A um ano e meio das eleições, a pré-campanha para a disputa de 2022 ganhou força nas redes sociais nesta semana, com militantes e possíveis candidatos à Presidência testando estratégias e explorando a linguagem própria do marketing digital, com memes, vídeos e paródias.
O PDT de Ciro Gomes contratou o marqueteiro João Santana, em seu primeiro trabalho após condenação na Lava Jato, e lançou uma série de vídeos prometendo emprego aos "desassistidos" e "inconformados". As "pílulas" para internet exploram a rosa, símbolo dos pedetistas. Além disso, o presidenciável lança nesta sexta-feira, 30, a série biográfica em vídeo "Ciro, o dever da esperança", produzida a partir de entrevista realizada por sua mulher, a produtora cultural Giselle Bezerra.
Um dos nomes mais recentes a figurar no time dos presidenciáveis, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) viu surgir nas redes o movimento "PresidenTasso", criado por militantes da juventude tucana no Ceará. A logomarca tem as duas letras "s" de Tasso coloridas em verde e amarelo, num modelo parecido ao adotado em 1989 pelo então candidato à Presidência Fernando Collor de Mello, hoje senador. A campanha tem sido compartilhada por nomes como a economista Elena Landau, que atuou no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Além da logomarca, já foram criadas páginas no Instagram e no Twitter, nas quais Tasso exibe a faixa presidencial. Em outra montagem, o político aparece em frente a um ônibus, no mesmo cenário que estampa a capa de Girl From Rio!, single da cantora Anitta. Tasso tem sido associado às ideias de "alternativa", "equilíbrio" e "terceira via".
O tucano é um dos nomes cotados para disputar as prévias do PSDB, em outubro, que também devem ter como postulantes os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio é pré-candidato, mas disse que desistirá se Tasso entrar no páreo. Doria, por sua vez, adotou nas redes o uso de montagens debochadas e continua a rivalizar diretamente com o presidente Jair Bolsonaro. O governador incorporou ao personagem a "calça apertada", expressão usada por Bolsonaro e seus seguidores para ironizar seus trajes.
Na segunda-feira, por exemplo, Doria publicou meme com Bolsonaro correndo atrás dele, imagem que costuma ser associada a pessoas com mania de perseguição. "Sai, maluco, todo dia isso", diz Doria na postagem, após Bolsonaro afirmar que ele estava "obcecado pelo poder". Outro bordão usado pelo governador é o "Vou te vacinar", em alusão à vacina do Instituto Butantan, a Coronavac, um de deus principais trunfos na disputa com o presidente.
Mais discreto, o gaúcho Eduardo Leite intensificou conversas nos bastidores e esteve em Brasília, onde conversou quarta-feira, 28, com o presidente do Cidadania, Roberto Freire. O governador disse a Freire que continua a construir sua pré-candidatura, desejando se apresentar como opção de futuro.
Lula
Principal adversário de Bolsonaro, segundo as pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma série de vídeos e sugestões de jingle em circulação nas redes sociais do PT, feitos com paródias de músicas, no estilo "pisadinha". Produtores musicais que fazem jingles políticos também gravaram versões de hits do gênero popular no Nordeste.
A mais recente é a música "Tô com saudade do tempo de Lula". O vídeo exibe imagens do ex-presidente nos braços de petroleiros, de obras e programas sociais da gestão petista, como Minha Casa, Minha Vida, Luz Para Todos e Farmácia Popular. Além disso, faz referência à demora na vacinação contra covid, que tem causado desgaste para a imagem de Bolsonaro. Numa das últimas cenas, a foto oficial de Lula presidente é pendurada de volta na parede.
"Eu tô com saudade do tempo de Lula, de votar em Lula, no 13 de novo. Não tô aguentando o dinheiro acabando, e nós sofrendo, comendo só ovo", diz o refrão criado por Juliano Maderada. Filiado ao PT em Iguaí (BA), Maderada promete lançar mais músicas contra Bolsonaro, uma delas com o refrão "tira esse cara daí".
Para o estrategista político Bruno Soller, que presta consultoria para partidos como Cidadania e Progressistas, o momento é de construção de nomes que desejam se apresentar como "terceira via", disputando eleitores que rejeitam tanto Lula como Bolsonaro. À exceção de Ciro Gomes e do apresentador de TV Luciano Huck - que ainda não decidiu se será candidato -, os demais são pouco conhecidos, segundo pesquisas conduzidas por Soller, principalmente no Nordeste.
"Hoje, na cabeça do eleitor, só se imagina uma disputa entre dois nomes: Lula e Bolsonaro. Tirando Ciro, que deve se reposicionar, o restante todo precisa construir imagem. Mesmo João Doria ninguém sabe quem é. Nem mesmo a paternidade da vacinação ele conseguiu. Isso não chega ao interior de Pernambuco, da Paraíba. É muito difícil romper essa polarização", disse Soller.
Na avaliação de Marcelo Vitorino, especialista em marketing político, o melhor meio para campanha, no momento, é o digital. "Os candidatos não vão ter hoje espaço na mídia tradicional para gerar conhecimento. O eleitor é o mesmo, mas espera um formato diferente."