Anunciado nesta quinta-feira para comandar o Ministério da Saúde durante a pandemia do coronavírus, o oncologista Nelson Teich tem currículo empresarial na área médica e já defendeu que se faça escolhas entre tratar um idoso com doenças crônicas ou dar atendimento a um adolescente, diante da falta de recursos no sistema público.
Teich, que colaborou na campanha de Bolsonaro à Presidência em 2018 dando conselhos na área de saúde, atuou de setembro do ano passado a janeiro deste ano como conselheiro do atual secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério, Denizar Vianna, apontado como o homem da ciência na pasta pelo agora ex-titular da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Trabalhando como consultor até ser convidado por Bolsonaro para comandar o ministério, Teich já fundou empresas na área de saúde, uma delas vendida posteriormente a um plano de saúde, e é formado em medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), além de ter feito residência no Instituto Nacional do Câncer (Inca) e especializações em Economia da Saúde e MBA em saúde.
Em vídeo gravado para um fórum de oncologia realizado há um ano em Brasília, o novo ministro disse que o sistema público é tratado de forma superficial e defendeu que, diante da falta de recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS), é necessário se fazer escolhas, como, por exemplo, entre tratar um idoso com doenças crônicas ou um adolescente.
"Como você tem o dinheiro limitado, você vai ter que fazer escolhas. Então você vai ter que definir onde você vai investir. Eu tenho uma pessoa que é idosa, que tem uma doença crônica avançada e ela teve uma complicação. Para ela melhorar, eu vou gastar praticamente o mesmo dinheiro que eu vou gastar para investir em um adolescente que está com um problema", disse.
"O mesmo dinheiro que eu vou investir. É igual. Só que essa pessoa é uma adolescente que vai ter a vida inteira pela frente, e a outra é uma pessoa idosa que pode estar no final da vida. Qual vai ser a escolha?", indagou.
Apesar de ter sido encarregado por Bolsonaro de buscar formas de permitir a retomada gradual da economia, o oncologista defendeu o isolamento social como ferramenta de combate ao avanço do Covid-19, doença respiratória causada pelo coronavírus, em artigo publicado do início deste mês.
"Diante da falta de informações detalhadas e completas do comportamento, da morbidade e da letalidade da Covid-19, e com a possibilidade do Sistema de Saúde não ser capaz de absorver a demanda crescente de pacientes, a opção pelo isolamento horizontal, onde toda a população que não executa atividades essenciais precisa seguir medidas de distanciamento social, é a melhor estratégia no momento", escreveu.
"Além do impacto no cuidado dos pacientes, o isolamento horizontal é uma estratégia que permite ganhar tempo para entender melhor a doença e para implantar medidas que permitam a retomada econômica do país."
Bolsonaro é contra o isolamento horizontal. Ele defende o que chama de isolamento vertical, no qual somente integrantes do grupo de risco da doença --idosos e portadores de comorbidades-- ficam isolados.
No mesmo artigo do início de abril, Teich disse que o isolamento vertical "também tem fragilidades" e "não representa uma solução definitiva" para o problema.
"Como exemplo, sendo real a informação que a maioria das transmissões acontecem à partir de pessoas sem sintomas, se deixarmos as pessoas com maior risco de morte pela Covid-19 em casa e liberarmos aqueles com menor risco para o trabalho, com o passar do tempo teríamos pessoas assintomáticas transmitindo a doença para as famílias, para as pessoas de alto risco que foram isoladas e ficaram em casa", escreveu.
Em pronunciamento ao lado de Bolsonaro logo depois de ser anunciado para comandar a Saúde, Teich disse que não tomará medidas bruscas em relação ao isolamento, se declarou completamente alinhado ao presidente e disse que trabalhará para que a vida dos brasileiros volte ao normal.
"A gente discutir saúde e economia, isso é muito ruim... Essas coisas são complementares", disse. "Uma coisa importante do desenvolvimento econômico é que ele arrasta as outras coisas", acrescentou.
(Edição de Pedro Fonseca)