O que andam espalhando: reprodução do programa Estúdio i, do canal Globo News, em que jornalistas comentam o relatório final da Polícia Federal sobre a trama para um golpe de Estado para impedir a posse do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Legenda sobreposta ao vídeo diz: "Globo entra em pânico ao não ver o nome do (Jair) Bolsonaro no relatório final da PF sobre o gopi (sic)".
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A postagem checada distorceu um trecho do programa jornalístico, que explicava a tese jurídica em discussão na imputação de culpa ao ex-presidente (entenda mais abaixo).
Jair Bolsonaro aparece entre os 36 indiciados pela Polícia Federal. A corporação afirmou, ao longo de nove páginas do relatório, que o ex-presidente "planejou, atuou e teve o domínio de forma direta" do esquema.
Após o indiciamento pela PF, Bolsonaro fez críticas à atuação do ministro Alexandre de Moraes, falou que a equipe de investigadores "usa a criatividade" para denunciá-lo e que deve esperar o acolhimento ou não da ação pela Procuradoria-Geral da República: "É na PGR que a luta começa".
Saiba mais: a postagem mostra que a notícia discutida no programa era: "Moraes retira sigilo e envia inquérito do golpe à PGR". Isso permitiu identificar que trata-se da edição de 26 de novembro de 2024, data em que o ministro do Supremo Tribunal Federal enviou o indiciamento dos envolvidos para a PGR. O Verifica assistiu ao programa e verificou que o sentido original dos comentários foi distorcido.
No trecho do programa utilizado na postagem, a jornalista Andreia Sadi comenta que a PF dividiu os indiciados entre seis núcleos de atuação. O nome de Bolsonaro não aparece em nenhuma das listas. O co-apresentador Otávio Guedes questiona: "O nome de Jair Messias Bolsonaro não aparece (como integrante) em nenhum dos seis núcleos. Então como ele é indiciado?"
Trata-se apenas do começo do comentário do jornalista. Em seguida, ele explica que a PF diz que Bolsonaro tinha conhecimento e comando sobre as ações de todos os núcleos. Também dá exemplos de casos semelhantes no meio jurídico. Essa continuação é fundamental para entender o sentido original da fala do jornalista, mas foi propositalmente excluída do vídeo checado.
Confira a íntegra do comentário de Otávio Guedes aqui (a partir de 20m18s). Leia abaixo a transcrição:
"Eu queria chegar no domínio do fato. O que está descrito aqui (no relatório final da PF) são os autores materiais do golpe. Os autores materiais. E existe o detentor dos fatos. Que é, segundo o relatório da PF, o Jair Messias Bolsonaro. Você vê que ele não entra nos grupos operacionais, o que não o livra do crime. É isso que vai ser o debate entre defesa e acusação."
Para os investigadores, as provas apontam "de forma inequívoca" que o ex-presidente Bolsonaro "planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa". Segundo eles, os indiciados almejavam um golpe de estado e a abolição do estado democrático de direito. Ainda de acordo com os investigadores, o golpe não se concretizou "em razão de circunstâncias alheias" à vontade do grupo investigado.