Wajngarten relata carta da Pfizer sem resposta por 2 meses e é ameaçado de prisão na CPI

12 mai 2021 - 19h44
(atualizado às 19h50)

O ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten, que chegou a ser acusado de mentir e foi ameaçado de prisão, prestou informações relevantes à CPI da Covid no Senado, como o relato de carta da Pfizer encaminhada a diversas autoridades do governo federal que ficou dois meses sem resposta.

Ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten presta depoimento à CPI da Covid no Senado
12/05/2021
REUTERS/Adriano Machado
Ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten presta depoimento à CPI da Covid no Senado 12/05/2021 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

O ex-chefe da Secom apresentou divergências em seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e evitou confirmar que tenha responsabilizado o Ministério da Saúde pelo atraso na vacinação publicadas pela revista Veja em abril, levando senadores a o acusarem de mentir.

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O relator da CPI da Covid no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), pediu a prisão do ex-secretário por considerar que Wajngarten promoveu um "espetáculo de mentira" à comissão e citou como exemplo declarações do ex-secretário sobre a campanha "Brasil não pode parar". O ex-secretário disse à CPI que a campanha estava em fase de teste e em "nenhum momento" teve autorização para ser veiculada.

O relator argumentou ainda que deixá-lo sair ileso do depoimento abrirá uma porta para que outros sintam-se confortáveis em não falar a verdade à comissão.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), rejeitou o pedido de prisão, argumentando que o país precisa de equilíbrio. Ponderou ainda que Wajngarten prestou informações importantes à CPI.

"Na CPI hoje talvez tenha sido o melhor depoimento em termos de informação. Não é se ele falou a verdade ou não aqui. Eu estou dizendo para vocês que a informação que nós tivemos é muito grave... Então, é baseado nisso que nós estamos trabalhando. Agora, sobre prisão, esquece, que eu não irei fazer... não serei carcereiro", disse Aziz.

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Após a CPI ter sido retomada, já à noite, Aziz anunciou o envio de cópia do depoimento de Wajngarten para o Ministério Público apurar se houve crime nas declarações.

O pedido de prisão feito por Renan levou o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro e que não é integrante da CPI, a comparecer à reunião e provocou tumulto ao referir-se ao relator como "vagabundo".

Flávio acusou outros depoentes de faltarem com a verdade na CPI, na sua opinião, e também questionou a veracidade de entrevista do ex-secretário publicada pela revista Veja, que motivou sua convocação à CPI.

SEM RESPOSTA

A principal informação a que Aziz se referia diz respeito a uma carta com oferta de vacinas que a Pfizer enviou no início de setembro endereçada ao presidente Jair Bolsonaro, ao ministro da Economia, Paulo Guedes; aos então ministros da Saúde, Eduardo Pazuello, e da Casa Civil, Braga Netto, além do vice-presidente Hamilton Mourão e o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster. O documento, compartilhado por Wajngarten com a CPI, alertava para a necessidade de a negociação ser tocada com celeridade, diante da demanda mundial por vacinas.

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Ainda assim, em novembro, a oferta não havia sido respondida, motivo pelo qual Wajngarten tomou a iniciativa de entrar em contato com um representante da Pfizer em Nova York. Em seguida, o ex-secretário teria recebido telefonema do presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, e imediatamente dirigiu-se ao gabinete do presidente da República.

Bolsonaro, contou Wajngarten no depoimento, estava reunido com o ministro da Economia. Guedes teria manifestado-se favorável à compra da vacina, enquanto Bolsonaro teria sinalizado que uma vez aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os imunizantes seriam comprados.

"Eu falei: 'presidente, estou com o presidente da Pfizer na linha'. Ele despachava com o ministro Paulo Guedes nesse momento. O ministro Paulo Guedes fala, abre aspas: 'É esse o caminho. É esse o caminho. O caminho são as vacinas', fecha aspas", disse Wajngarten. "Isso aconteceu no 9 de novembro."

O ex-secretário relatou ter se encontrado dias depois com Murillo. Depois, teve mais dois encontros com representantes da empresa. Apesar desses encontros, negou que tenha participado ativamente das negociações ou tratado de termos ou valores.

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Admitiu à CPI, no entanto, que trabalhou para aumentar o volume de doses e reduzir o prazo de entrega. Também relatou que havia insegurança jurídica e que a empresa impunha três cláusulas que tornavam a decisão difícil.

O ex-secretário não confirmou ter atribuído os atrasos na vacinação contra a Covid-19 a Pazuello e sua equipe.

Em áudio divulgado pela Veja nesta tarde, Wajngarten teria dito, questionado se havia ocorrido negligência ou incompetência do governo, particularmente do Ministério da Saúde, que foi "incompetência, incompetência; quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando na negociação e você tem do outro lado um time pequeno, tímido, sem experiência, é 7 a 1".

Wajngarten afirmou que nessas conversas iniciais a Pfizer teria oferecido "irrisórias" 500 mil doses e não 70 milhões, como traz a entrevista da Veja.

No depoimento à CPI Wajngarten afirmou que "alguém" informava Bolsonaro de forma errada por "incompetência" ou "dolo", reforçando tese em estudo pelos senadores sobre um comitê paralelo de aconselhamento do presidente da República.

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Também em depoimento à CPI, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta relatou que Bolsonaro se aconselhava com um grupo paralelo sobre o enfrentamento ao coronavírus, chegando a aventar uma mudança na bula da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a Covid-19, para incluir o tratamento contra a doença.

IMPACTO

Wajngarten tomou cuidado para não se indispor com Bolsonaro. Repetiu em diversas ocasiões que o presidente havia se comprometido a comprar qualquer imunizante que fosse aprovado pela Anvisa.

Também evitou comentar objetivamente declarações de Bolsonaro questionando os efeitos da vacina ou anunciando que não iria se submeter ao imunizante.

"De que forma essas frases impactaram a população?", questionou Renan.

Wajngarten respondeu que a população recebe inúmeras mensagens de diferentes meios e de diferentes conteúdos. "O discurso presidencial é um. A televisão, a narrativa, o rádio... É um complemento de informações que vai resultar na tomada de decisão da população brasileira. Impacta? Impacta. É único? Não, não é."

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As respostas muitas vezes pouco objetivas do depoente provocaram reações e o presidente da CPI o alertou que estava ali na condição de testemunha, mas poderia ser reconvocado como investigado.

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