responsabilidade para com Minas Gerais e nós não vamos permitir que em Minas Gerais o desgoverno, o aparelhamento da máquina pública que ocorre hoje no governo federal venha para o nosso Estado," prometeu.
Essa caminhada "precisa ter em Minas Gerais o seu bastião mais sólido e com Pimenta da Veiga, com a presença desse extraordinário homem público que é o governador Antônio Anastasia, com as lideranças do nosso partido político, eu tenha a absoluta convicção que mais uma vez venceremos em Minas e agora venceremos também no Brasil," disse.
O mensalão mineiro
O processo conhecido como mensalão mineiro investiga possíveis desvios de dinheiro público durante a campanha do hoje deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG) quando era candidato à reeleição ao governo de Minas Gerais em 1998. Segundo a Procuradoria Geral da República (PGR), o então candidato teria se beneficiado de recursos procedentes de um esquema que envolveu a empresa de publicidade SMP&B, de propriedade do publicitário Marcos Valério, condenado a Ação Penal 470, o processo do mensalão, por fatos semelhantes. De acordo com a procuradoria, R$ 3,5 milhões foram desviados de empresas estatais mineiras para a campanha.
Segundo a denúncia, o esquema desviou recursos públicos das empresas estaduais Copasa (R$ 1,5 milhão), Comig (R$ 1,5 milhão) e do antigo Banco Estadual do Estado, o Bemge (R$ 500 mil).
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em dezembro de 2009 pela aceitação da denúncia contra Azeredo. A Corte decidiu que apenas réus com foro privilegiado responderiam às acusações no STF, e determinou o desmembramento do processo para que 14 envolvidos respondessem às acusações na Justiça de Minas Gerais. Após o desmembramento, somente Eduardo Azeredo e o senador Clésio Andrade (PMDB-MG), então candidato a vice-governador na chapa tucana, são processados no STF.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF a condenação do deputado tucano a 22 anos de prisão pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. O procurador pediu também que seja imposta uma multa de R$ 451 mil ao parlamentar.