A pompa é de praxe na imponente Basílica de São Pedro, no Vaticano. Mas o consistório que vai elevar 19 arcebispos a cardeais neste sábado promete ser rápido e sem muita ostentação, de acordo com o padre Arnaldo Rodrigues, que estuda comunicação em Roma e conversou com o Terra na entrada da ala Paulo VI, na praça São Pedro. “Não vai ser uma missa. Missa é no domingo. Vai ser apenas uma celebração”, alertou. Ainda não se sabem detalhes do que vai acontecer a partir das 11h (7h em Brasília), mas tudo sugere que o papa Francisco vai fazer um saudação aos novos cardeais antes de começar a entrega dos símbolos que indicam que eles já estão investidos com a nova honraria da Igreja Católica.
Primeiro os cardeais recebem o barrete - uma espécie de chapéu vermelho -, fazem uma oração, e, em seguida, recebem o anel. Todos eles já receberam um outro símbolo, o Pálio, uma espécie de colar feito de pelo de carneiro e geralmente doado pela comunidade quando o arcebispo sabe da nomeação feita pelo Papa. Em seguida, o papa Francisco deve dizer rápidas palavras e encerrar a cerimônia, que vai durar no máximo uma hora.
Mais tarde, na sala Paulo VI, os 19 cardeais vão receber autoridades e seus convidados para os cumprimentos. Antes disso, devem almoçar no Vaticano, na residência Santa Marta, com o papa Francisco. Tudo de acordo com o novo modelo imposto pelo papa argentino à Igreja: sem ostentação e com muita simplicidade.
Seguindo essa linha, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, mudou parte do planejamento feito para essa visita a Roma e quebrou algumas tradições, como, por exemplo, a roupa que vai usar. Ao invés de vestir a tradicional alfaiataria Gammarelli (usada por papas há mais de 200 anos até ser trocada pela Euroclero, por Bento XVI), mandou fazer as roupas em outro alfaiate, mais barato, nos arredores do Vaticano. Aliás, a chegada de Francisco quebrou o grande comércio das lojas especializadas em roupas religiosas. Houve tempo em que a vitrine da Euroclero expôs uma casula (uma veste litúrgica) no valor de 11 mil euros (cerca de R$ 37,5 mil), sem falar nos sapatos de cromo alemão do papa Bento XVI já substituídos por surradas botas de couro do papa Francisco.
Dom Orani fez mais: dispensou o jantar no tradicional restaurante Arturo, na periferia de Roma, preferido dos cardeais brasileiros, e preferiu comer sempre no colégio Pio Brasileiro, onde residem vários padres brasileiros que estudam em Roma. E, por fim, para se hospedar, dom Orani preferiu também ficar no Pio Brasileiro, como já fez em seu dia dom Eugênio Sales - diferentemente de seu antecessor, dom Eusébio, que preferia entrar na fila até conseguir uma vaga na residência Santa Marta, onde atualmente vive o papa Francisco. A única dúvida é sobre o vinho que deve ser servido na recepção que a embaixada brasileira do Vaticano vai oferecer ao novo cardeal e seus convidados no sábado à noite. O escolhido deve ser o Santa Cristina, um vinho da Toscana, cuja garrafa pode chegar aos R$ 240.
Confira abaixo quem são os novos cardeais da Igreja Católica:
1 - Monsenhor italiano Pietro Parolin, Arcebispo de Acquapendente, Secretário de Estado
2 - Monsenhor italiano Lorenzo Baldisseri, Arcebispo de Diocleziana, Secretário Geral do Sínodo de Bispos
3 - Monsenhor alemão Gerhard Ludwig Muller, Arcebispo emérito de Regensburg, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé
4 - Monsenhor italiano Beniamino Stella, Arcebispo de Midila, Prefeito da Congregação para o Clero
5 - Monsenhor inglês Vincent Gerard Nichols, Arcebispo de Westminster (Grã-Bretanha)
6 - Monsenhor Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua (Nicarágua)
7 - Monsenhor Gérald Cyprien Lacroix, Arcebispo de Québec (Canadá)
8 - Monsenhor Jean-Pierre Kutwa, Arcebispo de Abidjan (Costa do Marfim)
9 - Monsenhor Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro (Brasil)
10 - Monsenhor Gualtiero Bassetti, Arcebispo de Perugia-Città della Pieve (Itália)
11 - Monsenhor Mario Aurelio Poli, Arcebispo de Buenos Aires (Argentina)
12 - Monsenhor Andrew Yeom Soo Jung, Arcebispo de Seul (Coreia do Sul)
13 - Monsenhor Ricardo Ezzati Andrello, Arcebispo de Santiago do Chile (Chile)
14 - Monsenhor Philippe Nakellentuba Ouédraogo, Arcebispo de Uagadugú (Burkina Faso)
15 - Monsenhor Orlando B. Quevedo, Arcebispo de Cotabato (Filipinas)
16 - Monsenhor Chibly Langlois, Bispo de Les Cayes (Haiti)
Cardeais eméritos (mais de 80 anos):
1 - Monsenhor italiano Loris Francesco Capovilla, Arcebispo de Mesembria
2 - Monsenhor espanhol Fernando Sebastián Aguilar, Arcebispo emérito de Pamplona (Espanha)
3 - Monsenhor antilhano Kelvin Edward Felix, Arcebispo emérito de Castries (Santa Lucia, Antilhas)
O arcebispo que ficou na fila
A chegada de dom Orani Tempesta a cardeal da Igreja Católica deixa na fila o arcebispo primaz do Brasil. Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador, 71 anos, vai ter que esperar um pouco mais para se tornar cardeal. Em teoria, nunca se sabe quem o Papa vai fazer cardeal, só na hora em que ele faz o anúncio. Mas, depois da organização da Jornada Mundial da Juventude, todos os padres e bispos brasileiros já tinham a certeza de que Dom Orani, 63 anos, ultrapassaria o que seria o primeiro da lista.
Por tradição, o Brasil tem sempre cinco sedes cardinalícias: o Rio, que foi a primeira, São Paulo, Brasília, Aparecida e Salvador. Mas, no momento, São Paulo ocupa duas dessas vagas. A primeira com dom Odilo Scherer, 65 anos; e a segunda com dom Claudio Hummes, que atualmente vive no Vaticano, onde foi prefeito da Congregação para o Clero. A favor de dom Murilo há o fato de que, no mês de agosto, dom Claudio Hummes completa 80 anos e passa a ser cardeal emérito, abrindo a oportunidade para o primaz.
Atualmente, o Brasil tem cinco cardeais que podem votar em um possível conclave para escolher um novo Papa: Dom Raymundo Damasceno, 77 anos, de Aparecida (SP); Dom Claudio Hummes, 79 anos, emérito de São Paulo; Dom Odilo Scherer, 65 anos, de São Paulo; Dom João Braz de Aviz, 67 anos, de Brasília, e, agora, dom Orani João Tempesta, 63 anos, do Rio. Os eméritos são os seguintes: dom Geraldo Majela Agnelo, 81 anos, dom Eusébio Scheid, 82 anos, dom José Freire Falcão, 89 anos, dom Serafim Fernandes de Araújo, 90 anos, e dom Paulo Evaristo Arns, 93 anos.