Presa há 1 mês na Rússia, brasileira pede consumo consciente de petróleo

1 nov 2013 - 20h13
(atualizado às 20h17)
<p>Na carta, datada de 23 de outubro, Ana Paula também pede que as pessoas salvem o Ártico</p>
Na carta, datada de 23 de outubro, Ana Paula também pede que as pessoas salvem o Ártico
Foto: Igor Podgorny/Greenpeace / Divulgação

A ativista brasileira do Greenpeace Ana Paula Maciel, 31 anos, detida há quase dois meses na Rússia acusada de vandalismo, divulgou nesta sexta-feira uma carta na qual pede que a população reflita sobre o consumo desenfreado de petróleo. “Quantos produtos derivados de petróleo você usou nesse último mês?”, questiona a ativista na carta.

“Creio que não estariam indo procurar petróleo no Ártico se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais preocupados em ser do que ter, usaríamos menos petróleo, a natureza estaria sob menores riscos, os protestos pacíficos não seriam necessários, eu não estaria presa injustamente”, diz a brasileira.

Publicidade

A Rússia acusou nesta sexta-feira formalmente de vandalismo 30 tripulantes do navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, detidos após um protesto numa plataforma de petróleo no Ártico, mas ainda não retirou as acusações de pirataria. A organização informou também que o grupo foi transferido de Murmansk para São Petersburgo.

Segundo o Greenpeace, os ativistas presos, em contato direto apenas com advogados e diplomatas, têm tido poucas chances de se comunicar com o mundo externo. Quando isso acontece, as comunicações com a família têm sido priorizadas.

Na carta, datada de 23 de outubro, Ana Paula também pede que as pessoas “salvem o Ártico”. “Consumam menos para serem mais, usem sacolas reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem produtos com menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros. Você não é o seu telefone celular, ele não diz nada sobre suas virtudes, você não precisa do último modelo. Separe o lixo, recicle, conserte o que quebrar em vez de comprar outro, informe-se”, escreveu.

Ela também agradeceu ao governo brasileiro pelos esforços que tem feito por sua liberdade. “Clara Solon, da embaixada do Brasil na Rússia é quase uma segunda mãe para mim. Tem sido impecável em suas visitas, presença na corte, apoio psicológico e tudo o que está a seu alcance”, disse.

Publicidade

Veja a carta de Ana Paula na íntegra:

Queridos leitores,

Me chamo Ana Paula e sou um dos 30 ativistas presos aqui na Rússia. Hoje faz um mês que nos retiraram de nosso amado navio Arctic Sunrise e, depois de dois dias em uma cadeia, três em outra, agora estou sentada em minha cela na penitenciária para onde nos trouxeram dia 29 de setembro. Tudo isso depois de um protesto pacífico onde queríamos chamar a atenção do mundo sobre os perigos de danos ambientais ao perfurar em busca de petróleo no Ártico.

Um mês que nossas vidas pararam, aqui sozinhos, tive tempo pra parar e pensar e lhes pergunto, caros leitores: quantos produtos derivados de petróleo você usou nesses último mês? Derivados de petróleo são usados para fabricar muitas coisas e, sendo “coisas” consumíveis, sofrem sob o efeito “procura e demanda” que as pessoas ávidas pelo consumo compram, utilizam e descartam com uma rapidez sem precedentes nos dias de hoje.

Nosso planeta, o que chamamos de casa, o único que conhecemos com vida, está em crise e precisamos fazer algo individualmente, todos os dias. Creio que não estariam indo procurar petróleo no Ártico se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais preocupados em ser do que ter, usaríamos menos petróleo, a natureza estaria sob menores riscos, os protestos pacíficos não seriam necessários, eu não estaria presa injustamente...

Publicidade

Nem tenho palavras para agradecer a todas as pessoas que se importam e que clamam por nossa liberdade. Gostaria de agradecer especialmente o apoio do governo e do povo brasileiro que têm se mostrado incansáveis em seu suporte pela minha liberdade. Clara Solon, da embaixada do Brasil na Rússia é quase uma segunda mãe para mim. Tem sido impecável em suas visitas, presença na corte, apoio psicológico e tudo o que está a seu alcance.

Gostaria de fazer um apelo ao mundo e aos que se importam: Salvem o Ártico! Consumam menos para serem mais, usem sacolas reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem produtos com menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros. Você não é o seu telefone celular, ele não diz nada sobre suas virtudes, você não precisa do último modelo. Separe o lixo, recicle, conserte o que quebrar em vez de comprar outro, informe-se. Existem tantas mil pequenas ações que podem ser feitas todos os dias para salvar o Ártico, a Amazônia, os recifes de corais e todo o resto. Basta escolhermos bem o que comprar. Nós todos e cada um de nós somos responsáveis pela mudança!

Promete que vai tentar. E eu vou saber que esse mês presa não foi em vão.

Com amor, Ana.

Publicidade
Fonte: Terra
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações