'Praça de guerra' em Curitiba vira atração turística

Local que foi palco de forte repressão policial contra professores grevistas atraiu turistas da cidade e até de outros Estados nesse sábado

3 mai 2015 - 08h59

De cenário de guerra a atração turística: em 72 horas, foi esse o destino das imediações da Assembleia Legislativa do Paraná, no último sábado (2), a uma leva de curiosos que buscou ver de perto as marcas da repressão praticada na última quarta-feira pela Polícia Militar contra professores estaduais.

Na briga, mais de 200 pessoas ficaram feridas por estilhaços de bombas de efeito moral e balas de borracha usadas pela Polícia Militar para dispersar os manifestantes – a maior parte, professores. Eles tentavam acompanhar a segunda e última votação do projeto do Executivo que estabeleceria novas regras para a previdência dos servidores. A matéria passou com 31 votos a favor e 20 contra.

Publicidade

Em frente à Assembleia, cartazes com mensagens de repúdio à violência empregada pela PM ainda tomavam os portões e as estátuas dos jardins externos. Além das faixas com críticas ao governador Beto Richa (PSDB) e ao secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Francischini, os nomes dos 30 deputados que votaram a favor do Executivo foram colados com as respectivas fotos em crucifixos de madeira espalhados por uma rotatória da avenida Cândido de Abreu, acesso principal ao Centro Cívico da capital paranaense.

No Centro Cívico de Curitiba, placas de protesto contra deputados e contra repressão da PM viram atração de turistas e curiosos
No Centro Cívico de Curitiba, placas de protesto contra deputados e contra repressão da PM viram atração de turistas e curiosos
Foto: Janaina Garcia / Terra

A reportagem do Terra conversou com visitantes que disseram ter ido ao local com a família para ver de perto o que só haviam conhecido pela imprensa. Boa parte do material afixado nas estátuas, muros e grades havia sido colocado por estudantes, durante ato em apoio aos professores, na última quinta-feira (29), e pelos manifestantes que saíram em protesto no 1º de Maio trajando preto – com o mote “Menos bala e mais giz”.

“Eu acompanhei pela mídia o que aconteceu e achei tudo lamentável. Um País se constrói pela qualidade da educação que oferece, e o que eu vi me deixou revoltado”, relatou o aposentado Antonio Alves do Nascimento, 65 anos, de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo). Sua filha, a professora de educação especial Fernanda Alves do Nascimento, 36 anos, classificou as cenas de uso da força policial como “descaso e desrespeito” do governo em relação aos professores.

“Eu me senti super abusada com o que vi, porque estamos em uma profissão em que trabalhamos nem tanto pelo salário, porque o reconhecimento é mínimo, mas nos empenhamos para ver um resultado que reflita depois na sociedade”, declarou Fernanda, que completou: “Sem professor o País não anda, e categoria tem mesmo é que se unir e se fazer ecoar. Temos muita vos, isso não pode ficar assim”, considerou.

Publicidade

Bacharel em direito em Curitiba, Alan Patrick, 32 anos, também foi com a família visitar as áreas onde houve o protesto e a repressão de quarta-feira.

A família do bacharel em direito Alan Patrick foi ao local ver as faixas e as marcas deixadas pela quarta-feira passada
Foto: Janaina Garcia / Terra

“Eu tive um sentimento mesmo de catástrofe e de muita revolta com tudo o que vi – não fossem os professores, não estaríamos aqui hoje; inclusive os deputados”, destacou. Para a mulher de, a assistente

A assistente administrativa Patrícia Baia, 36 anos, as cenas do dia 29 foram “absurdas, uma completa humilhação para o povo”. “No fim, os que mais saem perdendo são os que estão em sala, porque precisam de aula... tenho uma filha que estuda na escola estadual e está sem aula; o ano está quase na metade e ela praticamente não teve praticamente nada. A situação está muito complicada”, ponderou.

Em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo, o mastro da bandeira do Paraná que havia sido pintado com impressões digitais vermelhas no protesto da véspera – como forma de se lembrar dos feridos do dia 29 – foi repintado na cor original: branco. Também o espelho d’água, que fora tingido de vermelho, nas mesmas circunstâncias, na véspera, teve a água substituída.

Publicidade

“Eles limparam o mar vermelho de tinta, mas tem outra imagem que eles nunca vão tirar, que é daqui da cabeça. Essa não sai, e essa que eu vou repassar na sala de aula”, definiu a professora de ensino fundamental estadual Carla Stiegler, 37, de Prudentópolis. Ela esteve na quarta-feira no protesto, e, ontem, fez questão de levar os filhos e o marido ao local.

Faixas com críticas ao governador Beto Richa foram espalhadas pelo Centro Cívico nos últimos dias
Foto: Janaina Garcia / Terra
Fonte: Terra
TAGS
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações