'Posso ajudá-lo?': veja como são treinados vigilantes dos estádios da Copa

8 abr 2014 - 06h32
(atualizado às 06h36)

"Olá senhor, tudo bem? Seja bem-vindo! Posso ajudá-lo? Seu lugar é por aqui." É assim que os seguranças contratados para trabalhar nos estádios da Copa do Mundo irão recepcionar os torcedores que forem a jogos do Mundial no Brasil. Uma função nova, tanto para eles, quanto para os brasileiros frequentadores dos campeonatos nacionais, que não estão acostumados com esse tipo de serviço nas arquibancadas.

A reportagem da BBC Brasil acompanhou um dia de treinamento dos seguranças que estão se preparando para atuar na Copa do Mundo. Ele é obrigatório para todos os vigilantes que vão trabalhar nos estádios do Mundial e dura cinco dias. Mas engana-se quem pensa que nesse curso são ensinadas técnicas de combate, lutas ou uso de armas, bala de borracha e gás lacrimogêneo.

Bem diferente disso, os seguranças frequentam a sala de aula e estudam matérias como "gerenciamento de público", "resolução e situação de emergência", "estatutos do torcedor", "estatuto do idoso", entre outras teorias. Na parte prática, os vigilantes aprendem táticas para conter tumultos com o uso moderado da força.

Tudo isso para capacitar os seguranças a serem os "stewards" da Copa - uma espécie de segurança e atendente ao mesmo tempo. Na Europa, o uso desses profissionais nos jogos de futebol é comum, mas por aqui, tanto nos torneios regionais, como no Campeonato Brasileiro ou na Copa do Brasil, é raro ver vigilantes privados trabalhando nos estádios.

A Polícia Militar é quem costuma cuidar da segurança e dos eventuais conflitos entre torcedores ou qualquer outro tipo de distúrbio nas arquibancadas.

Mas para seguir o padrão da Fifa na Copa do Mundo, o país precisou criar a nova função e treinar os vigilantes privados para exercê-la. Os stewards substituirão a polícia nas arquibancadas e assumirão duas tarefas principais: a de recepcionar os torcedores, auxiliando os que precisarem de algum tipo de ajuda, e a de conter possíveis tumultos ou confusões.

Serão 25 mil stewards distribuídos pelos 12 estádios da Copa do Mundo para trabalhar em cada um dos 64 jogos do Mundial. Por partida, o efetivo desses "seguranças" da Fifa pode variar entre 700 a 1200 profissionais.

Cartazes e diálogos

É tarefa deles também recolher cartazes de cunho político, social ou até racista. Mas eles deverão fazer isso sempre por meio do diálogo e da cordialidade, sem fazer uso da força.

"Não é um comportamento de confronto, é um comportamento de relacionamento, de atendimento ao espectador, você mostra regras de conduta", explicou o gerente de segurança do Comitê Organizador Local (COL), Hilário Medeiros à BBC.

A Polícia Militar também estará presente no estádio, distribuída em pontos estratégicos, mas será acionada somente se a situação fugir do controle dos stewards.

"A Polícia vai ter um grupo de pessoas para o controle do distúrbio. Ela está dentro do estádio também, mas a função dela vai ser de polícia mesmo, caso haja algum problema", esclareceu Hilário.

O treinamento para formar um steward da Copa foi criado após a lei de 2012 que determina que todos os seguranças que trabalharem em jogos, festas ou shows que tenham um público acima de 3 mil pessoas precisam fazer um curso especial de "segurança para grandes eventos".

"A legislação não foi feita para a Copa do Mundo. Ela já entrou em vigor para qualquer evento de mais de 3 mil pessoas, isso é um legado no quesito de segurança privada que a Copa está deixando", explicou o gerente de segurança, Hilário Medeiros.

Ao iniciar o curso, a grande preocupação dos futuros stewards é saber se serão respeitados como "autoridade" nos estádios pelos torcedores brasileiros mesmo não portando nenhum tipo de armamento - como os cassetetes da Polícia.

"Eles chegam com a visão time de futebol aqui no Brasil, onde nós temos as torcidas organizadas que praticamente se digladiam. Então, no primeiro momento, eles dizem: 'pô, os caras vão vir pra cima de mim, o que é que eu vou fazer? Como a gente se comporta?'", disse à BBC Brasil o instrutor de um dos cursos de segurança para grandes eventos ministrado em São Paulo, Odélio de Almeida.

"Então o que nós temos que fazer aqui com eles? Tirar aquela visão mais truculenta do homem de segurança como elemento de bloqueio, de prisão, de captura e colocar na cabeça dele que la ele estará pra ajudar, para servir", completou.

A Copa das Confederações, em junho passado, foi a primeira experiência do público brasileiro com stewards.

Oportunidade

Muitos vigilantes também estão buscando a especialização em grandes eventos para poderem ganhar mais uma área de atuação. Eles têm a esperança de que a "moda" dos stewards pegue também no futebol brasileiro nas competições regionais e nacionais e gerem mais oportunidades após o Mundial.

Alguns dos estádios da Copa das Confederações, como o Maracanã e o Mineirão, já começaram a utilizar o serviço dos stewards em jogos locais.

Para José Jacobson Neto, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo, as empresas de segurança acreditam que os stewards treinados para a Copa têm grandes chances de conseguirem empregos nos jogos do Campeonato Brasileiro após o Mundial.

"A gente acredita que será criado um novo nicho de mercado para os vigilantes que trabalharem como stewards depois da Copa", disse.

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