'Preço de aeroporto'? Inflação dispara em 2021 e deve ser a maior desde governo Dilma, prevê mercado

Inflação oficial do país, medida pelo IPCA, deve superar 7% em 2021, se ficar neste nível, será a maior taxa desde 2015

23 ago 2021 - 16h40
(atualizado às 17h07)
Inflação disparada levou brasileiros a compararem preços do comércio de rua com 'preços de aeroporto'
Inflação disparada levou brasileiros a compararem preços do comércio de rua com 'preços de aeroporto'
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A percepção de aumento dos preços no Brasil multiplicou, nos últimos dias, as postagens em redes sociais que comparam valores encontrados em mercados e comércio de rua com preços salgados cobrados em lojas de aeroporto. 

"Tá parecendo que tudo tá com preço de aeroporto", escreveu um usuário do Twitter.

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"A gente não pode ir ao aeroporto, o aeroporto vem até a gente", ironizou outro.

Alimentos, conta de luz, gasolina e botijão de gás estão entre os vários itens cujos preços dispararam no Brasil nos últimos meses.

Os dados de inflação do ano até aqui e as projeções para os próximos meses mostram que não é apenas uma sensação pontual dos consumidores: a inflação hoje é persistente e está disseminada.

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E o Brasil deve ter, neste ano, a maior inflação desde 2015, segundo economistas do mercado financeiro.

A estimativa é que a inflação oficial do país - medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) - termine o ano em 7,11%, segundo os cálculos de analistas do mercado financeiro divulgados pelo Banco Central.

Esse é o dado mais recente do Boletim Focus, publicado nesta segunda-feira (23/8), com levantamento feito com mais de cem instituições financeiras na semana passada.

Nos últimos meses, a estimativa dos analistas só tem crescido: esta é a vigésima semana consecutiva em que a projeção de inflação para 2021 tem alta, segundo o Boletim Focus.

O dado mais recente divulgado pelo IBGE mostra que, no mês passado, o IPCA teve a maior alta (0,96%) para um mês de julho desde 2002. No ano, a alta acumulada é de 4,76% e, nos últimos 12 meses, de 8,99%.

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Todas as regiões pesquisadas pelo IBGE apresentaram alta em julho. E, entre os grupos de produtos e serviços pesquisados, a maior alta está em habitação - afetada pelo aumento da energia elétrica.

No ano passado, a inflação medida pelo IPCA foi de 4,52%, o maior índice desde 2016. O resultado foi influenciado principalmente pelo aumento nos preços dos alimentos.

Mais caro para quem?

Apesar de o Brasil passar por uma alta inflacionária generalizada, as famílias mais pobres vêm sofrendo um aumento de preços maior do que as famílias mais ricas.

Em julho - dado mais recente disponível -, a taxa de crescimento dos preços foi maior para a classe de renda muito baixa (1,12%) em relação à observada para o grupo de renda alta (0,88%).

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Alta de preço de alimentos pesou principalmente para brasileiros mais pobres
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em 12 meses, a taxa foi de 10,05% para as famílias mais pobres e de 7,11% para as mais ricas, segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda.

Esse indicador divide as famílias brasileiras em seis faixas de renda e avalia como a inflação afeta, mês a mês, cada um desses grupos. De acordo com a classificação da pesquisa, as famílias de renda muito baixa são as que têm ganho domiciliar menor que R$ 1.650,50. E as famílias classificadas como de renda alta são aquelas cujo ganho domiciliar é superior a R$ 16.509,66.

Ao analisar o comportamento dos preços nos últimos 12 meses (até julho), o relatório aponta que houve uma alta inflacionária generalizada.

Para as pessoas com renda mais baixa, pesou mais o aumento de alimentos no domicílio, energia elétrica e do gás de botijão.

No mesmo período, para as famílias de renda alta, pesou mais o reajuste dos combustíveis, das passagens aéreas e dos aparelhos eletroeletrônicos.

Juros

Em agosto, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu a inflação alta - "número grande" - e disse que o governo estava tomando medidas. Ele citou a independência do Banco Central e o aumento da taxa de juros.

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Dias depois, citou a fé como instrumento para superar problemas da economia.

"O povo tem sofrido com isso, tem inflação, tem desemprego, tem dias realmente angustiantes. O que eu posso dizer aos senhores com fé, com vontade, com crença, nós podemos superar esses obstáculos", disse, em cerimônia na Assembleia de Deus no Pará.

´Bolsocaro´: grupo que não se identificou fez campanha contra disparada nos preços no país
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A inflação prevista para o fim do ano tem ficado cada vez mais distante da meta central do governo em 2021 - que é de 3,75%, com um intervalo de tolerância de 2,25% a 5,25%.

Para tentar levar a inflação para esse intervalo, o Banco Central pode elevar a Selic, taxa básica de juros da economia.

No início de agosto, diante da disparada de preços no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar a Selic para 5,25% ao ano. Foi a quarta elevação consecutiva da taxa em 2021 e já é esperado outro aumento na próxima reunião, que acontecerá em 21 e 22 de setembro.

Embora o aumento do juros possa controlar o aumento disseminado de preços na economia, ele também tem potencial de gerar outras consequências.

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Entre eles, estão o aumento nos juros praticados pelos bancos, o aumento das despesas com juros da dívida pública e um impacto negativo no consumo da população - o que, por sua vez, afeta o emprego e a renda.

É por isso que a inflação em um cenário de baixo crescimento é ainda mais desafiadora para a autoridade monetária - e, principalmente, para a população.

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