Especialistas acham 'inadequado' PM do Paraná usar pitbulls

'A raça tem esse paradigma de que é violenta, mas é um cão criado para o trabalho', diz tenente do Canil Central da PM paranaense

30 abr 2015 - 18h41
(atualizado às 20h59)
A PM do Paraná confirmou à BBC Brasil que tem dois cachorros da raça; o cão Steven, inclusive, participa de atividades com crianças
A PM do Paraná confirmou à BBC Brasil que tem dois cachorros da raça; o cão Steven, inclusive, participa de atividades com crianças
Foto: BBC News Brasil

Conhecidos como violentos e proibidos em países como Grã-Bretanha e Dinamarca e até no Estado de Santa Catarina, cães da raça pitbull foram usados na repressão ao protesto de professores no centro de Curitiba, capital paranaense, na tarde da última quarta-feira.

Um dos cães utilizados pela Polícia Militar do Paraná aparece em imagens de televisão mordendo um cinegrafista da Band durante o protesto que, segundo autoridades locais, terminou com ao menos 170 feridos (150 manifestantes e 20 policiais).

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Os professores protestavam contra um projeto que muda o sistema de previdência dos servidores. Após romperem um cerco policial no entorno da Assembleia Legislativa, onde a medida estava sendo votada, foram reprimidos pelos agentes com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cães, entre eles pitbulls.

A PM do Paraná confirmou à BBC Brasil que tem dois cachorros da raça e que eles começaram a ser usados pela corporação há oito anos.

Manifestante ferido foi atendido em um hospital municipal
Foto: Prefeitura de Curitiba

As Polícias Militares dos Estados mais populosos do Brasil – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro –, no entanto, não usam cães da raça.

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Ataque

Segundo o tenente Kleber Pioversan, do Canil Central da PM paranaense, o motivo do ataque de Steven – o nome do pitbull - não foi o instinto violento do cão. Ele disse que o profissional "atropelou" o cachorro, que reagiu.

"A raça tem esse paradigma de que é violento, mas é um cão criado para o trabalho. Tem força, personalidade forte, mas você precisa dar treinamento e educação para que obedeça e não aja por conta própria", diz.

Segundo ele, a fama de violência ocorre porque muitas pessoas não têm cuidado e treinamento e perdem o controle sobre o animal.

Pioverzan disse que o pitbull envolvido no incidente largou a perna do cinegrafista ao receber um comando e que, na verdade, ele é dócil, e que participa, inclusive, de apresentações com crianças.

O cão foi doado para a corporação quando tinha 60 dias e treinado pela Polícia Militar.

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Pioversan afirmou que uma linha de PMs com cinco cães foi usada na manifestação na rampa que dá acesso à Assembleia. Segundo ele, a intenção era impedir que os manifestassem chegassem ao plenário da Assembleia, onde ocorria a votação.

Ele afirmou que houve um tumulto e que, por isso, os repórteres avançaram para a rampa – o que não era permitido.

‘Fato inédito’ e ‘raça inadequada’

Para Paulo Storani, que foi capitão do Bope no Rio de Janeiro entre 1994 1999, o uso de cães da raça pitbull é inédito em forças policiais brasileiras.

"Até onde tenho conhecimento da minha experiência como policial, nunca ouvi relatos de utilização de cães desta raça nas polícias do país. De forma geral, nos adestramentos e treinamentos, é condição primordial que o cão seja submisso ao policial, ao condutor. A raça deve obedecer a comandos. No caso do pitbull, isso é algo muito limitado e imprevisível, dado o histórico violento deste tipo de cão", avalia.

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Storani - que também é mestre em Antropologia e professor do Instituto de Políticas Públicas e Ciências Policiais da Universidade Cândido Mendes - explica que no Rio de Janeiro já foram usados cães das raças rottweiler, fila brasileiro, pastor alemão e que atualmente o mais usado é o pastor de malinois, de origem francesa.

"Também são raças agressivas, mas a diferença é que respondem aos comandos dos policiais", diz.

Ele explica que em uma situação de grande estresse, como uma grande manifestação, a pressão sobre o cão aumenta consideravelmente, e o controle do policial sobre o animal é crucial até para que ele não ataque os próprios agentes.

Consultada pela BBC Brasil, a Polícia Militar do Estado de Minas Gerais classificou o uso de cães da raça pitbull por forças policiais como "inadequado".

O porta-voz da corporação, Gilmar Luciano, disse que, quando o pitbull morde, ele trava a mandíbula, ou seja, continua mordendo. Isso, de acordo com ele, trava também o sistema auditivo do animal, que passa a não responder a comandos. "É como um tubarão", afirmou.

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O ideal, segundo ele, é ter cães com mordida múltipla, que conseguem ouvir os comandos dos policiais. Ele explica que a raça usada em Minas para este tipo de ação é o pastor alemão.

Para Tânia Pinc, doutora em Ciência Política, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e major da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo, o uso de armas não letais e cães para conter manifestações é sempre um risco.

"Independentemente de ter havido excesso ou não, sempre que a polícia avança na escala do uso da força, ela vai machucar alguém, e isso por si só já é um problema. O ideal é que as forças policiais consigam manter a ordem sem que isto cause um prejuízo à integridade física ou moral do cidadão", diz.

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