Governo não propôs vender alimentos vencidos à população de baixa renda

POSTAGEM CORTOU TRECHO DE PROGRAMA DA GLOBONEWS EM QUE REPÓRTER EXPLICA QUE ASSOCIAÇÕES DE SUPERMERCADOS E INDÚSTRIA DE ALIMENTOS DERAM IDEIA DE MUDAR ETIQUETA DE ALIMENTOS NÃO PERECÍVEIS; NÃO EXISTE PROPOSTA PARA VENDA DE CARNE ESTRAGADA PARA MAIS POBRES

23 jan 2025 - 17h22

O que estão compartilhando: que o governo federal propôs vender alimentos vencidos para a população de baixa renda e que será vendida picanha estragada.

Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Na realidade, a proposta era modificar a forma de informar a validade de alimentos não perecíveis, não vender carne estragada. A ideia partiu de associações de supermercados e da indústria de alimentos, não do governo federal. A iniciativa foi rejeitada pela Casa Civil.

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O Verifica procurou o autor do conteúdo, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.

Saiba mais: O vídeo exibe um pequeno trecho do programa Estúdio i, da Globo News, em que a jornalista Juliana Braga fala sobre medidas para baixar o preço dos alimentos. Uma das possíveis medidas seria uma mudança na regulação da data de validade de alguns alimentos. Ela relata que entrevistou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, sobre o tema.

A sugestão sobre a data de validade foi levada ao presidente Lula por associações de supermercados e da indústria de alimentos em uma reunião ocorrida em junho do ano passado. A proposta consistia em adotar uma política chamada "best before", que já é usada em países como EUA e Canadá.

Neste modelo, alguns produtos, como grãos e outros embalados a vácuo, recebem uma etiqueta de validade com uma recomendação de que seja consumido preferencialmente antes de uma determinada data. Nas embalagens de alguns alimentos não perecíveis, em vez da inscrição "válido até" viria escrito "melhor consumir até".

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Toda esta fala da jornalista, contudo, foi cortada do vídeo viral, dando a entender que o governo pretende vender produtos vencidos à população de baixa renda. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o governo não cogita essa possibilidade.

O trecho do programa Estúdio i que trata do assunto foi ao ar nesta quarta-feira, 22, a partir das 14h14, e tem três minutos e 29 segundos de duração. O vídeo viral, por outro lado, tem um minuto e sete segundos, incluindo comentários opinativos do autor.

Governo não fez, e sim recebeu proposta sobre data de validade

A repórter da GloboNews disse que tentou descobrir quais medidas o governo poderia adotar para baixar os preços dos alimentos, mas acrescentou que os ministros estão receosos de antecipar medidas depois de um "puxão de orelha" dado pelo presidente. Em seguida, ela afirma:

"Mas, o próprio ministro Rui Costa dá uma dica na fala que ele fez hoje mais cedo, dizendo que medidas em supermercados já poderiam ser adotadas no primeiro bimestre. E aí eu fui atrás, descobri que o presidente Lula teve uma reunião com associações de supermercados e da indústria de alimentos em junho, no meio do ano passado, e essas associações levaram uma sugestão para se alterar, para mexer a regulação da data de validade dos alimentos. E aí seria o seguinte: adotar uma política que já é adotada nos Estados Unidos e no Canadá que eles chamam lá de 'best before', ou seja, em vez de ser uma data de validade limite pro consumo do alimento, seria uma recomendação, 'é melhor usar antes da data tal'. Segundo a ABRAS, que é uma dessas associações que foi ouvida pelo presidente Lula no ano passado, isso poderia representar uma redução no desperdício de alimentos em até R$ 3 bilhões. E isso, só pra gente pontuar aqui, valeria apenas para alimentos menos perecíveis, como alimentos embalados a vácuo, grãos, enlatados, ou seja, biscoitos, aqueles alimentos que têm menos riscos de estragarem. Agora, ressaltando que há um receio dentro do governo de antecipar essas medidas, tudo só vai ser decidido, o martelo só vai ser batido após uma reunião com o presidente Lula, que está prevista, já há uma expectativa de que esta reunião aconteça no início da semana que vem. Mas, dada a sensibilidade do assunto, pode ser que eles antecipem já para essa semana".

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Esta fala inteira, contudo, foi cortada do vídeo, que só exibe a parte final, quando a apresentadora Andréia Sadi afirma se tratar de um "furo" de reportagem. Também aparece no vídeo enganoso o questionamento do jornalista Octavio Guedes sobre como ficaria o aviso de validade nos produtos. Juliana Braga então resume a proposta como uma "oficialização da xepa". Ela repete que a proposta não valeria para alimentos perecíveis.

Ministro disse que governo não cogita venda de alimentos fora da validade

Em entrevista à televisão CNN na noite desta quarta-feira, 22, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, negou que o governo cogite a possibilidade de vender alimentos fora do prazo de validade.

"O presidente Lula se reuniu com as entidades atacadistas de supermercado no final do ano passado e elas apresentaram um conjunto de sugestões, foram várias", disse. "A venda de produtos com validade vencida não é a cultura, nem a prática do Brasil. Para alimentos, para uso pessoal, eu acho que não faz parte da nossa cultura isso e não está no nosso cenário adotar essa medida".

Ele acrescentou que o foco das próximas reuniões será em soluções que pensem no aumento da produção de alimentos que tiveram maior variação de preços recentemente.

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Não há proposta do governo de vender carne podre

O autor do vídeo também exibe uma publicação do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) no X, em que o parlamentar diz que "A picanha não veio, e se vier, será podre".

O tema das carnes estragadas virou notícia nesta quarta-feira, 22, depois que quatro pessoas foram presas em uma empresa no Rio de Janeiro que maquiou e revendeu carne podre que ficou submersa na enchente de Porto Alegre (RS).

A empresa arrematou 800 toneladas de carne estragada de um frigorífico da capital gaúcha alegando que fabricaria ração animal, mas o produto foi vendido para açougues e mercados de todo o Brasil. O esquema foi descoberto porque o próprio frigorífico que havia vendido a carga para a empresa do Rio de Janeiro comprou de volta, e identificou o produto pelo lote.

Não há qualquer menção a envolvimento do governo no caso. A operação que resultou nas prisões foi liderada pela Delegacia do Consumidor do Rio (Decon-RJ).

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