Candidato de centro-direita no Uruguai rejeita apoio de Bolsonaro

31 out 2019 - 20h56
(atualizado às 21h20)

Fala do presidente sobre eleição uruguaia não é bem recebida no país vizinho. Lacalle Pou critica manifestação de apoio e se distancia de Bolsonaro, e governo em Montevidéu convoca embaixador brasileiro a dar explicação.As declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a eleição presidencial no Uruguai não repercutiram bem no país vizinho. O candidato de centro-direita Luis Lacalle Pou rejeitou o apoio do brasileiro, enquanto o governo uruguaio convocou o embaixador do Brasil a dar explicações.

Luis Lacalle Pou (foto), da oposição de centro-direita, disputará segundo turno com  Daniel Martínez, de esquerda
Luis Lacalle Pou (foto), da oposição de centro-direita, disputará segundo turno com Daniel Martínez, de esquerda
Foto: DW / Deutsche Welle

Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo na terça-feira (29/10), Bolsonaro afirmou que nunca teve problemas com o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, mas que prefere uma vitória da oposição, representada por Lacalle Pou, no segundo turno das eleições presidenciais.

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Segundo o brasileiro, o candidato de centro-direita está mais alinhado com seus pensamentos "liberais e econômicos" do que seu adversário, o candidato governista Daniel Martínez, de esquerda. Se Lacalle Pou vencer em novembro, o Uruguai estaria "mais afinado" com o Brasil, disse Bolsonaro.

No dia seguinte, Lacalle Pou tentou se distanciar do brasileiro, dizendo não concordar com as palavras do chefe de Estado. "Se eu fosse presidente da República, e houvesse uma eleição no Brasil, a última coisa que eu faria seria dizer quem eu prefiro que ganhe", disse o candidato durante uma reunião na quarta-feira.

Em entrevista ao jornal local El Observador, Lacalle Pou insistiu que não lhe parece "uma coisa boa que diferentes políticos, e nesse caso um governante, opinem sobre o que pode acontecer em outro país". "O Uruguai, por sorte, não decide o que os brasileiros pensam, decide apenas o que acontece e o que precisam os uruguaios", completou.

O governo uruguaio também recebeu mal a fala de Bolsonaro e manifestou seu "incômodo" com o que considerou uma "interferência do presidente brasileiro" em assuntos internos do país.

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Nesta quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Uruguai convocou o embaixador brasileiro em Montevidéu, Antônio Simões, para uma reunião, solicitando explicações sobre as declarações do presidente a respeito do processo eleitoral uruguaio.

O Uruguai é governado desde 2005 pela coalizão Frente Ampla, de esquerda, primeiro com José Mujica e depois com o atual presidente, Tabaré Vázquez. O grupo tenta agora permanecer no poder com seu candidato Daniel Martínez, que é ex-prefeito de Montevidéu.

Já Lacalle Pou é advogado, ex-senador e filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995). Candidato pelo Partido Nacional, ele tem recebido o apoio de toda a direita uruguaia.

No primeiro turno, em 27 de outubro, Lacalle Pou obteve 28,59% dos votos, enquanto Martínez somou 39,17%. A segunda rodada de votação ocorrerá em 24 de novembro.

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Não foi a primeira vez que Bolsonaro opinou sobre eleições em outro país. Também no domingo passado, os argentinos foram às urnas eleger seu presidente, e o brasileiro deixou claro seu apoio à reeleição de Mauricio Macri, de centro-direita. O peronista Alberto Fernández, contudo, venceu o pleito no primeiro turno - e foi alvo de críticas de Bolsonaro, que lamentou o resultado.

Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores do presidente Macri, Jorge Faurie, informou ter enviado uma "carta pessoal" ao embaixador brasileiro em Buenos Aires, Sérgio Danese, para repudiar as críticas de Bolsonaro à vitória de Fernández.

O chanceler argentino chamou de "inapropriadas" as declarações tanto do presidente brasileiro como de seu filho Eduardo Bolsonaro, que afrontou nas redes sociais o filho do presidente eleito, Estanislao Fernández.

"Há algumas expressões que são inapropriadas. Comentei isso numa nota que enviei, a título pessoal, ao embaixador do Brasil sobre alguma das coisas de ontem que não são necessárias", revelou Faurie, em coletiva de imprensa na Casa Rosada, sede do governo argentino.

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EK/efe/lusa/ots

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