Sírios no Brasil celebram queda de Assad e planejam viagens

Refugiados querem que ex-ditador seja punido por seus crimes

27 dez 2024 - 11h54
(atualizado às 12h05)

A comunidade síria no Brasil está celebrando a queda do governo da família Assad no país árabe, ocorrida no último dia 8 de dezembro, com a deposição do ditador Bashar al-Assad por grupos rebeldes encabeçados por jihadistas.

    "Sinto uma felicidade enorme! Não achei que fosse viver para ver este dia, a queda de Assad. Agora ele precisa enfrentar a Justiça porque é um criminoso", afirma à ANSA o fotógrafo sírio Husam Adin Hazimeh, de 35 anos, que vive no Brasil há uma década.

Publicidade

    Opinião similar é dada pelo professor de árabe Mohamad Alsaheb, 44, também há 10 anos no país. "Esperávamos que ele [Assad] não pudesse fugir e que as pessoas de lá pudessem pegá-lo para mandá-lo à Justiça, porque ele cometeu muitos crimes contra a humanidade e deveria ser punido por suas ações", diz.

    Já a professora de árabe Yamam Saad, 35, refugiada no Brasil desde 2016, destaca que a Síria enfrentou "14 anos de sofrimento", em referência à guerra civil iniciada em 2011.

    "Muita gente ainda não acredita que a ditadura acabou", ressalta a sírio-brasileira.

    O Brasil abriga mais de 4 mil refugiados da Síria, número tímido frente aos milhões acolhidos por nações vizinhas, como Turquia, Líbano e Jordânia, mas a facilidade de acesso ao visto humanitário no país acabou se tornando um atrativo durante a fase mais aguda da guerra civil.

Publicidade

    Ao fugir da guerra, os sírios residentes hoje em São Paulo deixaram para trás uma terra "sem liberdade de expressão" e "sem futuro", onde "não havia luz, água e gasolina". Deixaram também suas casas, famílias e profissões originais.

O fotógrafo Husam em seu antigo estúdio em Damasco

"Queria morar em um lugar seguro e de forma legal", conta Saad, que, antes de dar aulas de árabe a brasileiros, trabalhava como arqueóloga em sua terra natal. A professora conheceu Alsaheb em São Paulo e se casou com ele há dois anos. Hoje o casal comanda o Centro de Língua Árabe na capital paulista.

    "Eu me sinto um homem de sorte porque agora tenho duas pátrias, Síria e Brasil, desde que me tornei brasileiro, em 2020. Mas é claro que sinto falta do meu país", diz Alsaheb, enquanto sua esposa garante estar "feliz no Brasil", mas planeja uma viagem à Síria para visitar a irmã e a sobrinha que vivem no país.

    Já Hazimeh, que fugiu para São Paulo porque "não queria pegar em armas para matar" seus "irmãos", deve viajar para sua terra natal em janeiro devido ao seu "trabalho de fotógrafo". Mas voltar a morar na Síria não é opção para eles no momento.

Publicidade

    Para Natália Calfat, doutora em ciências políticas, pesquisadora do Grupo de Trabalho sobre Oriente Médio e Mundo Muçulmano da USP e presidente do Instituto da Cultura Árabe, "a queda [de Assad] foi uma soma de alguns fatores, entre eles a falta de motivação do exército sírio em continuar defendendo o regime, que, para além da repressão, também falhava em oferecer melhores condições de vida, com a população vivendo um colapso econômico e um grande aumento da pobreza e inflação".

    Segundo ela, "Damasco caiu em tempo recorde, sem oferecer qualquer resistência, porque o grupo de Astana - composto por Turquia, Rússia e Irã, em contato com o Catar - concordou com os termos (ainda pouco claros) da saída de Assad".

    Apesar de o futuro da Síria ser incerto, Calfat acredita que "a questão será como as diferentes forças, mais ou menos seculares, farão parte do novo governo e em que medida o grupo Hay'at Tahrir al-Sham [HTS] será capaz de se acomodar no poder e garantir liberdade, equidade e pluralismo sob bases democráticas". .

TAGS
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se