À CPI, Pazuello diz que "se antecipou" à crise em Manaus

Ex-ministro atribuiu a piora da situação no Amazonas devido a nova variante e ao colapso do sistema de saúde

19 mai 2021 - 11h05
(atualizado às 17h08)
Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello fala na CPI da Covid
Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello fala na CPI da Covid
Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

Episódio que provocou a abertura de um inquérito em que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello é investigado, a crise vivida pelo Amazonas no início do ano também foi comentada por Pazuello em sua fala inicial à CPI da Covid, assim como a compra de vacinas contra a covid-19 - outro ponto alvo de críticas da gestão do general.

Segundo ele, o que aconteceu em Manaus foi a conjunção de dois fatores: surgimento de uma "nova e mais agressiva" variante do vírus e o colapso da rede de saúde. "O que resultou em milhares de mortes em curto espaço de tempo", disse ele.

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Pazuello buscou fazer uma defesa de sua atuação no caso, afirmando que ainda em dezembro "se antecipou" à crise, quando foram deslocados integrantes da Saúde para o local. "Prestamos todo o apoio possível", afirmou. "Crise de Manaus nos fez montar a maior operação de logística da história".

Ministro irrita senadores ao falar de oxigênio

No depoimento à CPI, Pazuello afirmou que só soube do risco de abastecimento de oxigênio em Manaus no dia 10 de janeiro à noite, em reunião com o governador do Estado e secretários. A data em que o Ministério foi informado sobre o problema no Amazonas faz parte de um imbróglio de versões. A atuação do ex-ministro no caso é investigada em inquérito.

Em fevereiro, à Polícia Federal, o ex-ministro mudou a versão do governo e disse que não soube do colapso no fornecimento de oxigênio no dia 8 de janeiro, como a Advocacia-Geral da União (AGU) havia informado ao Supremo Tribunal Federal (STF) anteriormente.

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Por outro lado, Pazuello também disse à CPI que no dia 8 de janeiro já se iniciou o transporte aéreo de oxigênio para Manaus. "Todas as ofertas de entrega de oxigênio, eu aceitei todas". "Demanda da White Martins só entrou na lógica do que estava sendo feito", respondeu o ex-ministro sobre a demanda feita pela empresa, alegando ainda que demonstrou interesse no avião ofertado pelos Estados Unidos para transportar oxigênio.

A sessão precisou ser suspensa enquanto o assunto era discutido, em razão de um bate-boca envolvendo o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM)

"Medidas possíveis a partir do dia 10 foram executadas para Manaus", disse Pazuello. "O assunto é muito profundo, claro que ações proativas precoces trazem resultados melhores. Em tese, qualquer coisa tratada com precocidade traz respostas melhores", respondeu Pazuello ao relator Renan Calheiros (MDB-AL), afirmando ainda que o senador estava fazendo "suposições" sobre a demora de reação do governo.

O clima na CPI ainda esquentou entre o ex-ministro e o senador Eduardo Braga, depois de Pazuello afirmar que foram apenas três dias de desabastecimento de oxigênio no Amazonas. "Em 4 ou 5 dias, já estávamos com nível de estoque restabelecidos. Tivemos três dias onde aconteceram as maiores dificuldades", afirmou.

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Braga então rebateu ao ex-ministro dizendo que a crise de desabastecimento durou 20 dias, e não três. "Não faltou oxigênio no Amazonas em apenas três dias. Faltou oxigênio por mais de 20 dias. É só ver o número de mortos, é só ver o desespero das pessoas. Não é possível", afirmou o senador.

Ciência sobre a crise

Mais tarde, Eduardo Pazuello voltou a dizer que só foi informado sobre os problemas de fornecimento de oxigênio em Manaus no dia 10 de janeiro. No entanto, ao tentar fazer novamente um esclarecimento sobre o assunto, Pazuello lembrou que, no dia 7 de janeiro, o secretário de Saúde do Estado ligou para ele, em seu telefone pessoal, para pedir ajuda no transporte de cilindros de oxigênio de Belém para Manaus, que iriam para o interior do Amazonas.

Apesar disso, o ex-ministro afirmou que somente no dia 10 foi colocado a ele de "forma clara" sobre a crise.

O ex-ministro disse à CPI que ficou com medo de estar "fazendo demais", em referência ao fato de ter transferido seu gabinete para Manaus na ocasião. "Alguém pega seis secretários de saúde e embarca num avião para Manaus. Fiquei com medo de estar prevaricando, fazendo demais, não sabia nem o que eu ia encontrar em Manaus. E no dia 10 foi a primeira vez que secretário colocou de forma clara que havia problemas na logística e fornecimento de oxigênio para Manaus", disse Pazuello.

