O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou sobre "implosão do partido" após o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, elogiar Luiz Inácio Lula em entrevista dada no final de dezembro.
Na ocasião, o presidente do PL afirmou que "Lula não tem comparação" e que o presidente petista "tem prestígio e popularidade", sendo "conhecido por todos os brasileiros", enquanto "Bolsonaro não".
Em uma conversa com seus apoiadores hoje em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Bolsonaro contestou a declaração de Valdemar. Ao ser indagado sobre sua confiança na força do PL nas eleições municipais, o ex-presidente criticou os comentários do líder de seu partido.
"Tudo na vida puxa um pouquinho para vida familiar de cada um de nós. Problemas têm. Essa semana tive um problema sério, não vou falar com quem. Se continuar assim, vai implodir o partido. Pessoa do partido dando declaração absurda, como 'o Lula é extremamente popular'. Manda ele tomar um [cachaça] 51 ali na esquina ali. [Lula] Não vem", disse.
Entenda o caso
Em entrevista ao jornal regional O Diário, da região de Mogi das Cruzes e do Alto Tietê, Valdemar disse que Lula tem "prestígio" e Bolsonaro, "carisma".
"Lula não tem comparação com Bolsonaro, completamente diferente. O Lula tem muito prestígio, não o carisma que Bolsonaro tem, mas tem popularidade, é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro, não, pois tem um mandato só", afirmou.
A entrevista foi concedida ao jornalista Darwin Valente em 15 de dezembro de 2023 e o trecho no qual Valdemar elogia o presidente repercute nas redes sociais nesta sexta-feira, 12. Valdemar Costa Neto fez o paralelo entre os presidentes ao ser questionado sobre a diferença entre Lula e Bolsonaro.
"O Lula foi bem no governo, até elegeu a Dilma depois", disse Valdemar. "Se ele (Lula) errou em alguma coisa, tinha que ser julgado dentro da lei. O Moro errou, pois superou os limites da lei", afirmou o ex-deputado federal, afirmando que o ex-juiz Sérgio Moro, hoje senador do Paraná União Brasil, buscava projeção política para um projeto pessoal de se candidatar à Presidência. "Ninguém imaginava que o Moro queria ser presidente da República", disse o dirigente do PL.
Procurado, Valdemar reclama que a parte em que elogia Bolsonaro não consta no trecho que viraliza nas redes sociais e diz que não poderia faltar com a verdade sobre Lula. "Eu não ia falar uma mentira sobre o Lula, senão eu perco a credibilidade. É uma verdade: ele foi tão bem no governo que elegeu a Dilma. Tem gente da direita que não se conforma com isso, mas eu não posso falar mal de um presidente do qual participamos do governo", disse Valdemar Costa Neto ao Estadão.
De 2003 a 2010, o vice-presidente de Lula foi José Alencar, então no PL. O Partido Liberal incorporou, em 2006, o Partido de Reedificação da Ordem Nacional, o Prona, e passou a se chamar Partido da República (PR). A legenda permaneceu com esse nome até 2019, quando voltou a se chamar Partido Liberal.
Sobre "não haver comparação" entre Lula e Bolsonaro, o presidente do PL diz que não fazia um juízo de valor sobre os feitos das gestões. Segundo Valdemar, ele falava a respeito de dois tipos distintos de prestígio: o de Lula, líder com "popularidade", e de Bolsonaro, que tem "carisma". "Não existe no planeta Terra, hoje, um camarada com o carisma de Bolsonaro", afirmou o dirigente.
Lula tinha que ser julgado 'dentro da lei', diz Valdemar
De acordo com Valdemar Costa Neto, Lula foi condenado por um juiz que "superou os limites da lei" para "aparecer" e, agora, "irá pagar caro por isso". "Ele foi candidato a presidente, mas viu que não deu certo, caiu fora e foi candidato a senador", disse Costa Neto na entrevista ao jornal O Diário, relembrando a pré-candidatura frustrada de Moro à Presidência. Procurado pelo Estadão, Moro disse que não comentaria as declarações.
"Quer dizer: ele fez tudo aquilo pensando em ser presidente da República", afirmou Valdemar sobre a conduta do ex-juiz na Operação Lava Jato, ponderando que, agora, o preço a se pagar é ter o mandato cassado. O ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro é investigado por abuso de poder econômico nas eleições de 2022.
O espólio de Moro já é discutindo entre dirigentes partidários do Paraná. A cassação do ex-juiz diz respeito à campanha para o cargo, e não ao exercício do mandato. Dessa forma, o destino do senador está nas mãos do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) e, se a cassação for confirmada, haverá nova eleição para senador no Estado. O próprio PL de Valdemar, além do PT, discutem seus candidatos para o eventual pleito.