Brasileiros começam a deixar o Nepal após terremotos

Segundo brasileiro, apesar do clima de destruição, a cidade e o povo nepalês estão aparentemente calmos

27 abr 2015 - 11h52
(atualizado às 11h54)
Vários corpos foram cremados na manhã deste domingo (26) na capital do Nepal
Vários corpos foram cremados na manhã deste domingo (26) na capital do Nepal
Foto: Bernat Armangue / AP

Apesar do tumulto e do congestionamento de voos, o aeroporto de Katmandu, capital do Nepal, voltou a funcionar e os brasileiros que estão no país começam a voltar ao país nos próximos dias, após os terremotos que ocorreram no Nepal. A Agência Brasil conversou com o brasileiro Silvio Aparecido Pereira da Silva, que mora no país asiático.

Ele explicou que está com um grupo de 32 brasileiros em Katmandu, em contato com a embaixada brasileira, mas disse que existem brasileiros em outras localidades. Do grupo, terão prioridade de embarque para deixar o país uma família com um bebê de 12 dias, uma mãe com duas crianças pequenas, de 2 e 4 anos, e algumas pessoas mais idosas.

Publicidade

Siga o Terra Notícias no Twitter

“Estivemos na embaixada e a equipe estava tentando informar o Itamaraty sobre os brasileiros, mas não tinha internet. A comunicação está difícil porém estamos sendo bem atendidos, na medida do possível”, disse Silvio.

Segundo ele, apesar do clima de destruição, a cidade e o povo nepalês estão aparentemente calmos. “As lojas estão fechadas, os serviços estão precários, em alguns momentos eles funcionam, não tem energia elétrica. Ontem ela [a energia] voltou por um tempo e depois caiu. Há falta de água. A escola onde estamos acampados têm duas quadras, cedemos uma para a comunidade e na outra estamos com mais de 200 crianças. Ganhamos um cabrito hoje de alguns hindus para poder comer”, contou Silvio.

Ele e a esposa trabalham com as organizações não governamentais 'Missão Cristã Mundial e Mobilização Mundial', em uma casa de acolhimento para crianças traficadas no Nepal. A escola da organização também atende crianças da comunidade. Segundo Silvio, a estrutura de atendimento do governo nepalês é muito ruim. “O governo é ineficiente e precário, nessa situação eles têm boa vontade mas não tem estrutura. Se eles conseguirem reestabelecer água, energia e desbloquear as estradas já vai ser ótimo”.

Publicidade

Silvio mora no Nepal com a esposa Rose e os dois filhos e, segundo ele, vão ficar para continuar a ajudar o povo nepalês na reconstrução do país. “Minha filha de 9 anos, que é nepalesa, está muito assustada, mas eles [os filhos] querem ficar mesmo com medo. O terremoto foi terrível, a lembrança é terrível”, disse.

Mulher carregando seus pertences em meio a destroços por conta do terremoroto no Nepal
Foto: Adnan Abidi / Reuters

Foram dois terremotos, um no sábado (25) de magnitude 7,8 na escala de Richter, e outro ontem (26) de magnitude 6,7. Os abalos provocaram a morte de mais de 3,2 mil pessoas, até o momento, segundo a Organização das Nações Unidas. De acordo com Silvio, além dos dois tremores principais, dezenas de réplicas do terremoto foram sentidas até duas horas depois dos primeiros episódios. “É assustador, durante a noite ainda sentimos tremores leves. Uma pessoa fica de vigília com um sino, para tocar se houver um tremor mais forte durante a madrugada. Mas hoje senti que eles diminuíram. A minha impressão é que o pior já passou”, relatou o missionário.

Durante o primeiro terremoto, no sábado, Silvio conta que só conseguiu reunir sua família após três horas. “Minha esposa estava em casa, eu estava com meus filhos dirigindo para a igreja e o chão começou a tremer, foi assustador. As crianças na escola disseram que o prédio mexia como se fosse gelatina e, mesmo com treinamento que elas recebem, desceram desesperadas pelas escadas. Fui passando por lugares desmoronados, com as pessoas andando pelas ruas; abriram rachaduras nas estradas. Várias de nossas crianças perderam parentes. Conseguimos reunir a nossa família três horas depois, foi assustador”.

Momento do terremoto: vídeos mostram pânico no Nepal
Video Player

O missionário explicou que, apesar das diferenças religiosas no país, que tem grupos hindus, budistas e cristão, há muita solidariedade. “Ontem os hindus aceitaram comer conosco, nos doaram o cabrito, as pessoas estão se ajudando, pessoas de castas [níveis sociais] diferentes ajudando uns aos outros. Apesar da tragédia, há solidariedade. E quero tranquilizar as pessoas no Brasil, diga que estamos bem”, finalizou.

Publicidade
Torre histórica de 9 andares é derrubada por terremoto
Video Player

Sobre o terremoto

O terremoto de magnitude 7,8 que atingiu o Nepal no sábado (25) provocou mais de 2 mil mortes e muitos danos materiais, causando também avalanches que soterraram acampamentos de alpinistas no Everest. O tremor, que teve seu epicentro a cerca de 80 quilômetros de Catmandu, ocorreu por volta do meio-dia local (03h11 de Brasília) e durou entre 30 segundos e dois minutos. Na capital nepalesa, o terremoto derrubou edifícios, especialmente os antigos, inclundo templos e monumentos. A torre Dharahara, uma importante atração turística, se transformou em escombros. Os efeitos do tremor chegaram até as montanhas do Himalaia e também na Índia e na China, onde provocaram a queda de edifícios e a morte de dezenas de pessoas, de acordo com autoridades locais. Foram registradas diversas réplicas do terremoto, entre 4,2 e 6,7 graus. 

Grandes terremotos do século

Agência Brasil
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações