O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, admitiu, nesta segunda-feira em evento nos Estados Unidos, que poderá oferecer uma nova acusação criminal contra o presidente Michel Temer ao Supremo Tribunal Federal (STF) antes de deixar o comando do Ministério Público Federal, em meados de setembro.
"Se alguma investigação estiver madura até o dia 15 de setembro, vou oferecer denúncia", disse Janot, que participou da série de palestras chamada "Rule of Law" do Brazil Institute, do Woodrow Wilson Center, em Washington.
Segundo o procurador-geral, o Ministério Público não tem pressa nem retarda a denúncia e quem ditará esse ritmo são as próprias investigações. Ele destacou que, se obtiver um "quadro definido" até lá, não pode deixar de apresentar uma nova acusação sob pena de prevaricar.
Janot encerra o atual mandato à frente do Ministério Público Federal em exatos dois meses, num domingo. Dois dias antes, citou, será seu último dia útil de trabalho. Assumirá o cargo a subprocuradora-geral da República Raquel Dodge, que já teve a indicação aprovada pelo Senado na semana passada em votação secreta. Ela é tida como adversária de Janot na Procuradoria-Geral da Republica.
A expectativa nos bastidores é que, antes do término do mandato, ele denuncie Temer ao Supremo por pelo menos um crime: o de obstrução de Justiça. O presidente ainda é investigado na corte por organização criminosa.
Na palestra, o atual procurador-geral disse ver com a "maior naturalidade possível" uma eventual decisão da Câmara dos Deputados de não autorizar o julgamento pelo STF da denúncia contra Temer por corrupção passiva.
Na semana passada, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou parecer favorável a rejeitar o julgamento pelo STF. O plenário da Casa deverá votar o pedido no dia 2 de agosto, na volta do recesso parlamentar.
Janot disse ter feito o trabalho dele e que não tem como insistir na primeira denúncia. Explicou aos presentes que, se a Câmara não autorizar, ela fica suspensa até que Temer deixe o comando do país.
O chefe do Ministério Público Federal também não quis opinar com profundidade sobre as trocas de integrantes e a liberação de emendas parlamentares a deputados da CCJ, classificadas pelo relator inicial da denúncia, deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), de obstrução de Justiça.
Ele afirmou que é muito prematuro ainda dizer que houve esse crime e avaliou que, "olhando por cima", essa atuação faz parte do "jogo político" e que era "previsível" que isso iria ocorrer.