A farmacêutica brasileira União Química começou um teste de produção do ingrediente ativo necessário para produzir a vacina russa contra Covid-19 Sputnik V, e planeja fabricar a própria vacina em abril, o que faria dela a primeira feita inteiramente no Brasil, disse a empresa à Reuters.
"Esta semana já iniciamos um lote piloto de aprendizado de produção de IFA (ingrediente farmacêutico ativo). Não é para uso", disse o cientista-chefe da União Química, Miguel Giudicissi, à Reuters.
O Brasil está dependendo atualmente da exportação de ingredientes ativos de vacinas pela China para produzir vacinas contra a Covid-19, doença que já deixou mais de 210 mil mortos no país, mas o envio pelos chineses tem atrasado.
A Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantan preveem começar a produzir vacinas inteiramente no país apenas no segundo semestre -- em agosto a vacina da AstraZeneca será fabricada pela Fiocruz, e no final de setembro o Butantan começará a fabricar a vacina da Sinovac.
Giudicissi disse que o contrato da União Química com o Fundo de Investimento Direto da Rússia (RDIF), que está comercializando a Sputnik V, contempla uma transferência de tecnologia de 100% que já está bem encaminhada. Células e clones de vírus chegaram para iniciar a produção no Brasil sem necessidade de importação do ingrediente ativo.
"Nosso contrato é de transferência total de tecnologia. Já recebemos as células e os clones dos vírus. Já está tudo certo e vamos produzir aqui no Brasil", afirmou.
"Não será necessário importar IFA, e isto criaria uma autonomia para o Brasil de vacina para Covid", disse Giudicissi em uma videoconferência.
Executivos da empresa se reunirão com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda nesta quinta-feira para fornecer informações adicionais que o órgão regulador solicitou para conceder uma autorização de uso emergencial à Sputnik V.
O executivo-chefe do RDIF disse em Moscou que a União Química está iniciando o processo de envasamento e embalagem da vacina e que acelerará a produção em fevereiro. Ele ainda disse que espera que a aprovação regulatória do Brasil seja resolvida nas próximas semanas.
Os parceiros russos fornecerão resultados adicionais de testes clínicos de estágio avançado com 22 mil voluntários na Rússia --de um total de 44 mil-- que devem convencer a Anvisa de que a Sputnik V é segura e tem uma eficácia de 90%, disse Giudicissi.
O RDIF tem 400 mil doses prontas para serem enviadas ao Brasil assim que a Anvisa liberar o uso emergencial, a serem seguidas por 4,6 milhões de doses em fevereiro e seis milhões em março graças ao processo de envasamento da União Química em sua linha de produção de São Paulo.