Um dos donos do laboratório Labogen, Leonardo Meirelles, afirmou nesta quarta-feira, no Conselho de Ética da Câmara, que o deputado federal André Vargas (sem partido-PR) intermediou o contato entre a empresa e o Ministério da Saúde, para encaminhar um projeto de parceria na produção de medicamentos. Meirelles disse ter sido apresentado ao parlamentar pelo doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal, e classificou a atuação do deputado como "técnica".
Para a Polícia Federal, a Labogen era uma empresa usada por Youssef para um esquema de lavagem de dinheiro, que teria movimentado R$ 10 bilhões em dez anos. André Vargas responde a um processo no Conselho de Ética por ter viajado em um avião pago pelo doleiro e pela suposta prática de tráfico de influência junto ao Ministério da Saúde, para a empresa fechar uma parceria na produção de cloridrato de sidenafila. A pasta cancelou a parceria após a operação da PF.
“Foi o André Vargas (quem fez o contato com o ministério)”, respondeu o dono da Labogen, que chegou a ser preso pela Operação Lava Jato. “Levei o projeto, mostrei a ele e dentro disso houve um encaminhamento para a Secretaria de Insumos Estratégicos do ministério. (…) Foi extremamente técnico”, disse.
O depoente disse ter encontrado o parlamentar em diferentes ocasiões na Câmara dos Deputados, mas que nunca esteve com ele no Ministério da Saúde. “Toda discussão com o André Vargas sempre foi pela agenda positiva da saúde do País”, acrescentou a testemunha, que não assinou termo em que se comprometeria a falar apenas a verdade.
Em abril, quando era vice-presidente da Câmara, André Vargas disse em discurso que conhecia Alberto Youssef havia 20 anos como sendo um empresário de sua cidade, Londrina (PR), e que o orientou “na forma da lei” como proceder para fechar uma parceria com o governo, mas negou ter ido ao Ministério da Saúde para fazer a intermediação. Em diálogos interceptados pela Polícia Federal, Youssef diz a Vargas que o contrato valeria a "independência financeira" dos dois.
No Conselho de Ética, Meirelles negou ser um laranja e que o doleiro seja sócio da empresa. Disse ter comprado a empresa em 2008, com um passivo de US$ 54 milhões. Segundo o proprietário, a decisão da compra ocorreu após obter informações de um futuro promissor na política de produção de medicamentos. “Eu tinha algumas informações de que haveria mudanças na legislação”, disse, sem revelar a fonte.
Questionado, o dono do laboratório confirmou que Youssef utilizou as contas da empresa, mas se negou a responder perguntas sobre supostas operações ilegais de câmbio.
Outro sócio fica calado
Outro sócio da Labogen arrolado como testemunha, Esdra Ferreira respondeu apenas duas perguntas do relator Julio Delgado no Conselho de Ética: nome e escolaridade. Ele também negou ter conhecido André Vargas. Orientado pelo advogado, não falou nem mesmo se trabalhava na Labogen, informação antes confirmada por Leonardo Meirelles, e qual era seu emprego anterior.
Segundo informações divulgadas após a Operação Lava Jato, Esdra era frentista antes de ser levado para a Labogen. Na empresa, segundo Meirelles, a testemunha ganha R$ 12 mil por mês no laboratório.
Relator vê tráfico de influência
O relator do processo, deputado Julio Delgado (PSB-MG), disse que está claro que houve tráfico de influência no contrato fechado com a Labogen. "Deixa claro que há um tráfico de influência. Só falta confirmar quem é o responsável por esse tráfico, quem fez essa intermediação via Alberto Youssef para a Labogen ter essas vantagens no governo federal", disse.
Delgado considerou a sessão satisfatória, mas considerou que, pelas respostas, as testemunhas estavam instruídas para defender André Vargas. "O Esdra é laranja. Não tem menor conhecimento nem condição de ser sócio de uma empresa que movimenta milhões", disse.