Prefeitos questionam Bolsonaro sobre coronavírus e ameaçam ir à Justiça responsabilizá-lo

27 mar 2020 - 12h54

A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) enviou ofício ao presidente Jair Bolsonaro, nesta sexta-feira, no qual faz questionamentos sobre o as críticas dele às restrições adotadas por cidades para conter o avanço do coronavírus e afirma que, a depender das respostas, irá à Justiça pedir que o presidente seja responsabilizado pelas consequências.

Ministro da Casa CIvil, Walter Souza Braga Netto, retira placa com nome do presidente Jair Bolsonaro de mesa antes de apresentação sobre coronavírus em Brasília
25/03/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
Ministro da Casa CIvil, Walter Souza Braga Netto, retira placa com nome do presidente Jair Bolsonaro de mesa antes de apresentação sobre coronavírus em Brasília 25/03/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

O documento indaga se o governo federal assumirá a responsabilidade pelo sistema de saúde caso as medidas de isolamento sejam revogadas, e afirma que o governo federal tem adotado um posicionamento "dúbio" em relação à pandemia, solicitando uma resposta rápida do presidente às perguntas.

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"A depender da resposta do governo federal ao presente ofício, pois o posicionamento até o momento tem sido dúbio e gerado insegurança na população, não restará outra alternativa aos prefeitos se não recorrer à Justiça brasileira com pedido de transferência ao presidente da República das responsabilidades cíveis e criminais pelas ações locais de saúde e suas consequências", afirma o ofício.

O documento faz ainda uma série de perguntas a Bolsonaro sobre seu posicionamento contrário às medidas de restrição de circulação, que são defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a disseminação da Covid-19, doença causada pelo coronavírus e que já tem 2.915 casos confirmados no Brasil, com 77 mortes, segundo dados do Ministério da Saúde.

"O governo federal orienta os entes subnacionais a suspender imediatamente as restrições de convívio social? Caso positivo, por meio de qual instrumento oficial?", indaga a FNP no ofício a Bolsonaro, antes de perguntar, também, se eventual revogação das restrições será acompanhada de "diálogo federativo para a construção de uma estratégia para concretizar tal medida".

A FNP perguntou ainda quais são as evidências científicas que levaram o governo ao que chamou de "mudança repentina de posicionamento", já que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu em encontro com prefeitos as medidas de restrição, em consonância com orientações da OMS, mas passou a criticá-las depois de Bolsonaro atacá-las em pronunciamento em cadeia nacional nesta semana e em declarações públicas.

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"Caso o governo federal suspenda a contenção social, o que poderá levar ao colapso do Sistema Único de Saúde (SUS), o governo federal assumirá todas as responsabilidades da atenção básica, média e alta complexidades, incluindo todos os atendimentos? Como estaremos na contramão do que indica e recomenda a OMS, o governo federal assumirá as responsabilidades de todo o atendimento à população?", questiona a entidade.

No ofício, a FNP defende ainda que a crise gerada pela pandemia exige "serenidade e atendimento a determinação constitucional de harmonia federativa".

Procurado, o Palácio do Planalto não respondeu a um pedido de comentário sobre o ofício enviado pela FNP.

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