Baratas, atrasos, muita sujeira nos veículos e motoristas trafegando em alta velocidade. Essa é a rotina que os passageiros dos ônibus das viações Paranapuan e Ideal, que trafegam pela Ilha do Governador, bairro da zona norte do Rio, enfrentam diariamente, segundo usuários ouvidos pelo Terra. Foi um ônibus da linha 328, que liga a microrregião do Bananal, na Ilha, ao centro da cidade, que despencou de um viaduto sobre a avenida Brasil na última terça-feira, deixando sete mortos e 10 feridos. A Ilha é um bairro que tem apenas uma mesma entrada e saída para veículos terrestres, e é refém também de um duopólio de empresas de ônibus, que, segundo os usuários, oferecem um péssimo serviço.
A advogada Pâmela Freire, moradora do Moneró, também na Ilha, relata diversos problemas nos ônibus que circulam na região. Ela conta que que já teve que descer de um ônibus da linha 910 (Bonsucesso - Bancários), da viação Paranapuan, que estava infestado de baratas. Ela acrescenta já ter ouvido relatos semelhantes de outros passageiros.
"Os ônibus que circulam pela Ilha são bastante ruins. São sujos e mal cuidados. Já tive que sair de um ônibus que tinha baratas. É um péssimo serviço", afirmou, no ponto final da linha 321, no centro.
Ela reclama da falta de opções, e lembra que os itinerários dos ônibus da Paranapuan e da Ideal não competem, o que elimina qualquer concorrência. A opção seria recorrer às vans, mas o transporte alternativo também é muito criticado pela advogada. "São veículos sempre cheios, e muitos motoristas não param nos pontos. Só sobram as vans, que são tão precárias quanto os ônibus", observou.
Técnico em manutenção de ar condicionado, Sandro Ferreira cita, especialmente, o tempo de uso da frota dos ônibus que circula pela Ilha, que segundo ele, é "velha e ultrapassada". A costureira Luzia Cesário reclama principalmente que os ônibus sempre andam cheios, e os motoristas correm bastante e são "abusados". "Poderia ser muito melhor, deixa muito a desejar. Mas enfrentamos um monopólio, não temos outra opção para pegar", comenta.
O auxiliar administrativo Mércio Iahn, 30 anos, lembra já ter visto, em mais de uma ocasião, discussões entre motoristas e passageiros pelo fato de um veículo não ter sido parado no ponto. "Os motoristas abusam. Ou correm demais, ou não param no ponto. Mas a principal reclamação que eu faço mesmo é em relação à velocidade", destaca.
A médica Iracema da Rosa diz utilizar o chamado "frescão", ônibus executivo com ar condicionado, cuja tarifa do centro para a Ilha custa R$ 5. A tarifa dos ônibus comuns é de R$ 2,75. Segundo ela, a opção pelo coletivo mais caro é para fugir dos outros ônibus, "sujos e com motoristas que correm muito". "O frescão é mais seguro e mais confortável. Pago mais caro, mas compensa", afirmou.
No ponto final do 328, a linha cujo ônibus despencou na avenida Brasil, os coletivos partiam quase vazios na tarde desta quarta-feira. Inevitavelmente, o acidente ocorrido na véspera era o assunto principal, e o personagem principal dos comentários era o motorista André Silva de Oliveira, que segue internado no Hospital Getúlio Vargas, na Penha.
"Ele é um cara tranquilão, já trabalhava na empresa há uns três anos, sempre como motorista", afirmou Pedro Silveira, funcionário da Paranapuan.
Um passageiro que não quis se identificar disse se lembrar do motorista. Segundo ele, Silva é um cara "esquentado", e já protagonizou algumas discussões no ponto final da linha, na rua. Uma delas, segundo ele, foi com um casal de idosos, que teria chamado a polícia. Outra foi com um guardador de carros que trabalha no local. Funcionários da Paranapuan que trabalham no local negaram que Silva tenha se envolvido em bate-bocas.
O Terra entrou em contato com a Paranapuan, mas não obteve resposta da empresa até o início da noite desta quarta-feira.