Uruguai vota para presidente de olho em resultado no Brasil

O atual presidente, José Mujica, enfatizou a importância da eleição brasileira para seu país que acontece neste dia 26 também

25 out 2014 - 13h26
(atualizado às 14h42)
<p>Candidato à Presidência do Uruguai Tabaré Vázquez em entrevista coletiva</p>
Candidato à Presidência do Uruguai Tabaré Vázquez em entrevista coletiva
Foto: Andres Stapff / Reuters

Os eleitores uruguaios vão às urnas neste domingo no primeiro turno das eleições presidenciais, com as atenções voltadas para o próprio país e para o resultado do segundo turno no Brasil.

Nos últimos dias, o presidente José "Pepe" Mujica, de 79 anos, prestes a deixar o cargo, enfatizou a importância da eleição brasileira para seu país.

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"O resultado da eleição deste domingo no Brasil tem tanta ou mais importância que o resultado eleitoral no Uruguai. É um fato determinante (para o Uruguai e a região)", disse Mujica, segundo a imprensa local.

E a mídia uruguaia, assim como a dos demais países da América do Sul, tem dedicado amplo espaço à campanha eleitoral brasileira, num sinal de máxima atenção ao que ocorre no país mais populoso e com a maior economia regional.

Para Mujica e para políticos e analistas ouvidos pela BBC Brasil, a eleição no Brasil definirá o "rumo" da América Latina, e principalmente da América do Sul.

Mujica tem boas relações com a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), e o uruguaio teria dito, segundo interlocutores, que uma eventual vitória de Aécio Neves (PSDB) "seria um desastre".

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No entanto, analistas ouvidos pelo jornal uruguaio El Observador apontaram que Montevidéu poderia ver vantagens em qualquer que seja o presidente eleito neste domingo no Brasil.

"Dilma reforçará o Mercosul e tem bom diálogo com o Uruguai", diz o jornal. "Aécio já adiantou que levará o Brasil a se abrir ao mundo, algo demandado tanto pela Frente Ampla (coalizão governista do Uruguai) quanto pela oposição."

Reportagem do jornal El País, da capital uruguaia, apresenta argumentos semelhantes. "Enquanto a atual presidente (brasileira) fala em fortalecer o Mercosul, Aécio Neves pretende modificar as normas que impedem os sócios do bloco de negociar acordos comerciais de forma individual, como pede o Uruguai."

'Aliança pragmática'

"Houve uma aliança política pragmática entre os governos do Uruguai e do Brasil nos últimos tempos, o que permitiu resultados concretos como acordos na área de infraestrutura, como energética", disse à BBC Brasil o professor de história e cientista político Gerardo Caetano, da Universidade da República.

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O opositor Luis Lacalle Pou é um dos candidatos mais fortes para a presidência do Uruguai
Foto: Andres Stapff / Reuters

Nos últimos dez anos, segundo dados oficiais, o comércio bilateral aumentou quase 400% e o Brasil está entre os principais investidores diretos no Uruguai, apesar de ter perdido recentemente para a China o título de maior exportador para o país vizinho.

Com 3 milhões de habitantes, o Uruguai é o menor país do Mercosul - bloco que conta ainda com Argentina, Paraguai e Venezuela -, o que explica a grande preocupação com os rumos adotados pelo sócio maior, o Brasil.

O senador governista Luis Gallo, da Frente Ampla, afirmou que ter o Brasil como "aliado" fortalece seu país.

"Uma coisa é o Uruguai sentar sozinho em uma mesa de negociação internacional e outra é estar com o Brasil. Além disso, o que ocorre no Brasil acaba influenciando toda a região. Nós estamos indo bem e queremos continuar assim", disse Gallo.

O pleito uruguaio

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No primeiro turno uruguaio, que será realizado neste domingo, os principais candidatos, segundo as pesquisas de opinião, são o ex-presidente Tabaré Vázquez, da base governista Frente Ampla, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, e Pedro Bordaberry, do Partido Colorado.

Lacalle Pou e Bordaberry são apontados pelos analistas como "parecidos" a Aécio Neves, pelas propostas que apresentaram até agora, principalmente na área de política externa.

Segundo Caetano, Tabaré e Dilma manteriam a "sintonia" que existe entre Dilma e Mujica.

O historiador afirmou ainda que pesquisas de opinião costumam mostrar que "o Brasil e os brasileiros são o país e o povo mais querido pelos uruguaios", num, sinal, entende, da "forte influência" do Brasil no país – o Uruguai foi província cisplatina entre 1817 e 1825 durante o reinado de Portugal, Brasil e Algarve (depois chamado Império do Brasil).

Analistas e políticos uruguaios de diferentes tendências apontam ainda a maior aproximação política do governo uruguaio com o governo brasileiro especialmente após as diferenças públicas vividas entre o Uruguai e seu tradicional sócio político e econômico, a Argentina.

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As diferenças ocorreram principalmente na época do ex-presidente Néstor Kirchner (2003 e 2007), quando uma ponte entre os dois países foi bloqueada em um protesto dos argentinos contra uma fábrica de pasta de celulose às margens do rio que compartilham, o Uruguai.

"Os dois governos, Uruguai e Brasil, acabaram ficando ainda mais próximos", disse uma fonte do governo brasileiro.

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