Recessão causada pela Lava Jato pode ser menor que esperada

Professor da Fundação Getúlio Vargas avalia que as decisões tomadas pela equipe econômica podem amenizar os efeitos sobre o setor

2 abr 2015 - 19h53
(atualizado às 20h02)

O Brasil pode viver uma recessão causada pela Operação Lava Jato mais branda em 2015 do que a projetada por economistas que tem calculado os impactos econômicos das investigações. Parte dos dados de um estudo que será apresentado na próxima segunda-feira (6) em um seminário da Fundação Getulio Vargas (FGV) foi antecipada hoje (2) durante um debate em teleconferência para discutir os efeitos econômicos e sociais da Lava Jato.

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Gesner Oliveira, professor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração da Fundação Getulio Vargas (Eaesp/FGV), diz que as decisões tomadas pela equipe econômica podem amenizar os efeitos sobre o setor. “O cenário mais provável é uma recessão [com queda] de menos de 0,5% do PIB [Produto Interno Bruto - soma de todos os bens e serviços produzidos no país]”, disse.

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Segundo os dados iniciais, os economistas do Eaesp/FGV projetaram que a queda de investimentos da Petrobras, estimada em 20%, associadas à retração no setor da construção de quase 10%  provocarão perdas de produção equivalente a R$ 97 bilhões, o que representaria uma queda de 2% no PIB.

“Para 2015, levamos em consideração outros fenômenos que estão ocorrendo”, disse Oliveira, ao citar o ajuste da taxa de câmbio, com menor artificialismo na política cambial, e os sinais de recuperação da credibilidade econômica. “A despeito de todas as dificuldades, a gente percebe a política econômica que sinaliza com mais clareza sobre o que se pretende fazer e o ajuste fiscal. São dois elementos que são relativamente positivos”.

Oliveira alertou para pontos que não estão sendo considerados na divulgação de fatos sobre a Lava Jato e que podem provocar impactos mais graves à economia brasileira e deveriam ser tratados com cautela. Entre os pontos citados estão o poder de mercado da Petrobras, que “é única contratadora de determinados serviços”, o fato de que determinados agentes e executivos possam ter tomado medidas contrárias aos interesses da empresa e o papel da delação premiada.

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“É um mecanismo que levou a avanço grande no combate aos cartéis nos Estados Unidos. É uma ferramenta muito poderosa, mas qual o significado das informações? A delação premiada deve ser vista no contexto de um jogo. A informação não pode ser levada como verdade absoluta”, alertou.

Tatiana Farina, PHD em economia pela Boston College e especialista em pesquisa de organização industrial, microeconometria e marketing quantitativo, destacou o risco sistêmico que as investigações podem produzir sobre o setor financeiro. Ela lembrou que a indústria da construção sofreu grandes perdas e que muitas construtoras estão com dificuldade de acesso a crédito em função de impedimentos provocados pelas investigações. “A gente entende o ponto de vista dos bancos, mas vê o efeito na economia real e o impacto de não dar continuidade a projetos que já foram aprovados”, disse.

O especialista em regulação de mercado e doutor em economia pela Stanford University, Vinícius Carrasco, discordou do cálculo sobre o impacto na economia brasileira. Segundo ele, é difícil computar danos, mas a experiência mostrou que os cartéis no Brasil apresentaram prejuízos altos. “[Os impactos] são inferiores. Não há evidências de que neste caso, em que a vítima [a estatal] e os cartelistas [as construtoras] parecem estar macomunados, seja diferente. O que é peculiar no caso da Petrobras é que parece ser um conluio de cartelistas e gestores da empresa”.

Para o advogado Bruno Werneck, advogado de áreas de infraestrutura e financiamento de projetos, as denúncias reforçam que o sistema de compras públicas brasileiro está “falido”. “Os níveis de corrupção se estendem para outros setores que tem mecanismos de contratação ainda mais ineficazes. A [Lei das Licitações] 8.666 é um tremendo fracasso. A ênfase demasiada no menor preço é catastrófica. Ninguém vai no mercado e fica comprando produtos apenas pelo menor preço”.

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Agência Brasil
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