O Ministério da Saúde divulgou nesta quarta-feira um novo protocolo de uso do medicamento cloroquina desde os sintomas iniciais da Covid-19, atendendo a exigência do presidente Jair Bolsonaro de ampliar o uso do remédio contra a doença provocada pelo novo coronavírus, apesar de não haver estudos que comprovem a eficácia.
O novo protocolo lista a dosagem para o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina, associada ao antibiótico azitromicina, para uso no caso de sintomas leves em duas fases da doença, do 1º ao 5º dias e do 6º ao 14º dias, e também para casos moderados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reiterou nesta quarta-feira que não recomenda a utilização da cloroquina para o tratamento da Covid-19, diante da falta de comprovação científica de eficácia. [nL1N2D216O]
Até agora, o uso da cloroquina no Brasil tinha um protocolo do ministério apenas para casos graves, adotado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Apesar da falta de comprovação científica, o fato de ainda não haver tratamento adequado para a Covid-19 levou Mandetta a aceitar a criação de um protocolo para o caso de outras alternativas não darem resultado.
Junto com o novo protocolo, o ministério divulgou um termo de consentimento que deve ser apresentado ao paciente alertando para possíveis efeitos colaterais do uso da cloroquina, como redução dos glóbulos brancos, disfunção do fígado, disfunção cardíaca e arritmias, e danos na retina.
Além disso, o termo ainda alerta que "não existe garantia de resultados positivos, e que o medicamento proposto pode inclusive agravar a condição clínica, pois não há estudos demonstrando benefícios clínicos."
O protocolo apresentado pelo ministério foi preparado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde e não traz a assinatura de médicos responsáveis. No entanto, o ministério informou que essa assinatura não é necessária, uma vez que o documento é de responsabilidade da pasta.
Após a publicação, Bolsonaro usou as redes sociais para defender o uso da cloroquina. O presidente apontou que o medicamento deve ser usado sob orientação médica e com autorização do paciente sobre os riscos, e admitiu que não há comprovação científica sobre benefícios no caso do coronavírus.
"Ainda não existe comprovação científica, mas (está) sendo monitorada e usada no Brasil e no mundo. Contudo, estamos em guerra: 'Pior do que ser derrotado é a vergonha de não ter lutado'", escreveu o presidente.
CONSENTIMENTO
Junto com o protocolo, o ministério divulgou um termo de consentimento que deve ser apresentado ao paciente alertando para possíveis efeitos colaterais do uso da cloroquina, como redução dos glóbulos brancos, disfunção do fígado, disfunção cardíaca e arritmias, e danos na retina.
A ampliação do uso da cloroquina para casos leves, proposta ao governo pela oncologista Nise Yamaguchi, foi uma das causas da demissão de Mandetta, que se recusava a fazê-lo sem comprovação de resultados científicos, e também levou ao pedido de demissão do substituto dele no comando do Ministério da Saúde, Nelson Teich, na semana passada.
Teich foi pressionado por Bolsonaro para alterar o protocolo depois que os grupos bolsonaristas nas redes sociais começaram a cobrar o ministro por ter dito que não havia evidências científicas da eficácia da cloroquina. O então ministro preferiu então pedir demissão.
O novo protocolo foi publicado sob o comando do ministro interino, general Eduardo Pazuello. A decisão do Planalto foi pela publicação do novo protocolo antes que um novo ministro seja nomeado para não ressuscitar novamente o problema.
Bolsonaro passou a defender a cloroquina depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exaltou o uso do medicamento. O presidente inclusive determinou que Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército ampliasse a produção da cloroquina.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que afirma não haver estudos conclusivos que comprovam o uso do medicamento para o tratamento do novo coronavírus, enquadrou em março a hidroxicloroquina e a cloroquina como medicamentos de controle especial para evitar que pessoas que não precisam desses medicamentos provoquem um desabastecimento no mercado.
(Edição de Eduardo Simões e Pedro Fonseca)