O ex-ministro alegou ainda que seus "olhos estavam sobre Manaus" desde o dia 28 de dezembro. Segundo ele, após o secretário estadual ligar a ele no dia 7 para pedir ajuda no transporte de cilindros, ele contatou o Ministro da Defesa e pediu que o auxílio fosse prestado.

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Com isso, o transporte teria começado a ser feito no dia 8 de janeiro, de acordo com Pazuello. "Em momento algum, foi feita qualquer observação sobre colapso de oxigênio (antes do dia 10). No dia 8, determinei que fôssemos a Manaus, não pela falta de oxigênio, mas pelo colapso na rede de atendimento, embarcamos no dia 10 e fui direto para reunião", disse o ex-ministro.

Vacinas 

Sobre a compra de imunizantes, Pazuello alegou que, antes de se falar em vacinas, o governo já estaria "agindo de forma rápida".

Os depoimentos já realizados à CPI mostraram que o governo deixou sem resposta propostas apresentadas pela Pfizer desde agosto do ano passado, fechando o primeiro contrato apenas em março deste ano. "Estávamos em contato com todos os fabricantes de vacinas em desenvolvimento no mundo, iniciamos com 16 prospecções mais adiantadas", disse o ex-ministro, segundo quem as primeiras conversas aconteceram com a Moderna, a Pfizer e AstraZeneca.

De acordo com o ex-ministro, o governo optou pela tecnologia que pudesse ser transferida ao Brasil, para produção nacional em detrimento da compra direta. "Esse trabalho nos permitiu alcançar números que vão além do que estamos pensando hoje", afirmou.

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"Falamos ainda no final de setembro em termos encomenda tecnológica que chegaria a quase 200 milhões de doses, e acordos com Covax que nos dariam 42 milhões de doses. Na sequência das discussões conseguimos fazer acordos que nos levaram a mais de 200 milhões de doses até o fim do ano e a partir de janeiro, com adequações da lei, conseguimos contratações finais chegando até março com contratação da Pfizer, nos levando a próximo de 550 milhões de doses", disse.

Pazuello afirmou ainda que foi "acolhido" por especialistas no Ministério da Saúde e que sua experiência no Exército colaborou para montar uma estratégia de combate à pandemia na pasta. "Pandemia serviu para escancarar problemas enfrentados no sistema de saúde. Espero que pandemia sirva de ponto de inflexão para que gestores defendam a Constituição. Espero que gestores públicos defendam a saúde quando holofotes apagarem", disse.

Experiência na saúde

O ex-ministro Eduardo Pazuello voltou a destacar, na CPI, sua experiência militar com algo que lhe conferia qualificações para ocupar, à época, a secretaria-executiva do Ministério da Saúde.

De acordo com o ex-ministro, quando comandou a 12° região militar de Manaus, ele tinha cinco hospitais sob sua guarda. "toda a saúde de 30 mil homens estavam sob a minha responsabilidade", afirmou, e voltou a destacar sua atuação na Operação Acolhida, em Roraima, onde, segundo ele, era de sua responsabilidade toda a saúde de mais de 600 mil venezuelanos, considerando que essas experiência o tornavam apto de ocupar o cargo na Saúde, destacando ainda que nem sempre o comando da Pasta foi conferido a pessoas com experiência na área.

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Pazuello admitiu, no entanto, que o desenho inicial feito pelo presidente Jair Bolsonaro, com o ex-ministro Nelson Teich à frente do Ministério e com ele como segundo no comando, seria "a melhor coisa que a gente poderia ter tido".

Pazuello também afirmou que em sua primeira conversa com Teich, ele reforçou que com relação a parte "finalística", se referindo às secretarias, ele não teria como ajudar, por ser uma área que ainda precisaria aprender como atuar, se propondo a tocar a parte logística do Ministério.

O ex-ministro também destacou que durante sua gestão como secretário da Saúde, a pandemia estava em um momento em que era necessário conhecimento logístico devido a necessidade de entrega de equipamento, insumos e o acompanhamento de recursos, destacando que sua primeira medida a frente da secretaria foi centralizar o centro de operações de emergência, além do fornecimento de respiradores para todos os Estados e municípios que precisavam do equipamento.

* Com informações do Estadão Conteúdo

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Fonte: Redação Terra
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