A articulação do presidente Jair Bolsonaro para se filiar ao Patriota e controlar diretórios estratégicos deflagrou uma guerra entre correligionários do mesmo partido. O presidente da legenda, Adilson Barroso, já promoveu duas convenções com o objetivo de abrir caminho para a filiação de Bolsonaro, mas uma ala que diz ter a maioria da Executiva contesta a validade dos encontros.
Integrante desse grupo, o vice-presidente do Patriota, Ovasco Resende, convocou nova convenção para o próximo dia 24 - a terceira, em menos de um mês -, a fim de debater, entre outros temas, a conveniência de o partido ter candidato próprio à Presidência. Segundo Resende, Bolsonaro está exigindo o comando dos diretórios do Patriota em São Paulo, Rio e Minas Gerais, os três maiores colégios eleitorais do País.
Desde que deixou o PSL, em novembro de 2019, o presidente procura uma sigla para abrigar sua candidatura a um novo mandato, em 2022. Tentou montar o Aliança pelo Brasil, mas a empreitada não deu certo. Apesar da disputa no Patriota, Bolsonaro está disposto a se filiar ao partido e vai se reunir no fim desta quarta-feira, 16, com deputados do seu grupo no PSL. A ideia é discutir com os aliados como será a migração para o Patriota. Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) foi o primeiro a se filiar ao partido presidido por Barroso, que agora tem o poder contestado Resende e seu grupo.
Egresso do antigo PRP, o vice-presidente do Patriota classificou o processo para filiar Bolsonaro à legenda como desrespeitoso. "Sou dirigente partidário e hoje estou sendo tratado como um convidado. É falta de respeito e de verdade", afirmou Resende, que era presidente do PRP. Em março de 2019, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou a incorporação do PRP ao Patriota.
O dirigente relatou uma conversa que teve com Flávio, poucos dias após convenção do partido. "Ele nos disse que querem ter o comando de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Precisamos ver como vai ser composto esse diretório. Hoje tenho 100% do diretório de São Paulo e do Rio também. Minas é o deputado federal Fred Costa", lembrou Resende. Líder do partido na Câmara, Costa também não quer ceder a seção mineira da legenda para a família Bolsonaro.
Justiça
As mudanças promovidas no estatuto do Patriota para permitir o controle do partido por aliados bolsonaristas ainda são alvo de contestação na Justiça. Agora, o grupo de Resende também quer discutir na nova convenção, marcada para o dia 24, em Brasília, "possíveis sanções" a atos praticados por Adilson Barroso.
Na última convenção do Patriota, realizada no dia 14 em Barrinha, no interior paulista, Flávio externou a preocupação do presidente sobre a disputa no partido. Disse que Bolsonaro não iria "cortar a cabeça de ninguém", mas precisava de "segurança jurídica" para se filiar.
Adilson Barroso nega irregularidades apontadas pelo grupo de Resende, como mudanças no estatuto sem quórum qualificado e desligamento compulsório de dirigentes. Na prática, Barroso pretende fazer uma intervenção para mudar o comando de diretórios estaduais, com o objetivo de abrigar o grupo político de Bolsonaro. "É uma benção termos o presidente no partido", disse ele ao Estadão. A expectativa do presidente do Patriota é que Bolsonaro dê uma resposta sobre a filiação no máximo até a próxima terça-feira, 22. /COLABOROU CAMILA TURTELLI