Respeitado pela tropa, "durão" e experiente é como colegas definem o general de Exército Walter Souza Braga Netto, que assume o comando da segurança pública no Estado do Rio de Janeiro após o decreto do presidente Michel Temer determinando uma intervenção federal.
Com a decisão de Temer, anunciada nesta sexta-feira, toda a cadeia de comando das forças de segurança fluminenses passa a responder a Braga Netto, atual líder do Comando Militar do Leste (CML). O interventor passa a controlar a Polícia Civil, a Polícia Militar, os bombeiros e administração penitenciária. Já o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Roberto Sá, entregou o cargo.
As críticas de comandantes militares à atuação das Forças Armadas na segurança pública não são novas - e muitas foram feitas abertamente.
A falta de treinamento específico para ações de policiamento é um dos motivos. Outro motivo, que foi exposto por um general durante uma palestra na Vila Militar recentemente, é que muitos no alto comando consideram que o poder público civil tem lançado mão das Forças Armadas como cortina de fumaça, sem que o Estado "entre junto no morro" com ações de infraestrutura que poderiam efetivamente consolidar uma situação de paz.
O próprio general Braga Netto afirmou, no ano passado, que vê "com reservas" a atuação das Forças Armadas nos esforços de estabilização da segurança pública urbana.
Durante uma palestra em agosto de 2017 no Centro Cultural Justiça Federal, o militar afirmou que as operações do tipo Garantia de Lei e Ordem (GLO) têm alguma eficácia, mas um alto custo financeiro, social, logístico e até mesmo psicológico para as Forças Armadas e seriam desnecessárias se os Estados tivessem políticas de segurança pública mais eficientes, segundo reportagem veiculada no portal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).
Nesta sexta-feira, durante entrevista coletiva sobre a intervenção federal no Rio, o general afirmou que não tinha nada a adiantar sobre quais seriam suas ações práticas como interventor.
"Eu recebi a missão agora. Nós vamos entrar numa fase de planejamento. No momento, não tenho nada que eu posso adiantar para os senhores. Vamos fazer um estudo, vamos conversar com todos. E nossa intenção é fortalecer ainda mais o sistema de segurança do Rio de Janeiro, para voltar a atuar conforme merece a população carioca", afirmou Braga Netto, que responde apenas ao presidente Michel Temer.
O interventor não terá qualquer controle sobre outras áreas da administração fluminense. Nem sobre outros poderes - as atividades do Ministério Público Estadual, por exemplo.
Experiência no Rio
O conhecimento do terreno, para Braga Netto, não será um problema. No Exército desde 1975, o general atuou no Rio durante grande parte da sua carreira. Ele foi comandante do 1º Regimento de Carros de Combate, quando ainda estava instalado em solo carioca. Braga Netto ficou à frente do batalhão de 2002 a 2004.
Em seu último ano no comando, foi iniciado o processo de transferência do grupo para Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Fora do Rio, Braga Netto comandou, também, a 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, em Ponta Grossa, no Paraná.
Nascido em Belo Horizonte, o novo comandante provisório da segurança pública no Rio é visto entre seus pares como um nome de "forte liderança" e "bem articulado". Parte da articulação pode ser atribuída aos "estágios" na área diplomática feitos pelo militar.
Quando ainda era coronel, Braga Netto ocupou o cargo de adido militar do Brasil na Polônia, entre os anos de 2005 e 2006. Braga Netto foi promovido a general de divisão no governo Lula, em novembro de 2009.
Em 2012, passou a ocupar a aditância militar nos Estados Unidos e Canadá - enquanto exercia o cargo em Washington, foi promovido a general de Exército. Pouco depois da promoção, em 2013, foi exonerado para, em maio, assumir a função de diretor de Educação Superior Militar, no Rio de Janeiro.
No mesmo ano, por decreto assinado pela então presidente Dilma Rousseff, o general recebeu o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito Militar.
Ainda no Rio, Braga Netto foi o responsável pela segurança dos Jogos Olímpicos de 2016, antes de ser nomeado para assumir o Comando Militar do Leste.
Um oficial que serve no Rio descreve Braga Netto como um militar rígido, mas que não compartilha o pensamento "linha dura" de outros generais como o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Sérgio Etchegoyen, ou Carlos Alberto dos Santos Cruz, na reserva.
O problema a ser enfrentado pelo general é o mesmo de outras operações como as GLO feitas em favelas cariocas: usar a inteligência para evitar que toda a ação acabe "enxugando gelo" como acabou ocorrendo nos casos da atuação militar nos complexos do Alemão e da Maré, na avaliação da caserna.
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