Quem são os empresários alvos da PF após mensagens sobre golpe

Autorizada pelo STF, operação mira empresários que teriam usado um grupo de WhatsApp para defender um golpe de Estado caso Lula vença as eleições.

23 ago 2022 - 17h19
(atualizado em 24/8/2022 às 07h52)
Empresário Luciano Hang é um dos apoiadores mais conhecidos do presidente Jair Bolsonaro
Empresário Luciano Hang é um dos apoiadores mais conhecidos do presidente Jair Bolsonaro
Foto: Perfil pessoal de Luciano Hang/Instagram / BBC News Brasil

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (23/8) uma operação contra oito empresários que teriam defendido um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições presidenciais deste ano.

A defesa teria sido feita em um grupo privado de mensagens no aplicativo WhatsApp. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e faz parte do inquérito que apura o funcionamento de milícias digitais.

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Segundo nota divulgada pela Polícia Federal, o ministro determinou que fossem cumpridos mandados de busca e apreensão em cinco estados diferentes: Rio de Janeiro, Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ainda de acordo com a nota, os mandatos fazem parte de um inquérito policial que tramita no STF.

As mensagens em que empresários teriam defendido um golpe em caso de vitória de Lula foram reveladas pelo portal Metrópoles, na semana passada. O grupo se chamava "Empresários & Política".

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, os alvos da operação foram Luciano Hang, Afrânio Barreira Filho, José Isaac Peres, Ivan Wrobel, André Tissot, Marco Aurélio Raimundo, Meyer Nigri e José Koury.

Ainda de acordo com o jornal, o ministro determinou as quebras dos sigilos bancários e telemáticos dos empresários.

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Confira a seguir mais detalhes sobre quem são os empresários.

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Foto: BBC News Brasil

José Koury

Koury é proprietário do Barra World, um shopping center no Rio de Janeiro. Segundo o portal Metrópoles, Koury disse preferir um golpe à eleição de Lula.

"Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo", disse o empresário, segundo o portal.

Ainda de acordo com a publicação, Koury negou defender um golpe, mas reiterou que talvez "prefira isso" à volta do PT ao governo do país.

"Vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade. Não disse que defendo um golpe de Estado, e sim que talvez preferiria isso a uma volta do PT. Para mim, a volta do PT será um retrocesso enorme para a economia do país", disse o empresário, segundo o portal.

A BBC News Brasil procurou o empresário e enviou e-mails para o Barra World, mas até o momento nenhuma resposta foi enviada.

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Luciano Hang

Luciano Hang tem 59 anos e é fundador da rede de lojas de departamentos Havan. Ele é um dos mais conhecidos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele foi alvo do inquérito das Fake News, que também tramita no STF e que apura a disseminação de notícias falsas contra autoridades.

Segundo o portal Metrópoles, Hang é um dos integrantes do grupo. Nas reportagens publicadas pelo portal, não há menção de que Hang tenha defendido a realização de um golpe caso Lula vença as eleições.

Em 2021, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid pediu o seu indiciamento por incitação a crime ao defender uso do chamado "tratamento precoce" contra a covid-19. Na época, ele rebateu o pedido.

"Sobre o relatório mencionar o meu nome, não esperava nada diferente, pois trata-se de uma comissão política amparada em narrativas e não em fatos. Tenho certeza que a verdade irá prevalecer. Quem não deve, não teme", disse em nota em 2021.

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À BBC News Brasil, a assessoria de imprensa de Hang enviou uma nota informando que o empresário estaria "tranquilo" e negando que tenha falado em golpe no grupo de empresários.

"Que eu saiba, no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião. Em minhas mensagens em um grupo fechado de WhatsApp está claro que eu nunca, em momento algum falei sobre Golpe ou sobre STF", disse.

Afrânio Barreira Filho

Afrânio Barreira Filho é sócio-proprietário da rede de restaurantes Coco Bambu, fundada em 1989. Atualmente, a rede tem 64 unidades espalhadas em diversos estados do Brasil e um faturamento estimado em 2021 de R$ 1 bilhão.

Afrânio Barreira Filho é dono da rede de restaurantes Coco Bambu, que tem 64 unidades. Ele é um conhecido apoiador do presidente Jair Bolsonaro
Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República / BBC News Brasil

Segundo o portal Metrópoles, ele teria respondido de forma positiva a uma mensagem enviada por José Koury em que o empresário dizia preferir um golpe à volta do PT.

