Relatores da ONU classificam de irresponsáveis políticas brasileiras de combate à Covid-19

29 abr 2020 - 17h27

Relatores de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) classificaram de "irresponsáveis" as políticas econômicas e sociais do Brasil durante a pandemia de coronavírus, e afirmaram que a restrição aos investimentos públicos imposta pelo teto de gastos pode colocar a vida de milhões de pessoas em risco.

Enterro coletivo devido ao coronavírus no cemitério Parque Tarumã, em Manaus 28/4/2020 REUTERS/Bruno Kelly 28/4/2020 REUTERS/Bruno Kelly
Enterro coletivo devido ao coronavírus no cemitério Parque Tarumã, em Manaus 28/4/2020 REUTERS/Bruno Kelly 28/4/2020 REUTERS/Bruno Kelly
Foto: Reuters

"A epidemia de Covid-19 ampliou os efeitos adversos da emenda constitucional de 2016 que colocou um teto nos gastos públicos por 20 anos", disseram o especialista independente em direitos humanos e dívida externa Juan Pablo Bohoslavsky e o relator especial sobre pobreza extrema Philip Alston. "Os efeitos são dramaticamente visíveis na atual crise."

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As críticas constam de um comunicado divulgado nesta quarta-feira pelo escritório do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, dirigido especificamente ao Brasil.

Para os especialistas, "as políticas econômicas e sociais irresponsáveis do Brasil colocam milhões de vidas em risco", e os cortes no Orçamento violaram os padrões internacionais de direitos humanos, inclusive na educação, moradia, alimentação, água e saneamento e igualdade de gênero.

"Economia para quem? Não é possível colocar em risco a vida e a saúde das pessoas, inclusive trabalhadores da saúde, pelos interesses econômicos de poucos. Quem será o responsável quando pessoas morrerem por causa de decisões que vão contra a ciência e as indicações medicamente responsáveis?", questionaram.

Segundo os especialistas, o sistema de saúde está sobrecarregado e falhando em proteger os direitos à vida e a saúde de milhões de brasileiros, que estão em sério risco. "Já é hora de revogar a Emenda Constitucional 95 e outras medidas de austeridade contrárias à lei internacional dos direitos humanos", cobraram.

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Ambos elogiaram a ajuda emergencial dada pelo governo e as medidas tomadas pelos governadores para tentar conter a epidemia, mas afirmaram que mais precisa ser feito e a epidemia é um momento para os países repensarem suas prioridades.

Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, respondeu em sua conta no Twitter ao comunicado dos especialistas da ONU.

"Absurdo e errado o posicionamento de relatores da ONU. O Brasil está gastando 4,1% do PIB no combate à Covid-19, valor bem superior à média dos demais países emergentes (1,35%), e mesmo dos países desenvolvidos (3,1%). Respeito!", escreveu.

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