O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quinta-feira (17) a quebra dos sigilos fiscal e bancário do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
A decisão acolhe um pedido da Polícia Federal no âmbito do inquérito que apura a venda ilegal e posterior recompra de joias e outros itens de luxo dados de presente por países árabes a Bolsonaro no exercício do mandato de presidente.
Esses artigos deveriam ter sido incluídos no patrimônio do Estado e não poderiam ter sido comercializados para fins pessoais.
A quebra dos sigilos do casal Bolsonaro chega quase uma semana depois da operação da PF que mirou o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, e seu pai, o general Mauro César Lourena Cid, além de Osmar Crivelatti e Frederick Wassef, assessor e advogado do ex-mandatário, respectivamente.
A suspeita da PF é de que esse grupo tenha articulado a venda no exterior de presentes recebidos por Bolsonaro em viagens oficiais a países árabes, como relógios de luxo e joias.
Na última quarta (16), Wassef admitiu que pagou US$ 49 mil para recomprar um Rolex dado a Bolsonaro pela Arábia Saudita e que havia sido vendido por Cid em uma joalheria nos Estados Unidos.
Já nesta quinta, o advogado do tenente-coronel, Cezar Bitencourt, disse a veículos da imprensa brasileira que seu cliente vai indicar Bolsonaro como mandante das negociações dos presentes oficiais, o que pode complicar a situação do ex-presidente ainda mais.
A quebra dos sigilos e a notícia da iminente confissão de Cid chegam ao fim de um dia desastroso para Bolsonaro, que também foi acusado pelo hacker Walter Delgatti Neto de grampear o ministro Alexandre de Moraes e de lhe pedir que invadisse as urnas eletrônicas para comprovar sua suposta vulnerabilidade.
As declarações foram dadas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro e provocaram um terremoto político em Brasília.
Delgatti disse à CPI que Bolsonaro telefonou a ele no ano passado para pedir que assumisse a autoria de um grampo contra Moraes supostamente feito por "agentes de outro país". Para convencer o hacker, o então presidente teria prometido proteção judicial.
"Ele disse: 'Caso um juiz te prender, eu mando prender o juiz'", contou Delgatti, que se tornou conhecido no Brasil inteiro por invadir contas no Telegram de procuradores da Operação Lava Jato, ganhando o apelido de "hacker da Vaza Jato", em 2019. Esse episódio culminaria na anulação das condenações de Luiz Inácio Lula da Silva, pavimentando seu retorno ao Palácio do Planalto.
Delgatti foi convocado pela CPMI após ter revelado que Bolsonaro lhe perguntara se ele conseguiria invadir as urnas eletrônicas, em encontro intermediado pela deputada Carla Zambelli. Na época, o então presidente tentava desacreditar o sistema eleitoral brasileiro com acusações de fraudes.
"Apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli, de um encontro com o Bolsonaro, antes da campanha. Ele queria que eu autenticasse a lisura das eleições e, por ser o presidente da República, eu acabei indo ao encontro", contou o hacker à CPMI.
Segundo Delgatti, Bolsonaro também prometeu proteção contra eventuais ações da Justiça caso ele fosse condenado por tentar invadir as urnas. "Nesse encontro ele me assegurou indulto", afirmou.