À beira do colapso na saúde, RN endurece isolamento social

Governadora Fátima Bezerra (PT) determinou, com apoio da força policial, o fechamento de empreendimentos listados como não essenciais

5 jun 2020 - 18h20
(atualizado às 18h44)
À beira do colapso na saúde, Governadora Fátima Bezerra (PT) determinou, com apoio da força policial, o fechamento de empreendimentos listados como não essenciais
À beira do colapso na saúde, Governadora Fátima Bezerra (PT) determinou, com apoio da força policial, o fechamento de empreendimentos listados como não essenciais
Foto: Pedro França/Agência Senado / Estadão Conteúdo

NATAL - Com uma ocupação de leitos críticos para o tratamento de pacientes com suspeita ou confirmados para a covid-19 que supera os 96,5% nas regiões Oeste e Metropolitana de Natal, o Governo do Rio Grande do Norte prorrogou a quarentena por mais 15 dias. A governadora Fátima Bezerra (PT) estabeleceu, via Decreto Nº 29.742/2020, regras mais duras de isolamento social e determinou, com apoio da força policial, o fechamento de empreendimentos listados como não essenciais — entre os quais estão barbearias, salões de beleza e lojas de roupas.

A baixa adesão ao isolamento social no Estado, que no dia 4 de junho era a segunda menor do Nordeste, em 39,4%, forçou o governo a prorrogar e endurecer as normas de distanciamento social. Na região, a menor taxa fica com Sergipe, com 37,7%. A mais alta, com o Ceará, com 42,3%, que soma o maior número de mortes no Nordeste.

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O novo conjunto de normas institui uma espécie de isolamento vertical. No Artigo 7º, consta que "os idosos e as demais pessoas enquadradas no grupo de risco da covid-19 se sujeitarão a um dever especial de proteção, não podendo circular em espaços e vias públicas, ou em espaços e vias privadas equiparadas a vias públicas, exceto, com o uso obrigatório de máscaras de proteção". No Artigo 8º,"fica estabelecido o dever geral de permanência domiciliar". As saídas consideradas de extrema necessidade, como idas ao supermercado, farmácias e bancos estão autorizadas com o uso de máscara de proteção individual.

Em coletiva de imprensa por videoconferência nesta quinta-feira, 4, Fátima Bezerra negou que o novo decreto institua um lockdown. Para muitos, o documento é considerado o mais rígido já editado pelo Governo do Estado para o combate à pandemia do novo coronavírus. "Nossa gestão encontrou um Sistema Único de Saúde colapsado. Estamos fazendo todo o esforço para garantir que todos os potiguares tenham acesso à saúde e sejam atendidos. Estamos mergulhados em uma crise sanitária, econômica e política em nível nacional que gerou dificuldades aos gestores municipais e estaduais para enfrentarem essa pandemia", disse a governadora.

O sistema de saúde público do Rio Grande do Norte montado para a crise da covid-19 está muito próximo do colapso. Conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde Pùblica (Sesap/RN), existem 123 pacientes à espera de um leito. Eles se dividem em quatro categorias de prioridade, do número 1 ao 4, sendo: 4 pacientes em prioridade 1 (leito de UTI); 43 em prioridade 2 (leito de Unidade de Cuidado Intensivo); 74 em prioridade 3 (leito de enfermaria) e 2 listados como prioridade 4 (outras). Dos 212 leitos específicos para o tratamento do novo coronavírus no Estado, 164 estão ocupados; 30 bloqueados e 17 disponíveis. Essa disponibilização, porém, é rapidamente preenchida, a depender do Sistema de Regulação da Sesap/RN.

Impactos na economia

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio Grande do Norte (Fecomércio RN), Marcelo Queiroz, disse em evento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), por videoconferência, que por causa do decreto do Governo do Estado que permite a abertura somente dos estabelecimentos considerados essenciais, cerca de 46 mil empresas do comércio varejista deixaram de faturar R$ 160 milhões no Estado. O setor demitiu quase seis mil trabalhadores somente em abril, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) - 65% do total de demissões no RN durante a pandemia.

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"Na nossa opinião, havia espaço, agora, para darmos início ao Plano de Retomada Gradual da Atividade Econômica, que apresentamento ao Governo, até porque se trata de um conjunto de ações transversais e regras de convívio que permitiria trazermos isso com toda a segurança e responsabilidade que o momento exige. No entanto, claro, nós respeitamos a decisão da governadora, até porque é o Governo do Estado que dispõe da visão macro do que está acontecendo, de todos os números e inclusive, conhece a fundo o seu próprio planejamento de enfrentamento da doença", frisou Marcelo Queiroz.

Caso a ocupação dos leitos críticos específicos para o tratamento da infecção pelo novo coronavírus recue para 70%, a reabertura da atividade comercial se dará a partir do próximo dia 17 de junho.

Até o dia 16, porém, a professora e barbeira Flávia Souza não poderá receber seus clientes. Dona de uma barbearia num bairro nobre da zona Leste de Natal, ela sentiu no bolso o peso do isolamento social. Entre março e abril, o faturamento caiu 70%. Em maio, quando o empreendimento reabriu a partir do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), houve uma melhora. "Mas ainda não foi suficiente para recompor as perdas. Eu reduzi o número de barbeiros pela metade, suspendi o contrato da auxiliar de serviços gerais e cortei todas as despesas possíveis. Estávamos trabalhando sem o ar condicionado ligado, inclusive. Esse novo decreto do Governo do RN é terrível. Para não fechar a barbearia, vou ter que pedir empréstimo ao banco", lamentou a empresária.

Força policial

Nesta quinta-feira, 4, dezenas de policiais militares se dividiram pelas ruas de um dos mais tradicionais bairros de comércio de rua de Natal, o Alecrim, na zona Leste. Os militares orientaram os comerciantes, principalmente os camelôs, a encerrarem os atendimentos e fecharem os estabelecimentos em atendimento ao decreto estadual. Houve princípio de tumulto, mas ninguém se feriu ou foi preso. As lojas foram fechadas ainda com os policiais militares por perto. Nesta sexta-feira, 5, a maioria delas reabriu e não houve fiscalização por parte do Estado.

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