Repórteres Sem Fronteiras critica 'repressão brutal' da PM em São Paulo

Protesto contra aumento da tarifa de ônibus teve vários repórteres agredidos e presos pela PM

14 jun 2013 - 11h34
(atualizado às 11h55)
<p>A repórter Giuliana Vallone, da Folha de S. Paulo, foi atingida no olho por uma bala de borracha</p>
A repórter Giuliana Vallone, da Folha de S. Paulo, foi atingida no olho por uma bala de borracha
Foto: Guilherme Kastner / Brazil Photo Press

A "repressão brutal" de jornalistas nos recentes protestos em São Paulo contra o aumento das tarifas do transporte público representa, na avaliação da ONG Repórteres Sem Fronteiras, "um desvio repressivo perigoso" e também uma ameaça à liberdade de informação. A Polícia Militar reagiu às manifestação de quinta-feira no centro da capital paulista com bombas de efeito moral e balas de borracha. Vários jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos foram atingidos pelos disparos ou levaram golpes de cassetete; alguns deles chegaram a ser presos.

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"Vamos pedir à Secretaria dos Direitos Humanos e às autoridades brasileiras para realizarem uma investigação sobre as violências cometidas", disse à BBC Brasil Benoît Hervieu, responsável pelas Américas da Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, acrescentando que as autoridades precisarão explicar como a polícia chegou ao ponto de "realizar uma repressão tão brutal".

"A prefeitura e o governo de São Paulo e também o comando da Polícia Militar deverão prestar contas em relação às ordens transmitidas aos policiais", disse o porta-voz. "A Constituição brasileira está sendo desrespeitada. Além da brutalidade dos policiais, as acusações contra os jornalistas não têm fundamento", afirma Hervieu.

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Prisões 'escandalosas'

Em um comunicado que será divulgado nesta tarde, a ONG, que defende a liberdade de imprensa e luta contra a repressão a jornalistas, também pede a libertação do jornalista Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz, detido sob a acusação de "formação de quadrilha". "Essa acusação de formação de quadrilha é uma loucura", diz Hervieu, ressaltando que, na França, não ocorrem prisões de jornalistas que estão trabalhando na cobertura de manifestações nas ruas.

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Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

Repórteres como Marina Novaes, do Terra, Leandro Machado, do jornal Folha de S. Paulo, e Piero Locatelli, da revista Carta Capital, foram presos enquanto faziam a cobertura das manifestações e liberados depois. Para Hervieu, essas prisões de jornalistas em São Paulo são "particularmente escandalosas".

"Na França, houve um trabalho de formação dos policiais, nos anos 80, sobre como lidar com o trabalho da imprensa durante protestos nas ruas. Os policiais recebem a orientação de respeitar o trabalho dos jornalistas", afirma Hervieu.

"No Brasil, a violência da Polícia Militar é algo mais sistemático e é uma violação à liberdade de informação. Isso lembra a época do AI-5 (Ato Institucional número 5 da ditadura militar, que instituiu a censura)", embora não sejam os mesmos métodos, diz o representante da ONG RSF. "No Brasil, falta formação para os policiais. Falta sensibilização em relação ao princípio democrático de se manifestar", afirma Hervieu.

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Outro lado

Em declaração publicada pela Folha de S. Paulo, o Secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Grella, lamentou os episódios de violência policial na noite desta quinta-feira e afirmou que eles serão apurados. Grella qualificou de "inadmissível" a violência contra jornalistas. "Se ficar caracterizado que o ataque foi deliberado, vai haver responsabilização." O pedido de investigação foi enviado à Corregedoria da Polícia Militar. 

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, destacou que, nos protestos desta quinta-feira, "a imagem que ficou foi a da violência policial" e disse ser correta a decisão de Grella de abrir "um inquérito para apuração rigorosa dos fatos".

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, na quinta-feira, a Polícia Militar de São Paulo não se pronunciou sobre a conduta dos policiais durante o protesto, mas adiantou também que as denúncias de abusos serão investigadas. Contatada pela BBC nesta sexta-feira, a Polícia Militar do Estado ainda não havia comentado sobre o assunto até o fechamento desta reportagem.

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