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Procurado pela BBC News Brasil, a assessoria de imprensa do empresário enviou uma nota informando que ele está "tranquilo" e que não fez a defesa de golpe.

"Estou absolutamente tranquilo, pois não posso ser acusado por participar de um grupo de Whattsup (sic). Não há uma única frase de minha autoria sobre esse assunto", diz um trecho da nota.

José Isaac Peres

O empresário é sócio-majoritário da Multiplan, uma rede de shopping centers que faturou R$ 172 milhões no segundo trimestre de 2022.

De acordo com o portal Metrópoles, Peres teria dito no grupo que Lula só venceria as eleições caso houvesse "fraude grossa" e que o STF seria composto por ministros petistas.

"O TSE é uma costela do Supremo, que tem 10 ministros petistas. Bolsonaro ganha nos votos, mas pode perder nas urnas. Até agora, milhões de votos anulados nas últimas eleições correm em segredo de Justiça. Não houve explicação", disse o empresário segundo o portal Metrópoles.

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À BBC News Brasil, a assessoria de imprensa da Multiplan informou que não haveria manifestação sobre o assunto.

Ivan Wrobel

Wrobel é proprietário da construtora W3. Segundo o portal Metrópoles, ele teria levantado suspeitas sobre a atuação do Judiciário durante as eleições em mensagens enviadas no grupo.

"Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público", disse o empresário de acordo com o portal Metrópoles.

Procurada pela BBC News Brasil, a defesa de Ivan Wrobel enviou uma nota negando que ele tenha defendido um golpe militar.

"Descendente de família polonesa judia, o Sr. Ivan sempre soube o perigo que ditaduras podem causar. Cumpre ressaltar em 1968, quando aluno do IME, foi convidado a se retirar da instituição por ter se manifestado contrário ao AI-5. Foi convivendo e defendendo a democracia que o Sr. Ivan traçou toda sua vida, tanto familiar como profissional", disse a nota enviada.

André Tissot

Tissot é presidente do Grupo Sierra, especializado na fabricação de móveis de luxo. Segundo o portal Metrópoles, ele disse um "golpe" teria que ter sido dado em 2019, o que garantiria mais 10 anos no poder.

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"O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais", disse o empresário no grupo, segundo o portal.

Procurada pela BBC News Brasil, a assessoria de imprensa do Grupo Sierra e de Tissot informou que não haveria manifestação sobre o assunto.

Marco Aurélio Raymundo

Raymundo é dono da marca de roupas e acessórios Mormaii. De acordo com o portal Metrópoles, ele defendeu que o desfile militar previsto para o dia 7 de setembro, no Rio de Janeiro, será uma demonstração de apoio dos militares ao grupo político liderado por Bolsonaro.

"O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro", disse o empresário, segundo o Metrópoles.

Ainda de acordo com a publicação, Raymundo defendeu uma mediação "sem juiz" caso haja desrespeito a regras.

"Os 'bonzinhos' sempre foram dominados… É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem 'na boa'. Queremos todos a paz, a harmonia e mãos dadas num mesmo objetivo… masssss (sic) quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho", disse o empresário segundo o portal.

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Ainda de acordo com o portal, Raymundo negou ter apoiado atos ilegítimos, ilegais ou violentos.

"Sem acesso ao conteúdo ou à matéria que referes, informo que não apoiei, não apoio e não apoiarei qualquer ato ilegítimo, ilegal ou violento, e destaco que uso de figuras de linguagem que não representam a conotação sugerida", disse o empresário ao portal.

À BBC News Brasil, a assessoria de imprensa da Mormaii disse que o empresário se colocou à disposição das autoridades para esclarecimentos.

Meyer Nigri

Nigri é fundador da construtora Tecnisa. Segundo o portal Metrópoles, o empresário encaminhou mensagens no grupo com ataques ao Judiciário. Uma das mensagens dizia que o STF será o responsável por uma "guerra civil no Brasil. Em outra mensagem há críticas à atuação do STF e do TSE e de institutos de pesquisa como o Datafolha.

"Todo esse desserviço à democracia dos 3 ministros do TSE/STF faz somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições. O Datafolha infla os números de Lula para dar respaldo ao TSE por ocasião do anúncio do resultado eleitoral", disse a mensagem encaminhada por Nigri, segundo o portal Metrópoles.

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Procurada, a Tecnisa disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que a empresa é "apartidária" e que "defende valores democráticos".

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62653680

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