Ex-ministro da Agricultura e uma das lideranças do agronegócio no Brasil, Blairo Maggi está receoso com as consequências da repercussão do aumento dos números de incêndios no país. Para ele, a imagem de um Brasil preocupado com a preservação ambiental está desgastada no exterior.
"Nos últimos anos, os setores exportadores do país tiveram grande trabalho de refazer essa imagem do Brasil e mostrar que temos controle de desmatamento e de todas questões ambientais. Tínhamos conseguido superar bem esse assunto. Mas agora teremos que refazer tudo isso", diz ele à BBC News Brasil.
Na última semana, a destruição da Floresta Amazônica ganhou repercussão internacional, em razão do aumento da onda de queimadas na região. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 78,3 mil focos de incêndio foram registrados apenas neste ano no Brasil - crescimento de 84% em comparação a 2018. Do total de casos deste ano, 52,6% foram registrados na Amazônia.
Os números sobre incêndios no Brasil e o discurso de Bolsonaro pouco combativo ao tema - ao menos até meados da semana -, repercutiram em todo o mundo e causaram reações em lideranças internacionais.
Diante da pressão internacional, Bolsonaro mudou o tom de sua reação e autorizou, na tarde de sexta-feira (23), o uso de militares em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) - quando há situações graves que demandam que o presidente da República convoque forças de segurança - para combater as queimadas na região da Floresta Amazônica.
Na noite de sexta, Bolsonaro afirmou, em pronunciamento, que terá "tolerância zero" com crimes ambientais.
Eleitor de Bolsonaro, Maggi afirma que a conduta do presidente diante do aumento nos números de incêndio deixou a imagem do mercado brasileiro "bastante arranhada" e que "o Governo demorou para entrar no jogo".
Um dos principais acionistas do grupo Amaggi, gigante do agronegócio brasileiro, o ex-ministro prevê que os produtores rurais brasileiros terão "muito trabalho pela frente" para voltar a ter credibilidade no comércio internacional.
Para tentar reverter a situação, afirma que os produtores precisarão "assumir compromissos [sobre responsabilidade ambiental] e executá-los".
Entre o ano passado e 2019, o Brasil bateu recordes de exportações como café, milho e carne bovina. O maior temor de produtores rurais que atuam no comércio exterior é que as vendas sejam afetadas.
Críticas internacionais
O ex-ministro de Michel Temer pondera ao comentar sobre as críticas feitas ao Governo Federal por parte dos membros da cúpula do G7 - grupo das sete maiores economias do mundo, formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. "Acho que eles não têm as informações corretas [sobre a destruição na Amazônia]. Devem estar fazendo juízo de valor com o que as redes sociais têm propalado", minimiza.
"O Fogo e o desmatamento são ruins. Mas em poucos dias as chuvas voltam à região e o fogo cessará. Já o desmatamento ilegal precisa ser combatido", declara Maggi.
Para ele, há informações desencontradas sobre a real situação da Floresta Amazônica. "Ainda é preciso fazer levantamentos para saber qual foi a dimensão do estrago, para termos a informação real e avaliarmos a melhor forma de atacar o problema", diz.
Maggi sai em defesa de produtores rurais que operam de acordo com a lei. "Os grandes responsáveis por essas coisas [queimadas em propriedades rurais] são grileiros de terra, principalmente de terras devolutas. Eles insistem em querer estar fora da regra da legislação. Uma coisa é a produção organizada, com produtores que obedecem a legislação. Outra coisa é a produção de quem não obedece."
"É preciso separar o joio do trigo. Somos favoráveis às aplicações das leis, queremos competir com o mundo dentro das regras estabelecidas", afirma.
Segundo o ex-ministro, produtores que exportam mercadorias seguem as normas corretas para que possam comercializar itens sustentáveis. "O Brasil tem uma legislação muito dura sobre esse assunto, que não foi alterada no atual governo. Logo que começamos a acessar o mercado internacional, começamos a nos cobrar sobre esse compromisso de ter produtos sustentáveis. Todos os setores assumiram compromisso de vender itens que não fossem frutos de áreas de desmatamento", diz.
'Motosserra de ouro'
Maggi, assim como Bolsonaro, também já foi considerado inimigo internacional do meio ambiente. Em 2005, o ex-ministro foi premiado com a "Motosserra de Ouro", da ONG Greenpeace. A premiação, conforme a entidade, foi dada em virtude da contribuição dele, um dos maiores produtores de soja do Brasil, para a destruição da Amazônia. Chegou a ser considerado também, em reportagem da revista britânica Economist, como ameaça à floresta.
O ex-ministro afirma que aprendeu muito sobre preservação ambiental depois disso.
"Toda crise nos ensina muitas coisas. Na época, me aproximei da ciência, do mercado e dos ambientalistas. Entendi que não somos uma ilha e que precisamos estar permanentemente conversando. Os produtores de Mato Grosso também entenderam isso", diz.
"Montamos um programa chamado MT legal, com a presença dos órgãos como Ministério Público, Polícia Federal, Secretaria de Meio Ambiente e associações de produtores. Na época, reduzimos o desmatamento e as queimadas em mais de 80 %. Desde então, nunca mais houve fechamento de aeroportos em Mato Grosso por fumaça", explica.
Ao ser questionado sobre o que Bolsonaro pode aprender com as críticas que vem sofrendo por conta da política ambiental que tem adotado, Maggi se esquiva. "Não sei. Mas ele vai aprender."
Passando uma temporada em Paris, na França, o ex-ministro continua atento à política, mas afirma que não irá mais se candidatar a nenhum cargo. "Para tudo tem seu tempo, o da política terminou", diz. Governador de Mato Grosso por dois mandatos e senador pelo Estado por oito anos, ele afirma que vive uma fase de "reintegração à vida de um cidadão normal, com família, amigos e negócios."
Apesar de afirmar que quer evitar se aproximar da política, Maggi ainda está relacionado ao tema. Isso porque ele responde na Justiça por um crime que teria sido praticado em 2009, enquanto era governador. Ele é acusado de participar de um esquema de compra de vaga no Tribunal de Contas de Mato Grosso.
O ex-ministro nega participação em qualquer esquema ilegal. "Infelizmente a política tem dessas coisas. Mas isso é jurídico, responderei com cabeça erguida e provarei minha inocência", afirma.