O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, avaliou que a pressão do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, pela aprovação do voto impresso não era apenas uma ameaça às eleições de 2022. Para Ciro, a "mensagem macabra" que o general enviou para ser comunicada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), implicava também na volta da ditadura, com o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em vídeo postado nas redes sociais, Ciro usou seu costumeiro tom irônico para afirmar que somente a "velhinha de Taubaté, personagem do escritor Luís Fernando Veríssimo, acreditaria que Braga Netto não mandou aquele recado dizendo que não haveria eleições em 2022, caso o Congresso não aprovasse a proposta de emenda constitucional do voto impresso. A proposta está em tramitação na Câmara e somente será analisada novamente após o recesso parlamentar, em agosto. Os bastidores dessa nova crise foram revelados nesta quinta-feira, 22, pelo Estadão.v
"Peraí! Vamos deixar de eufemismo", disse Ciro no vídeo. "O general não estava ameaçando apenas as eleições. Na mensagem macabra estava implícito o fechamento do Congresso, do Supremo e de todas as instituições livres. Era simplesmente a volta da ditadura porque, para não haver eleições, precisaria todo este desmonte da nossa estrutura democrática".
Ciro classificou a ameaça como um "Ato Institucional BolsoBraga", mais violento que o AI-5, marco da ditadura militar no País. "O Ato Institucional BolsoBraga seria algo mais violento que o AI-5, pois o ato máximo do arbítrio da ditadura militar, o famigerado AI-5, veio gradativamente, após quatro anos de perdas constantes de liberdades. O Ato Institucional BolsoBraga chegaria de chofre. Queria ser como Rei Momo, primeiro e único!", afirmou o ex-ministro, numa referência ao presidente Jair Bolsonaro, que é candidato ao segundo mandato. Até agora, Ciro aparece como um dos postulantes da chamada "terceira via" na disputa de 2022.
Não são só as eleições de 2022 que estão sob a ameaça de Bolsonaro e do general Braga Netto. É a própria democracia brasileira. É preciso enxergar isso com muita clareza antes que seja tarde demais. Não ao golpe! Não à volta da ditadura. Impeachment já! #BolsoBraga #ForaBolsonaro pic.twitter.com/bHaMohPVY4
— Ciro Gomes (@cirogomes) July 23, 2021
Como mostrou o Estadão nesta quinta-feira, 22, Braga Netto mandou um duro recado a Arthur Lira, no último dia 8, por intermédio de um importante interlocutor político. Na ocasião, o general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável.
Bandeira do presidente Jair Bolsonaro, o voto impresso está em análise na comissão especial da Câmara. O Palácio do Planalto alega que o sistema da urna eletrônica, tal como existe há 25 anos, é passível de fraude, mas nunca apresentou provas de qualquer irregularidade. O Palácio do Planalto está prestes a sofrer uma derrota nesta votação.
No mesmo dia do aviso dado por Braga Netto, Bolsonaro também repetiu a ameaça. "Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições", disse ele a apoiadores, no último dia 8, na entrada do Palácio da Alvorada.
Líder do Centrão, bloco de sustentação do governo no Congresso, Lira procurou Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, e afirmou que não esperasse o apoio da Câmara para qualquer ruptura institucional.
"Mesmo que tudo não passasse de fanfarronice, típica de quem se acostumou, durante a ocupação militar do Rio, a enfrentar milícias, é algo simplesmente inconcebível e inimaginável que, no Brasil do século 21, um general tenha tamanha petulância", insistiu Ciro, no vídeo postado nas redes sociais.
Bolsonaro, na sua avaliação, atraiu as Forças Armadas para uma das maiores "ciladas da história brasileira recente" ao retirá-los da função de protetores da segurança nacional e transformá-los em defensores de um governo e de um grupo que está temporariamente no poder. "Hoje o Brasil não tem uma boa política de governo nem tem uma boa política de defesa", argumentou.
Ao defender o impeachment de Bolsonaro, Ciro manifestou surpresa com o que chamou de "capacidade que o Brasil está tendo de engolir não sapos, mas verdadeiros dinossauros e continuar dormindo em berço esplêndido". O candidato do PDT disse, ainda, que a "complacência dos brasileiros" é uma das razões para os "sucessivos abusos" de Bolsonaro. "Começaram com uma sucessão de escatologias e terminaram no martírio de mais de meio milhão de brasileiros", criticou ele, numa referência aos mortos pela pandemia do novo coronavírus.