A maioria das empresas está tendo dificuldade para ter acesso à ajuda emergencial do governo federal. Com queda no faturamento e caixa no limite, as companhias relatam que não conseguem ter acesso às linhas de crédito para cumprir obrigações de curto prazo.
Uma pesquisa feita pela consultoria Quist Investimentos, especializada em reestruturação de empresa e recuperação judicial, mostra que 78% das companhias consultadas não tiveram acesso a nenhum tipo de crédito desde o anúncio da equipe econômica. A sondagem ouviu 100 empresas com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões.
Entre aqueles que tiveram acesso, 17,5% declararam que a ajuda emergencial esbarrou na falta de informações nos bancos e que os profissionais dos bancos de repasse não tinham orientações claras sobre como seriam operacionalizadas na prática as linhas de socorro.
Apenas 22% das empresas disseram ter tido acesso a crédito. Mas, nesse caso, acabaram pegando empréstimos pré-aprovados pelo banco de relacionamento e não a ajuda emergencial do governo. "O dinheiro está empoçado porque o banco está com medo do que vai ocorrer. Há muito incerteza", diz o presidente da Quist, Douglas Duek.
Segundo ele, os bancos só vão conceder crédito para quem tem uma nota de crédito melhor. Aqueles que representam mais risco não terão acesso a dinheiro novo. "Nesse cenário, quem estava mal vai entrar em colapso. Quem estava bem vai ficar ruim."
Para Duek, apesar de os bancos serem apenas repassadores do dinheiro público, eles terão muito trabalho se houver problema de inadimplência porque teriam de ir atrás dos devedores. "As instituições não querem ficar corresponsáveis pelas dívidas com o BNDES e ter de cobrar e administrar uma carteira de crédito de empresas que eles não aprovam."
O executivo acredita que uma das soluções seria o BNDES criar Fundos de Investimentos de Direito Creditório (Fidc), que seriam os repassadores do dinheiro. Nessa situação, o banco estatal entra como cotista do fundo e uma outra instituição faz a administração do fundo."
Segundo ele, que tem acompanhado o dia a dia de algumas empresas, as empresas estão criando comitês de crise, que neste momento estão selecionando as prioridades de pagamento. "Funcionários estão sendo dispensados, novos investimentos postergados e lojas deficitárias fechadas. Só está sendo pago coisas consideradas essenciais."