Quando os participantes da comemoração do Dia do Trabalhador começaram a chegar ao Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, na manhã desta sexta-feira (01), já se ouvia cochichos de ansiedade. O responsável? O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que compareceu ao evento pela primeira vez desde 2010. O petista subiu ao palco por volta das 14h e logo deu início a mais um de seus tradicionais discursos inflamados – focado desta vez em críticas ao PL 4330 (projeto de lei das terceirizações) e à redução da maioridade penal. Além disso, mandou um “recado” à imprensa e à elite brasileiras.
"Estou quietinho no meu lugar. Não me chame para briga porque sou bom de briga. Não tenho intenção de ser candidato a nada, mas tenho vontade de brigar. Está aceita a provocação. Tentei hesitar. Mas a Dilma é a presidente e quero que ela governe o País. Eu ia ficar quieto para não dizerem que estou de gerência. Pois bem. Aos meus expectadores: agora, vou começar a andar o País outra vez. Vou começar a conversar com o povo brasileiro, trabalhador, desempregado, camponês, empresário", disse.
A mensagem, de acordo com o ex-presidente, é àqueles que "não se conformam" com o resultado da democracia. "Desde a vitória da Dilma estão pregando sua queda. Mas eles tem que saber que, se mexer com ela, vão mexer com milhões de brasileiros. E quero pedir a vocês. A gente tem que ter paciência como a mãe da gente tem com a gente. Ela vai governar e tem um programa de 4 anos. Temos que ver o resultado final desse governo. E não tenho dúvida de que daqui a 4 anos vamos estar aqui comemorando o êxito do mandato de Dilma Rousseff", completou.
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Em uma parte mais polêmica de sua fala, Lula comentou o tratamento que recebe da "elite brasileira", que, de acordo com ele, “tem um medo inexplicável” de sua volta ao governo e “deveria acender uma vela” para agradecer tudo o que o PT já fez pelo Brasil.
“É um medo inexplicável porque eles nunca ganharam tanto dinheiro na vida como ganharam no meu governo. Nem empresário, nem banqueiro, nem trabalhador. Foram 12 anos de aumento real de salário. Foram 12 anos de aumento de salário mínimo. Eles deveriam agradecer todo dia. Deveriam acender uma vela agradecendo minha passagem e a de Dilma no governo. Mas não. São masoquistas. Gostam de sofrer”, provocou.
As insinuações sobre sua suposta participação nos esquemas investigados pela Operação Lava Jato e a denúncia apresentada recentemente pela revista Época de que ele estaria sendo investigado por tráfico de influência internacional também não ficaram de fora do discurso.
“Eu não ia dizer isso aqui, mas estou notando todo santo dia insinuações. ‘Lá na Lava Jato vão citar o nome do Lula’. ‘Querem que empresários citem meu nome’. ‘O objetivo é pegar o Lula’. Aí vem essas revistas brasileiras, que são um lixo, não valem nada... Certamente serei criticado por estar sendo agressivo. Mas quero dizer aqui: pega todos os jornalistas da Veja e da Época e enfia um dentro do outro que não dá 10% da minha honestidade”, disparou.
A presidente Dilma não participou do evento, mas foi representada pelo ministro Miguel Rossetto. Também estiveram por lá o secretário Alexandre Padilha (representando o prefeito de São Paulo Fernando Haddad), o secretário Eduardo Suplicy, o deputado Paulo Teixeira e o líder do partido na Câmara Sibá Machado.
O ato foi organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e contou com cerca de outros 30 movimentos sociais e centrais sindicais, entre eles CTB, Intersindical, Coordenação Nacional de Entidades Negras, Marcha Mundial de Mulheres, Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e União Nacional dos Estudantes (UNE).
De acordo com os coletivos, as bandeiras desta edição foram contra a aprovação do PL 4330, contra a Medida Provisória 664 (que muda as regras para a concessão do auxílio-doença e pensão por morte), contra a MP 665 (que dificulta o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial), contra a política de ajuste fiscal e contra o preconceito. As defesas, por sua vez, foram da taxação das grandes fortunas, da manutenção do estado democrático de direito, da reforma política como combate à corrupção, da proibição do financiamento empresarial de campanha e da Petrobras.
“Estivemos em reunião com a presidenta e ela disse claramente que é contra a terceirização na atividade fim. Ela apenas concorda com a regulamentação – o que as centrais também concordam – para os milhões de trabalhadores que já são terceirizados”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas. “Ela estar aqui hoje ou não é uma posição dela. Ela já se manifestou nas redes sociais sobre esses assuntos. Seria importante ela sair em TV mais aberta. Mas o que importa não é essa disputa que a direita quer fazer sobre ela falar ou não. Importa o que ela vai falar. E ela disse que é contra. Já foi um ganho importante para a gente”, completou.
Guilherme Boulos, líder do MTST, aproveitou para criticar, mesmo que indiretamente, outros atos do 1° de maio que foram realizados simultaneamente – como o comandado pela Força Sindical, de Paulinho da Força. “Hoje não é dia de comemoração ou festa. É dia de mobilização e luta. Até porque os trabalhadores brasileiros não têm muitos motivos para comemorar ultimamente. Mas têm muitos a reivindicar. Outros movimentos de 1° de maio que fazem sorteio de apartamento ou de ‘festa sei lá do que’ não representam os anseios da classe trabalhadora”.
A programação teve início às 10h com realização de um ato ecumênico seguido de discursos de líderes de movimentos e políticos. Após as 15h foi a vez das apresentações musicais.