'Titanic naufragando' e 'Temer tóxico': a repercussão das delações da JBS na imprensa mundial

20 mai 2017 - 13h37
(atualizado às 14h45)
Imprensa internacional destacou que novas delações perpetuam crise e lançam dúvidas quanto ao futuro do país
Imprensa internacional destacou que novas delações perpetuam crise e lançam dúvidas quanto ao futuro do país
Foto: Reprodução / BBC News Brasil

A revelação do conteúdo das delações premiadas dos executivos do grupo JBS e dos áudios gravados pelo empresário Joesley Batista em conversas com Michel Temer, além da abertura de inquérito contra o presidente no Supremo Tribunal Federal (STF), tiveram grande repercussão na imprensa ao redor do mundo.

O jornal americano The Washington Post afirmou que os últimos dois dias "pioraram a péssima situação do Brasil, fazendo o mercado financeiro despencar e apagando os incipientes sinais de uma recuperação econômica do país".

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"Há três anos, o país está às voltas com uma grande investigação. Promotores dizem que precisam drenar o pântano de subornos, propinas e favorecimentos que engolem o sistema político do país. Mas, agora, parece que eles tentam drenar um oceano", disse o jornal

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O The New York Times destacou que o país vinha se preparando para superar uma fase ruim, "com o mercado financeiro em alta, banqueiros comemorando, legisladores se unindo em torno do corte de gastos e a inflação aparentemente controlada". "Então, em uma questão de horas, tudo começou a demoronar."

As novas delações "bombásticas mostram claramente que a turbulência econômica e política no maior país da América Latina está longe do fim". "Além disso, os políticos na linha de sucessão de Temer - inclusive os presidentes da Câmara e do Senado - estão envolvidos em investigações por corrupção, o que gera uma grande preocupação quanto à liderança e ao futuro do país", afirma o jornal americano.

O espanhol El País disse que Temer tornou-se um "ativo tóxico, em termos políticos", ressaltando que o presidente perdeu aliados em meio à crise, principalmente entre "os outros quatro partidos que formam o governo", além do PMDB.

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"Talvez o golpe mais simbólico tenha vindo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos barões do PSDB, e um ferrenho defensor de Temer no começo de seu mandato, que, em uma mensagem no Facebook, personificou o rechaço do establishment ao infeliz presidente: 'Tem a obrigação moral de facilitar a solução, ainda que seja com renúncia. O país tem pressa'."

O jornal argentino La Nación destacou as manifestações contra Temer após as delações virem à público, dizendo que a população, "farta de corrupção", voltou às ruas. "Em meio ao caos e à confusão política que reinam no país, as únicas duas coisas que estão claras para os brasileiros são: querem que Temer renuncie e que convoque eleições diretas."

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Joesley Batista gravou conversa que teve com o presidente Michel Temer
Foto: EPA / BBC News Brasil

A emissora alemã Deutsche Welle ressaltou em seu portal que Temer está no poder há pouco mais de um ano e afirmou que, em meio ao novo escândalo, a situação do presidente se complica. "Apesar de sua promessa de não renunciar, após as revelações de sexta-feira, é difícil para ele se manter no poder."

Na França, o jornal Le Figaro disse que "nuvens negras se acumulam sobre a cabeça do president Temer". "Tudo vai depender nos próximos dias se o chefe de Estado conseguirá manter suas alianças políticas, caso contrário, ficará isolado e irremediavelmente enfraquecido."

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O jornal britânico Financial Times também destacou a situação delicada do presidente em uma matéria na qual fala que um "açougueiro brasileiro deixa Presidência de Temer na ponta da faca".

A publicação disse que as delações "ameaçam derrubar o impopular governo de centro-direita de Temer e atrasar reformas que buscam reestabelecer as finanças em crise do país". "A questão é saber se a delação é sólida o suficiente para trazer abaixo o já instável governo Temer."

Por sua vez, o também britânico The Guardian afirmou que o Brasil se prepara para mais uma "carnificina política" com a acusação formal do presidente feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O jornal disse que Temer vem "cambaleando de crise em crise desde que assumiu o poder após planejar o impeachment de sua companheira de chapa", Dilma Rousseff.

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"As acusações contra o presidente abrem caminho para uma intensa batalha constitucional entre o Judiciário e o governo, aumentando a já alta tensão que levou a protestos violentos", afirmou o The Guardian.

A agência de notícias Bloomberg ressaltou como o novo escândalo ainda surpreende um país que já adquiriu uma casca grossa graças a tantos casos de corrupção. "No últimos três anos, não faltaram momentos de cair o queixo", disse em uma reportagem.

Já em um editorial, a Bloomberg afirmou que, "na mais recente reviravolta, a saga aparentemente sem fim não apenas ameaça paralizar reformas econômicas vitais, mas indica que a corrupção no governo brasileiro está literalmente fora de controle".

"Independentemente da culpa ou inocência de Temer, o brasileiro comum dificilmente aceitará fazer sacrifícios se legisladores enriquecem ilegalmente sem medo de punições. Se isso não mudar, as reformas econômicas são uma causa perdida - assim como o Brasil".

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Em matéria publicada no seu site, a revista Forbes comparou o Brasil a um "Titanic naufragando" e diz que Temer "precisa de um bote salva-vidas". A publicação debate os possíveis desfechos da crise e o futuro do governo, destacando que, em meio à crise, as reformas discutidas no Congresso "ficam em segundo plano".

No caso de eleições, disse na reportagem, Lula desponta como favorito. "Se ele ganhar, não é difícil imaginá-lo em uma posição semelhante à de Dilma ou Temer em algum momento no futuro, ou seja, voltamos mais uma vez a ter uma Presidência frágil no Brasil."

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